Há poucos meses, a União Real de Ornitólogos da Austrália (antiga Birdlife Australia) anunciou que a belíssima cacatua cor-de-rosa seria rebatizada e deixaria para trás um infeliz nome ligado ao extermínio de indígenas. Na década de 70 ela recebeu o nome de Thomas Mitchell, um explorador sanguinário. O objetivo da entidade era que a ave deixasse de ter qualquer associação com aquele período nefasto da história do país.
Já em 2021, uma das mais respeitadas sociedades de conservação ambiental dos Estados Unidos também mudou de nome devido ao passado escravagista de seu fundador. John Audubon não era apenas contra a abolição da escravatura, como também pregava a superioridade de brancos sobre negros e indígenas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, a Sociedade Americana de Ornitologia (AOS) divulgou uma nota há poucos dias informando que centenas de aves “nomeadas diretamente após pessoas (epônimos), juntamente com outros nomes considerados ofensivos e excludentes” serão rebatizadas. A alteração será feita em nomes em inglês referentes a espécies observadas nos Estados Unidos e no Canadá. Entretanto, os nomes científicos não serão afetados.
As mudanças começarão a ser feitas no início de 2024 com aproximadamente 70 a 80 espécies. Os novos nomes serão escolhidos por representantes de comitês, que incluirão indivíduos com experiência em ciências sociais, comunicações, ornitologia e taxonomia. Além disso, pretende-se também convidar membros da sociedade a participar da renomeações.
A ideia é que os nomes estejam relacionados com as características das aves e o local onde elas habitam e não com pessoas aleatórias como a duquesa francesa Anne d’Essling, escolhida para batizar o beija-flor-de-cabeça-magenta ou beija-flor-de-anna (Calypte anna), na foto em destaque nesta reportagem.
“Há poder num nome, e alguns nomes de pássaros em inglês têm associações com o passado que continuam a ser excludentes e prejudiciais hoje. Precisamos de um processo científico muito mais inclusivo e envolvente que concentre a atenção nas características únicas e na beleza das próprias aves”, diz Colleen Handel, presidente da Sociedade Americana de Ornitologia.
“Como cientistas, trabalhamos para eliminar preconceitos na ciência. Mas tem havido um preconceito histórico na forma como os pássaros são nomeados e quem pode ter um pássaro nomeado em sua homenagem. As convenções de nomenclatura excludentes desenvolvidas em 1800, obscurecidas pelo racismo e pela misoginia, não funcionam para nós hoje, e chegou a hora de transformarmos esse processo e redirecionarmos o foco para os pássaros, onde ele pertence”, ressalta Judith Scarl, diretora executiva e CEO da AOS.
Foto de abertura: Becky Matsubara from El Sobrante, California, CC BY 2.0 via Wikimedia Commons