
Depois de décadas de um programa de conservação que conseguiu salvar da extinção o mico-leão-dourado no Brasil, uma nova ameaça surgiu e voltou a colocar em risco a espécie: a febre amarela. Em maio de 2018, a primeira morte de um exemplar desse primata foi registrada na natureza após um surto da doença em todo país.
Assim como os seres humanos, os macacos também são vítimas da febre amarela, que é transmitida por mosquitos, principalmente o Aedes aegypti*.
Em 2014, um censo realizado pela Associação Mico-Leão-Dourado indicou que a população de micos-leões-dourados, na única região de ocorrência da espécie, a Mata Atlântica do interior do estado do Rio de Janeiro, era de 3.700 indivíduos.
Todavia, após o surto da febre amarela, em 2019, foi registrado um declínio de 32% na população do macaco. Estima-se que hoje sejam cerca de 2.500 micos-leões-dourados.
No ano passado, a associação, em parceria com a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FioCruz), a Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro e a ONG Save The Golden Lion Tamarin, começaram a estudar a possibilidade de imunizar os macacos para protegê-los da febre amarela e assim, evitar uma redução ainda maior da espécie.
A vacina foi produzida pela FioCruz e foi testada primeiro em micos-leões-dourados que viviam em cativeiro, com acompanhamento de órgãos dos Ministério da Saúde e do Meio Ambiente.
Com a obtenção de resultados positivos, foi iniciada então a vacinação nos animais de vida selvagem, iniciativa pioneira e inédita no mundo, realizada pela primeira vez no Brasil.
“Esse trabalho requer uma logística cuidadosa, que inclui a captura dos grupos familiares animais na mata para que sejam levados ao laboratório, vacinados, observados por 24 horas antes de serem devolvidos à natureza”, explica Luís Paulo Ferraz, secretário executivo da Associação Mico-Leão-Dourado.
Segundo Luís Paulo, desde outubro até o dia 26 de novembro, já foram vacinados 71 micos. A imunização dos animais poderá levar de dois a três anos. Alguns grupos, depois de receberem a vacina, serão translocados para florestas cuja população foi reduzida pela doença.

Um dos micos capturado sendo vacinado
Desde 1992, a Associação Mico-Leão-Dourado trabalha pela preservação dessa espécie símbolo do Brasil. Na década de 70 eles foram praticamente extintos pelo tráfico de animais silvestres e pelo desmatamento. Restavam apenas 200 na natureza.
Endêmico do Rio de Janeiro, o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) tem uma pelagem que varia entre tons de vermelho e dourado. Apesar de pequeno, mede em média 60 cm de altura, precisa de bastante espaço. Sociável e muito dócil, vive em grupos, que contam com oito a 14 indivíduos, aproximadamente.

A vacinação dos micos deve levar entre dois e três anos
*Vale ressaltar, sempre, que o mico-leão-dourado, assim como outros primatas não humanos, não transmitem a febre amarela, mas são importantes indicadores da presença do mosquito e dos vírus em seus ambientes.
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Fotos: Andreia Martins/AMLD (abertura) e Luiz Thiago de Jezus/AMLD