Ontem, como contei aqui, os indigenas do Acampamento Levante pela Terra – que estão em Brasília desde 8 de junho para reivindicar seus direitos constitucionais – foram atacados de forma covarde por policiais, quando estavam a caminho da Câmara dos Deputados.
Sua intenção era acompanhar, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, a votação do PL 490/2007 que, se aprovado, pode anular a demarcação de Terras Indígenas e torna-las vulneráveis à exploração predatória de garimpeiros, ruralistas, madeireiros e hidrelétricas.
Adultos, jovens, crianças e idosos foram recebidos pelos policiais com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Muitos indígenas ficaram feridos e dois (um homem e uma mulher) foram internados no Hospital de Base de Brasília com ferimentos graves.
Hoje, em mais um ato pacífico – que pede o arquivamento do PL 490, em frente à Câmara dos Deputados -, os policiais que ontem atacaram os indígenas e hoje acompanham sua mobilização, receberam flores de um grupo de mulheres. Lindo demais!
“Somos um movimento de cura para uma sociedade doente! A nossa luta é pela vida e seguiremos na resistência”, diz a Apib, em seu site e nas redes sociais.
As imagens publicadas aqui dizem tudo. O vídeo no final deste post também.
A seguir, reproduzo a nota da Apib – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, publicada hoje em seu site, e o vídeo da Apib, que mostra o momento em que os policiais receberam flores das mulheres indígenas. Gostaria muito de saber o que eles sentiram, pensaram e disseram (se disseram), nesse momento tão emocionante.
Vida é luta!
Lutamos com nossas rezas e cantos. Os nossos escudos são os maracás e nossa ancestralidade. O Governo recebe os ruralistas pela porta da frente e os indígenas com bomba de gás, spray de pimenta, balas de borracha, tropa de choque e ódio!
Em meio a pandemia da Covid-19, decidimos mobilizar o Levante pela Terra, em Brasília, e impedir o avanço da agenda anti-indígena do Governo Federal. Pela primeira vez na história um presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) fecha o diálogo e reprime com a polícia o movimento indígena, na capital federal.
Estamos atentos ao Projeto de Lei 490, que está na pauta de votação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Uma proposta inconstitucional que pode acabar com as demarcações de Terras Indígenas. Desde o dia 8 de junho estamos realizando manifestações contra a votação do PL, nos arredores do Congresso, mas ontem (22) nossa mobilização foi reprimida pela polícia em mais uma tentativa de calar nossas vozes.
A Constituição Federal de 1988 está sendo rasgada para violar nossos direitos e ampliar os ataques ambientais. Decidimos lutar até o fim para garantir, não apenas o futuro dos povos indígenas, mas também o futuro da humanidade.
Sabemos que os ataques não irão parar e que não temos o privilégio de parar de lutar. Seguiremos na capital federal balançando nossos maracás para que o mundo inteiro saiba da importância das nossas vidas até o último indígena.
Não temos escolha ou morremos com o vírus ou somos massacrados pela política de morte do Governo. Não podemos sofrer tantas violências sem reagir. Estamos nessa luta pela vida e por isso seguimos gritamos: Sangue indígena nenhuma gota mais!
Pela vida e continuidade histórica dos nossos povos, “Diga ao povo que Avance!”.
Articulação dos Indígenas do Brasil
Organizações regionais de base da Apib:
APOINME – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
ARPIN SUDESTE – Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste
ARPINSUL – Articulação dos Povos Indígenas do Sul
ATY GUASU – Grande Assembléia do povo Guarani
Comissão Guarani Yvyrupa
Conselho do Povo Terena
COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileir
Fotos: Daniele Guajajara, Raissa Azevedo e Marina Oliveira