MST doa 12 toneladas de arroz orgânico para ajudar a combater a fome no RS durante a pandemia do coronavírus

Como disse o escritor Yuval Harari, autor do best-seller Sapiens, em entrevista ao jornal Financial Times em março, a pandemia do coronavírus é um grande teste global de cidadania e as escolhas que fizermos agora mudarão nossas vidas nos próximos anos. Na verdade, é o que temos visto acontecer a cada dia, por intermédio de nossas redes sociais ou dos noticiários, que não se limitam ao sofrimento, nem à quantidade de contaminados e de mortos.

O saldo da passagem da COVID-19 pelo mundo deixará um rastro imenso de solidariedade. É isso que têm mostrado as famílias de assentados e acampados de norte a sul do Brasil, que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Alguns foram acometidos pela COVID-19 e outros fazem parte do grupo de risco, portanto, estão afastados de suas atividades. Mas boa parte dos que permanecem saudáveis não atenderam ao chamado para o isolamento: não podem parar. Estão dedicados ao plantio, à colheita e à comercialização de alimentos para garantir seu sustento – o dos colegas acamados e suas famílias -, além do acesso dos brasileiros a alimentos saudáveis neste período tão delicado do país.

Mas os trabalhadores e trabalhadoras do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico do MST do Rio Grande do Sul foram além: destinaram uma tonelada de arroz para doação às pessoas vulneráveis social e financeiramente.

A ação integra a campanha organizada pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do RS (Consea) e pelo Comitê Gaúcho de Emergência no Combate à Fome, organizada por diversos setores do estado. Nesta primeira fase, atende os bairros Lomba do Pinheiro e Vila Cruzeiro, em Porto Alegre, e Santa Isabel, em Viamão, com kits que, além do arroz do MST, são compostos por feijão, farinha, massa, azeite e detergente.

“Neste momento tão difícil, de pandemia de coronavírus e de estiagem, todos precisam doar um pouco de si para que possamos passar por isso”, conta Emerson Giacomelli, coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico. E Sidnei Santos, da direção estadual do MST/RS completa: “Muitos trabalhadores estão impossibilitados de exercerem suas atividades produtivas, em função da pandemia, o que leva à redução de renda e impossibilidade de compra de alimentos. Portanto, essa doação expressa a solidariedade dos assentados e significa repartir aquilo que temos”.

MST pode ser incluído em programa de aquisição de alimentos do RS

No Rio Grande do Sul, a produção de arroz orgânico do MST abrange 14 assentamentos da Reforma Agrária situados em 11 municípios. Os que ficam na região metropolitana são os que produzem a maior parte do arroz, sendo que o Assentamento Filhos de Sepé é o que tem a maior área plantada – 1.150 hectares – e 124 famílias envolvidas.

Sua participação na campanha contra a fome começou a ser articulada no final de março, quando o deputado estadual Edegar Pretto (PT) fez um pedido – com o apoio do Executivo – para que o governo gaúcho adquirisse produtos dos assentamentos (qualidade por bom preço) para que fossem distribuídos às famílias que já estavam passando fome devido ao isolamento causado pela pandemia.

A intenção é que o estado passe a adquirir produtos do MST por intermédio do Programa de Aquisição de Alimentos (PPA). O governo ainda não respondeu, mas, de acordo com o movimento, há sinais positivos para que isso aconteça.

produção do arroz orgânico pelo movimento já tem mais de 20 anos e o transformou no maior produtor da América Latina. E, de acordo com Santos, a maioria das cooperativas já atendia escolas estaduais e municipais, por meio de programas de compras institucionais.

Foto: Leandro Molina / Divulgação MST

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.