
De julho de 2018 a agosto de 2019, a área desmatada na Amazônia atingiu 9.762 km², de acordo com dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe, divulgados hoje por Darcton Damião, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), por Ricardo Salles, ministro do meio ambiente, e Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação, em São Jose dos Campos, São Paulo.
Esta é a maior taxa de desmatamento desde 2008 (quando o Prodes apontou 12.911 km² de árvores derrubadas) e a terceira maior alta percentual da devastação na história do bioma, perdendo apenas para os registros de 1995 (95%) e de 1998 (31%). O número representa um aumento de 30% em relação ao período anterior, que teve 7.536 km² de área desmatada. Desde 2012, quando desmatamento foi de 4.571 km², o aumento anual foi de 11,4%.
Levando em conta os estados, o Pará foi o campeão em devastação da região, com 3.862 km² de área, o que significa 39,56% de toda a floresta derrubada. Em seguida (e nesta ordem), estão Mato Grosso, Amazonas e Rondônia que ultrapassaram a marca de mil km² de desmatamento: 1.685 km², 1.421 km² e 1.245, respectivamente.
Em comparação com os dados do relatório de 2018, foi em Roraima que a devastação aumentou mais: 216,41% (de 195 km² foi para 617 km²). O estado vice-campeão foi Acre, com 54,95% de aumento (444 km² para 688 km²). Em terceiro, o Pará, com 40,74% (2.744 para 3.862 km²) e, em quarto, Amazonas, com 35,98% (1.045 para 1.421 km²). Mas também há áreas em que o desmatamento diminuiu, como em Rondônia, Maranhão, Tocantins e Amapá, só que, antes de celebrar, é preciso saber como está a situação da vegetação na região.
Veja, abaixo, o ranking de área desmatada, por estado, de acordo com o Prodes/Inpe:
estado | área (km²) | Var. 2019-2018* | |
1º | Pará | 3862 | 41% |
2º | Mato Grosso | 1685 | 13% |
3º | Amazonas | 1421 | 36% |
4º | Rondônia | 1245 | -5% |
5º | Acre | 688 | 55% |
6º | Roraima | 617 | 216% |
7º | Maranhão | 215 | -15% |
8º | Tocantins | 21 | -16% |
9º | Amapá | 8 | -67% |
total | Amazônia Legal | 9762 | 30% |
Invasões legitimadas por Bolsonaro
Como é possível ver pela tabela do desmatamento na Amazônia, por estado (abaixo), divulgada no site do Prodes/Inpe, desde 2004 e atualizada em 18/11/2019, o Brasil já combateu o desmatamento de forma expressiva. No ano de 2004, a devastação chegou a 27.700 km², que foi um dos maiores da história até hoje. Ações dos governos em conjunto com ONGs e empresas, ajudaram a transformar esse cenário e, em pouco menos de dez anos, registramos a menor taxa desde o início dos registros.
Ano/Estados | AC | AM | AP | MA | MT | PA | RO | RR | TO | AMZ LEGAL |
2004 | 728 | 1232 | 46 | 755 | 11814 | 8870 | 3858 | 311 | 158 | 27772 |
2005 | 592 | 775 | 33 | 922 | 7145 | 5899 | 3244 | 133 | 271 | 19014 |
2006 | 398 | 788 | 30 | 674 | 4333 | 5659 | 2049 | 231 | 124 | 14286 |
2007 | 184 | 610 | 39 | 631 | 2678 | 5526 | 1611 | 309 | 63 | 11651 |
2008 | 254 | 604 | 100 | 1271 | 3258 | 5607 | 1136 | 574 | 107 | 12911 |
2009 | 167 | 405 | 70 | 828 | 1049 | 4281 | 482 | 121 | 61 | 7464 |
2010 | 259 | 595 | 53 | 712 | 871 | 3770 | 435 | 256 | 49 | 7000 |
2011 | 280 | 502 | 66 | 396 | 1120 | 3008 | 865 | 141 | 40 | 6418 |
2012 | 305 | 523 | 27 | 269 | 757 | 1741 | 773 | 124 | 52 | 4571 |
2013 | 221 | 583 | 23 | 403 | 1139 | 2346 | 932 | 170 | 74 | 5891 |
2014 | 309 | 500 | 31 | 257 | 1075 | 1887 | 684 | 219 | 50 | 5012 |
2015 | 264 | 712 | 25 | 209 | 1601 | 2153 | 1030 | 156 | 57 | 6207 |
2016 | 372 | 1129 | 17 | 258 | 1489 | 2992 | 1376 | 202 | 58 | 7893 |
2017 | 257 | 1001 | 24 | 265 | 1561 | 2433 | 1243 | 132 | 31 | 6947 |
2018 | 444 | 1045 | 24 | 253 | 1490 | 2744 | 1316 | 195 | 25 | 7536 |
2019 | 688 | 1421 | 8 | 215 | 1685 | 3862 | 1245 | 617 | 21 | 9762 |
Var. 2019-2018* | 55% | 36% | -67% | -15% | 13% | 41% | -5% | 216% | -16% | 30% |
Var. 2019-2004* | -5% | 15% | -83% | -72% | -86% | -56% | -68% | 98% | -87% | -65% |
No entanto, a destruição voltou a nos assombrar, numa escalada sem precedentes. Com Bolsonaro, veio o mais grave desmonte das políticas ambientais construídas nos últimos 15 anos. E ninguém pode dizer que não foi avisado, por ele mesmo. “Estamos colhendo o que o governo plantou desde a campanha eleitoral. O projeto antiambiental de Bolsonaro sucateou a capacidade de combater o desmatamento, favorece quem pratica crime ambiental e estimula a violência contra os povos da floresta. Seu governo está jogando no lixo praticamente todo o trabalho realizado nas últimas décadas pela proteção do meio ambiente”, destaca Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia do Greenpeace.
Entre outros recessos, vale destacar o corte de 22% nas operações de fiscalização do Ibama, que aconteceu assim que ele assumiu e, em abril, a criação do Núcleo de Conciliação Ambiental para “aliviar” dívidas de desmatadores ilegais, enquanto o orçamento do Ibama foi cortado em 24% e o de combate ao fogo em 38%. Veja a linha do tempo desse desmonte montada pelas organizações Greenpeace, Observatório do Clima e Clima Info: Pátria Queimada Brasil.
Importante não esquecer que as invasões de áreas protegidas só aumentam e, com elas, a violência contra os povos originários. Antes mesmo de assumir o governo, Bolsonaro se declarava contra o reconhecimento dos direitos indígenas a suas terras, o que tem autorizado e legitimado as invasões e a morte de inúmeros indígenas e de suas lideranças. Foi o que aconteceu nas Terras Indígenas Wajãpi, invadidas por garimpeiros que mataram o cacique cacique Enyra. Em novembro, Paulo Paulino Guajajara, um dos guardiões da floresta da Terra Indigena Arariboia, foi assassinado em uma emboscada preparada por madeireiros.
Mentiras, omissões e crime

O sistema Prodes é considerado o mais preciso no mundo para medir taxas anuais. E é diferente do Deter, também do Inpe, que mostra alertas mensais e em tempo real, e já vinha sinalizando uma tendência grave de aumento da devastação. Isto significa, então, que o Prodes confirma a tendência de alta (49%) a partir de junho.
Vale lembrar que, em agosto, diante da repercussão mundial do aumento das queimadas e incêndios florestais e dos alertas de desmatamento na Amazônia, Bolsonaro se irritou – não admitia que os dados fossem divulgados automaticamente – e colocou-os em dúvida, chamando-os de “mentirosos”. Em seguida, exonerou – por intermédio de Marcos Pontes – o diretor do Inpe na época, o físico Ricardo Galvão.
Agora, o Prodes confirma que o Deter não mente: o desmatamento continua em alta. E já anuncia que a tendência se manterá, certamente: de agosto a outubro, os três primeiros meses do próximo relatório do período Prodes, “houve aumento de cerca de 100% da área com alertas de desmatamento na comparação com o mesmo período de 2018”, informou o Greenpeace.
Para Salles, o principal motivo para o crescimento da devastação e sua continuidade é a prática de atividades ilegais. Disse isso no encontro de hoje, mas o que ele não lembrou de dizer é que tal prática tem sido “autorizada” e “incentivada” pela omissão do governo. Bolsonaro e Salles foram irresponsáveis, mentirosos e omissos. Desqualificaram a competência do órgão máximo em monitoramento no país, tomaram decisões arbitrárias que afastaram um dos maiores especialistas da área no mundo, e ignoraram os alertas, incentivando o desmatamento na Amazônia e em outros biomas. Bolsonaro e Salles foram criminosos.
Foto: Daniel Belta/Greenpeace