O continente gelado onde só podiam ser vistas enormes extensões de gelo no passado está se tornando cada vez mais verde. O alerta vem de um novo estudo, publicado nesta sexta-feira (04/10) no jornal Nature Geoscience. Pesquisadores das Universidades de Exeter e Hertfordshire e do British Antarctic Survey revelam que a cobertura de vegetação na Península Antártica está crescendo como nunca antes registrado.
Usando imagens de satélite, os cientistas descobriram que a área coberta por vegetação na Antártica aumentou de menos de um quilômetro quadrado em 1986 para quase 12 quilômetros quadrados em 2021. A análise aponta ainda que esse crescimento se acelerou em anos recentes, a partir de 2016.
“As plantas que encontramos na Península Antártica, principalmente musgos, crescem talvez nas condições mais severas da Terra”, explica Thomas Roland, pesquisador da Universidade de Exeter. “A paisagem ainda é quase inteiramente dominada por neve, gelo e rocha, com apenas uma pequena fração colonizada por vida vegetal. Mas essa pequena fração cresceu dramaticamente, mostrando que mesmo essa vasta e isolada ‘região selvagem’ está sendo afetada pela mudança climática antropogênica.”
Cientistas já tinham alertado anteriormente que os polos do planeta são as regiões mais impactadas pelo aquecimento global. A temperatura no Ártico, por exemplo, está entre 20oC e 30oC acima do normal, revelou um estudo da Agência Americana de Oceanos e Atmosfera (NOAA), em 2018.
Há dois anos, outra anomalia climática ganhou as manchetes internacionais quando a Antártica registrou 40 graus acima da média para o mês de março, e no Ártico, termômetros marcaram mais de 30 graus do normal para aquela época do ano.
“À medida que esses ecossistemas se tornam mais estabelecidos, e o clima continua a esquentar, é provável que a extensão do esverdeamento aumente. O solo na Antártida é, em sua maioria, pobre ou inexistente, mas esse aumento na vida vegetal adicionará matéria orgânica e facilitará a formação do solo, potencialmente abrindo caminho para o crescimento de outras plantas”, afirma Olly Bartlett, pesquisador da Universidade de Hertfordshire. “Isso aumenta o risco de espécies não nativas e invasoras chegarem, possivelmente trazidas por ecoturistas, cientistas ou outros visitantes ao continente.”
Os autores do artigo advertem ainda que a mudança na vegetação da Antártica pode impactar a biologia e vida da fauna no continente. Por isso mesmo, eles ressaltam que é urgente que se entenda melhor essa dinâmica.
“Nossas descobertas levantam sérias preocupações sobre o futuro ambiental da Península Antártica e do continente como um todo. Para proteger a Antártica, precisamos entender essas mudanças e identificar precisamente o que as está causando”, diz Roland.
*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação da Universidade de Exeter
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Foto de abertura: Matt Amesbury