Sem dúvida nenhuma o assunto central nessa Conferência das Mudanças Climáticas da ONU, a COP28, que acontece em Dubai – são os combustíveis fósseis. Uma ironia gigantesca, já que o encontro é realizado num dos países que mais produzem no mundo esse produto poluente e principal responsável pelo aquecimento global.
No domingo (03/12), jovens brasileiros da organização Engajamundo, com a parceria do Greenpeace Brasil, organizaram um protesto na conferência contra a polêmica exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas que está sendo estudada pela Petrobras, e conta com o apoio do presidente Lula, mas vai contra o parecer dos técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama).
Vestidos com uniformes brancos todos sujos de petróleo, os manifestantes levaram para a COP28 um boto inflável gigante*, sujo de óleo, e ao lado de indígenas, seguravam cartazes pedindo pela “Amazônia livre de petróleo”.
A manifestação “Boto Alerta: Queremos nadar na água, não no petróleo!” na COP28
(Foto: © Engajamundo)
Segundo o Engajamundo, a ação intitulada “Boto Alerta: Queremos nadar na água, não no petróleo!”, quer chamar a atenção sobre as consequências da crise climática para a fauna amazônica, a exemplo da seca severa de outubro e novembro – quando mais de 200 botos morreram -, e os potenciais danos de um eventual vazamento de petróleo para o meio ambiente.
“Esses jovens ativistas dão um recado importante: não há futuro virtuoso para a Amazônia com o avanço do petróleo na região. A abertura dessa nova fronteira pode ficar marcada como o pior legado socioambiental do presidente Lula. É preciso que o governo cumpra com o que prometeu e defenda a Amazônia, seus povos e enfrente a crise climática de forma responsável”, afirma Marcelo Laterman, porta-voz do Greenpeace Brasil.
Brasil está sendo criticado pela contradição entre o discurso e o que faz na prática
(Foto: © Engajamundo)
A manifestação ocorre num momento em que, apesar do discurso pela conservação das florestas, o governo brasileiro foi criticado por aceitar o convite a entrar na Opep+, um grupo ligado à Organização dos Países Exportadores de Petróleo.
Além disso, o Ministério das Minas e Energia irá leiloar 603 novos blocos de petróleo, em 13 de dezembro, apenas um dia depois do término da COP28.
De acordo com a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG), entre 2012 e 2020 o número de campos petrolíferos na Amazônia aumentou em 13%.
Por causa dessa incoerência entre o discurso e a realidade, o Brasil recebeu hoje em Dubai o antiprêmio Fóssil do Dia, oferecido pela Climate Action Network (CAN) – Rede de Acão pelo Clima, que elege, todos os dias durante as COPs, os países que prejudicam o meio ambiente e se comportam mal durante as negociações, impedindo que avancem e, muitas vezes, alegando que fizeram “o melhor” que podiam.
*O boto inflável da ação foi feito pelo artista Gil Reais. A obra se intitula “Desencanto”. O artista participa de projetos que discutem a emergência climática e como isso afasta a encantaria do mundo, sendo um dos exemplos disso a morte dos botos.
Foto de abertura: COP28 / Neville Hopwood