
Em uma decisão inédita, resultado de uma votação realizada recentemente durante o Congresso Internacional de Botânica, em Madri, mais de 300 nomes de plantas, fungos e algas sofrerão uma mudança em seus nomes científicos e deixarão pra trás um termo com conotação racista, caffra – também escrito como kaffer or keffir –, usado para discriminar a população negra no período do apartheid, na África do Sul.
Através de uma votação secreta, 63% dos botânicos presentes no encontro votaram pela remoção da letra “c” de caffra e a utilização apenas de affra, relacionada ao continente africano. A partir de agora, por exemplo, a espécie de árvore até então chamada de Protea caffra, que aparece na imagem acima, passará a ser chamada de Protea affra.
A proposta para a mudança dos nomes foi feita por dois taxonomistas de plantas, Gideon Smith e Estrela Figueiredo, pesquisadores da Universidade Nelson Mandela, que há anos fazem campanha pela alteração de nomes ofensivos dados no passado a animais e plantas.
“Expressamos a nossa gratidão aos colegas de todo o mundo que apoiaram os nossos esforços para livrar a nomenclatura botânica de uma injúria racial desprezível”, disse Smith em entrevista à Science.
Os botânicos reunidos no evento na Espanha também apoiaram a formação de um comitê para a análise de possíveis nomes polêmicos escolhidos para futuras novas plantas a serem descobertas.
No mundo todo há um movimento que defende a renomeação de nomes de animais, plantas ou lugares ligados a termos ou personalidades que não merecem ser reverenciados por sua atuação, muito pelo contrário. Em 2023, a Birdlife Australia anunciou que a belíssima cacatua cor-de-rosa seria rebatizada e deixaria para trás um infeliz nome ligado ao extermínio de indígenas. Na década de 70 ela recebeu o nome de Thomas Mitchell, um explorador sanguinário. O objetivo da entidade era que a ave deixasse de ter qualquer associação com aquele período nefasto da história do país.
Já em 2021, uma das mais respeitadas sociedades de conservação ambiental dos Estados Unidos também mudou de nome devido ao passado escravagista de seu fundador. John Audubon não era apenas contra a abolição da escravatura, como também pregava a superioridade de brancos sobre negros e indígenas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a Sociedade Americana de Ornitologia (AOS) divulgou no ano passado uma nota há informando que centenas de aves “nomeadas diretamente após pessoas (epônimos), juntamente com outros nomes considerados ofensivos e excludentes” seriam rebatizadas. A alteração foi feita em nomes em inglês referentes a espécies observadas nos Estados Unidos e no Canadá. Entretanto, nesses casos, os nomes científicos não foram afetados.
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Foto de abertura: SAplants, CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons