Empresários cobram ações do governo contra o desmatamento e alertam sobre péssima imagem do Brasil no exterior

Empresários cobram ações do governo contra o desmatamento e alertam sobre péssima imagem do Brasil no exterior

Primeiro foram os investidores e as empresas internacionais, agora são também as brasileiras. CEOs de cerca de 40 companhias e grupos dos setores industrial, agrícola e de serviços, além de quatro organizações empresariais enviaram hoje uma carta ao Executivo, Legislativo e Judiciário, incluindo aí a Vice-Presidência da República e ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por Hamilton Mourão, cobrando ações do governo na questão socioambiental e principalmente, no combate ao desmatamento, não apenas na Amazônia, mas no demais biomas do país.

Entre os signatários do documento estão presidentes de grandes empresas e bancos como Ambev, Bayer, Bradesco, Itaú, Shell, Microsoft, Klabin e Natura (veja lista dos signatários e texto na íntegra logo mais abaixo).

Na carta, o grupo afirma que “acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia”.

Como escrevi aqui, há poucas semanas, um grupo de 30 investidores internacionais – da Europa, Ásia e Estados Unidos -, também enviou uma carta às embaixadas do Brasil nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Holanda, na França, na Noruega e na Suécia. Com ativos na ordem de US$ 4,1 trilhões, eles relataram apreensão com a atual situação ambiental sob o governo do presidente Jair Bolsonaro (leia mais aqui).

Já no final da semana passada, a companhia norueguesa de salmão Grieg Seafood, uma das maiores do mundo em seu setor, suspendeu a compra de produtos ligados ao desmatamento no Brasil. “Como um empresa que tem a soja brasileira em nossa cadeia de valor, estamos profundamente preocupados com as atuais taxas de desmatamento no Brasil”, afirmou. “O país já teve papel de liderança global no combate ao desmatamento. Instamos o governo brasileiro a retomarem esse papel”.

Ou seja, cada vez mais aumenta a pressão internacional sobre o Brasil. O discurso “anti-preservação e anti-indígenas” de Bolsonaro e suas ações de desmonte dos órgãos de proteção ambiental foram um estopim para o salto no desmatamento e um tiro no pé para o comércio com outras nações.

Na carta entregue hoje ao governo, empresários apontam o potencial prejuízo para a economia brasileira, já tão impactada pela pandemia da COVID-19, caso medidas urgentes não sejam implementadas. “É preciso que o governo federal dê garantias ao setor empresarial de que algumas das ações e compromissos que estamos apresentando sairão do papel”, defende Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Confira abaixo o texto do documento na íntegra:

“Neste momento, em que enfrentamos uma situação extrema, extraordinária e excepcional, é muito importante manter a serenidade e o equilíbrio para que possamos superar e sair fortalecidos dos desafios que se apresentam. Em nenhum momento da história o futuro da humanidade e do planeta dependeu tanto da nossa capacidade de entendimento de que vivemos em um único planeta e de que a nossa sobrevivência está diretamente ligada à preservação e valorização dos seus recursos naturais.

Os impactos sociais e econômicos causados em escala global e de forma inédita pela pandemia da COVID-19 nos advertem que a consumação de riscos associados à quebra do equilíbrio ecossistêmico traz consequências devastadoras quando negligenciados, tal como vem ocorrendo com o risco climático apontado pelo Fórum Econômico Mundial ano após ano, desde 2012.Cientes disso, o setor empresarial brasileiro, por meio de instituições e empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços, vêm hoje reafirmar seu compromisso público com a agenda do desenvolvimento sustentável.

Particularmente, esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia. Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país.Nesse contexto, esse grupo coloca-se à disposição do Conselho da Amazônia para contribuir com soluções que tenham foco nos seguintes eixos:

  • Combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros;
  • Inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas;
  • Minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e
  • produtividade nas atividades econômicas daí derivadas;
  • Valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais;
  • Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;
  • Direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono; e
  • Pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da COVID-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

Algumas das empresas signatárias já desenvolvem soluções de negócios que partem da bioeconomia, com valor agregado e rastreabilidade dos produtos, inclusive, na Amazônia. De um lado, entendemos que é possível dar escala às boas práticas a partir de políticas consistentes de fomento à agenda ambiental, social e de governança. De outro, é necessário adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros”.

  • Ambev
  • Agropalma
  • Alcoa
  • Amaggi
  • Bayer
  • Bradesco
  • BrasilAgro
  • Cargill
  • Cosan
  • DSM
  • Ecolab
  • Eletrobras
  • ERM
  • Grupo Vamos
  • Iguá
  • Itaú
  • Jacto
  • JSL
  • Klabin
  • LVMH
  • Marfrig
  • Mauá Capital
  • Michelin
  • Microsoft
  • Movida
  • Natura
  • Rabobank
  • Santander
  • Schneider Eletric
  • Shell
  • Siemens
  • Sitawi
  • Stefanini
  • Sunew
  • Suzano
  • Ticket Log
  • TozziniFreire
  • Vale
  • Vedacit
  • WeWork

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Foto: Ronan Frias Semas/Fotos Públicas

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.