Tragédia, de acordo com qualquer dicionário de português, é um evento que ocorre devido a causas naturais. O que aconteceu em 25 de janeiro de 2015 – rompimento da barragem B1 da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho –, portanto, não foi uma tragédia, mas um desastre provocado pela negligência dos gestores da mineradora Vale. Um crime.
Este foi um dos maiores desastres socioambientais da história do país que matou, oficialmente, 270 pessoas (familiares contabilizam 272 vítimas por haver duas mulheres grávidas entre as vítimas) e varreu a cidade com 12 milhões de m³ de lama tóxica de rejeitos de mineração, que inundou o rio Doce – até hoje, inutilizado – e chegou ao Oceano Atlântico, no litoral do Espírito Santo.
Para que esse crime jamais seja esquecido, nem todos que perderam suas vidas, no último sábado (25) foi inaugurado o Memorial Brumadinho, no local do rompimento da barragem, que será administrado pelas famílias das vítimas por meio da Fundação Memorial de Brumadinho.
Corredor ao ar livre que liga a escultura-monumento à queda d’água e onde estão
gravados os nomes das 270/2 vítimas da mineradora Vale em Brumadinho
Fotos (acima e abaixo): divulgação
Luto privado e coletivo
Com projeto do arquiteto e urbanista Gustavo Penna (como contamos aqui, em agosto de 2020), a obra é composta por um pavilhão com homenagem às vítimas (os nomes estão gravado nas paredes da memória (acima), áreas de exposição (abaixo)…
…por um espaço meditativo, por uma drusa de cristais (que estão posicionados de forma que, em todo 25 de janeiro, no exato momento do rompimento (12h28), a luz que adentra por uma fresta na escultura-monumento ilumina-a completamente) e um espaço onde estão guardados “restos mortais e segmentos corpóreos” das vítimas.
Na parte externa, uma escultura-monumento e um bosque onde foram plantados 270 ipês amarelos, um em homenagem a cada vítima.
Para receber os visitantes, versos da poeta mineira Adélia Prado: “O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível”. Dentro do espaço, há uma fenda que aponta para o local onde a barragem se rompeu.
A idealização do memorial teve início em 2019 e seguiu com um pedido ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para que a Vale arcasse com os custos da construção do Parque Memorial.
No texto de apresentação do projeto, o grupo de Gustavo Penna declarou que tinha “o desafio de moldar um espaço sólido que servisse de abrigo, para evitar o esquecimento da brutalidade da tragédia” [desastre] “e, ao mesmo tempo, possibilitar um ambiente adequado ao luto privado e coletivo”.
Inauguração e visitação
A inauguração estava prevista para 25 de janeiro de 2023, no entanto, divergências em relação à gestão do espaço adiaram a data.
Somente nesse ano – três após o projeto aprovado – é que a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais (AVABRUM) e a mineradora assinaram Termo de Compromisso, com o apoio do MPMG, que ajudou na criação da fundação, responsável por manter e gerir o memorial.
Na ocasião do impasse, Maria Regina da Silva, 58, diretora da associação e mãe de Priscila Ellen, uma das vítimas do rompimento da barragem, contou que a intenção das famílias era criar uma fundação para gerir o memorial, com aporte financeiro da Vale, mas sem interferência da empresa. “Queremos que a gestão tenha o olhar da Avabrum. Este não é o memorial da Vale, mas às vítimas que ela fez”.
No dia da inauguração, Fabíola Moulin, presidente da fundação declarou: “Este é um espaço que não guarda só restos mortais e segmentos corpóreos, mas mostra quem são essas pessoas, que dá cara, voz, dignifica, humaniza e faz com que eles sejam muito mais do que números de uma tragédia” [desastre] “e passem a ser [considerados] seres humanos”.
O memorial abrirá para visitação a partir de 29/1, de quarta à sexta-feira das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados das 9h30 às 17h30 , com entrada gratuita.
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Foto: Leo Drumond / Nitro Imagens
Com informações do Memorial Brumadinho, Instituto Camila e Luiz Taliberti e G1