Hoje, este foi dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Para celebrar o Dia do Agricultor, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal usou uma foto de um jagunço, portando um rifle.
Claramente, a publicação não homenageia o pequeno agricultor (ressalta o Plano Safra, isso sim!), que é quem, de fato, coloca alimento na mesa dos brasileiros já que a maioria dos empresários do setor desmata e exporta grãos. Com mais um detalhe: sem veneno!!
No post divulgado em suas redes sociais, a Secom traduziu a visão equivocada e perigosa do governo sobre o trabalho no campo e exaltou o conflito. Foi uma homenagem às milícias rurais, que promovem a violência. Uma mensagem subliminar ou declarada, de acordo a visão de quem lê/vê o post. Um acinte!
Paz no campo e comida no prato!
A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) declarou-se contra a atitude do governo ao divulgar manifesto de “repúdio à campanha de ódio e violência no campo propagada pela Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República, em seu intento de tumultuar a celebração deste 28 de julho, Dia do Agricultor e da Agricultora no Brasil”.
O texto ressalta que, ao utilizar a “imagem de um caçador portando uma espingarda em savana africana” – sim, a Secom comprou de um banco de imagens pagas, a foto utilizada no post – “o Governo Federal demonstra mais uma vez seu desconhecimento da realidade da agricultura familiar no Brasil, marcada pela solidariedade, generosidade e dedicação para prover alimentos de verdade para as famílias brasileiras”.
O movimento ainda destaca e rechaça “o simbolismo armamentista promovido pelo Governo Federal nas áreas rurais do país” e conclama a sociedade “a se posicionar em favor da agricultura familiar e camponesa e da agroecologia. Paz no campo e comida no prato!”.
O manifesto na íntegra está publicado no site da Articulação.
Posts apagados
Enquanto escrevia este texto, a Secom apagou os posts nas redes sociais. Quem não deve, não teme, né? Abaixo, reproduzo as imagens que salvei, do Instagram e do Twitter.
Bolsonaro X agricultora familiar
No ano passado, o país foi palco do maior número de conflitos no campo desde 1985. De acordo com o Caderno de Conflitos da Comissão Pastoral da Terra CPT, foram registradas 2.054 ocorrências desse tipo, que envolveram quase 1 milhão de pessoas.
A campanha do governo para marcar o Dia do Agricultor, portanto, está em consonância com sua postura adotada contra os agricultores familiares na pandemia: logo no início, eles não foram incluídos na lista de quem receberia o auxilio emergencial.
Só depois de muita luta, parlamentares de oposição conseguiram aprovar o Projeto de Lei 735/2020, na Câmara e no Senado. Mas, em setembro de 2020, o projeto foi vetado por Bolsonaro.
A campanha da Secom faz todo sentido num país liderado por um governo que é apoiado por quem demoniza o MST (Movimento dos Sem Terra), inventando mentiras que deslegitimam e desvalorizam o movimento dos agricultores que produz comida sem veneno em terras improdutivas, que é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina e tem realizado ações para o combate à fome na pandemia.
A imagem abaixo, sim, representa o agricultor familiar que tanto queremos homenagear neste dia. Ela foi registrada pela fotógrafa Marizilda Cruppe para o Greenpeace e publicada aqui, no Conexão Planeta, para ilustrar a reportagem Agricultura familiar: a solução para os nossos pepinos, de 2019.
Em todos os sentidos, a campanha da Secom representa total falta de respeito para com os verdadeiros agricultores do país e para com os brasileiros. Inclusive os que votaram em Bolsonaro.
Foto (destaque): Reprodução do Instagram