O artista e curador macuxi, Jaider Esbell – da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima – partiu aos 42 anos, no auge do reconhecimento como artista, curador e estudioso (contamos aqui). Ele era um dos maiores artistas indígenas brasileiros e um dos mais consistentes teóricos da arte indígena do país, que buscou na ancestralidade e na espiritualidade a força para criar e se posicionar.
Desprezava os sistemas artísticos hegemônicos (europeus, em especial) e elaborava uma conceituação do sistema indígena para refutá-los e às estratégias de colonização na arte. Como bem definiu o jornalista Jotabê Medeiros: parecia estar sempre “no front, pronto para o combate”.
O artista deixou um legado rico de obras e reflexões que podem inspirar ideias que deem continuidade à sua luta, que ainda se estendia ao trabalho desenvolvido junto à Universidade Federal de Roraima (UFRR), com seus estudantes de artes visuais. Não foram poucos os alunos que passaram por seu ateliê, como estagiários. Todos o conheciam e admiravam.
O título
Em reconhecimento à sua contribuição artística, intelectual e de luta pelos direitos dos povos indígenas – e também à sua generosidade com os jovens -, esta semana (20/8), a UFRR concedeu a Jaider Esbell o título de Doutor Honoris Causa (pós-mortem), que foi entregue a representantes da família durante a cerimônia que integrou o V Congresso Internacional Mundos Indígenas, América (COIMI). O artista indígena Gustavo Caboco participou do encontro com palestra e workshop.
O título é concedido pelo Conselho Universitário (CUni) a “personalidades eminentes que tenham contribuído, de maneira notável, para o progresso da Universidade, da região ou do país ou que tenham se distinguido, de forma excepcional, pela sua atuação em favor das ciências, das letras, das artes ou da cultura em geral”.
A indicação de Jaider foi proposta por Ivete Souza da Silva, professora do Curso de Artes Visuais da UFRR. Em seguida, acolhida pelo Conselho do departamento do curso e, depois, enviada para a Comissão Especial, que é instancia que dá o aceite final à solicitação. A concessão do título foi aprovada em 26 de junho, durante reunião do CUni, e publicada em 2 de agosto.
Para José Geraldo Ticianeli, reitor e professor da UFRR, “conceder o título de Doutor Honoris Causa a Jaider Esbell não só celebra sua arte e sua história, mas também reforça o compromisso da nossa universidade com a valorização das culturas indígenas e a promoção da justiça social”.
Celebrações
Como parte da programação que celebra Jaider Esbell, sua obra Entidades – concebida em 2020 para “enfeitar”, temporariamente, os arcos do Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte –, foi instalada no pórtico da universidade.
A obra é uma escultura inflável formada por duas serpentes de 17 metros de comprimento e 1,5 metro de diâmetro cada, que ficou em exibição por 30 dias durante o festival de arte CURA, em Belo Horizonte.
Em agosto de 2023, com a edição amazonense do CURA, a obra de Jaider foi parar na fachada do Teatro Amazonas, em Manaus. Agora, fica em exibição permanente na UFRR.
No dia seguinte (21) à entrega do título, mais uma celebração: a Galeria Jaider Esbell – que detém seu espolio artístico e representa outros artistas – foi reaberta em novo endereço em Boa Vista. Ela foi fundada por ele em 2013 com o intuito de fomentar a produção e a visibilidade da arte indígena. Hoje, a galeria é importante polo de articulação cultural na região.
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Foto: Itau Cultural/divulgação
Com informações da UFRR e da Galeria Milan
JAIDER DEVERIA ESTAR AQUI E VER O MUNDO ACADEMICO SE RENDER À GRANDEZA DE SEU TALENTO