Visitar um ambiente natural com bebês é vivenciar um mundo de aprendizados. Para nós, adultos, é claro! Um bebê está sempre aprendendo, tudo para ele é aprendizado.
Quando estamos num ambiente diverso e rico como uma área cheia de natureza, há muito o que experienciar. E, em geral, falamos sobre tudo. Mas sobre o que falamos quando estamos na companhia dos pequenos? Falamos sobre o que nos interessa ou o que interessa a eles? Sabemos olhar para o bebê e identificar o que mais lhe interessa?
Com frequência, nessas situações, tendemos a chamar a atenção deles para o que nos interessa. “Escute o passarinho!”, “Olha essa flor!”….
Perceber o que ele percebe
É todo um aprendizado pelo qual devemos passar para nos sintonizarmos com a compreensão de que, para eles, tudo é novidade, tudo está por estrear. Muitas vezes, o que chama atenção dos bebês já nos é muito comum e esquecemos que eles estão chegando ao mundo agora e a descoberta depende de seu próprio interesse.
Por isso, o ideal é observar os bebês, nos aproximarmos de seu ritmo e de suas percepções sobre o mundo. E questionar se o que queremos mostrar é realmente o mais interessante para eles.
O que é que ele observa? O que é que ele toca? Percebendo o que ele percebe, podemos falar melhor com eles a respeito. Não sobre o que queremos que ele veja.
Silenciar e se guiar pelas sensações
Um outro exercício importante é não falar com palavras o tempo todo. Não precisamos narrar o cenário e os acontecimentos o tempo todo.
Estar junto e se encantar com o mundo que os bebês percebem nos conecta com outras linguagens. Nos conecta pelo movimento, pelos olhares, pela respiração, pelos gestos, pela frequência cardíaca.
É também preciso saber silenciar a voz para ouvir o mundo, para estar sensível ao que o mundo nos conta. E esse silêncio é um convite para estarmos junto dos bebês em suas descobertas, nos conectando com o inédito, com o movimento do universo, com o pulsar da vida.
Sair do mundo dos pensamentos e deixar os sentimentos e sensações nos guiarem, assim como fazem os bebês. Observar e se conectar com o que emerge de espontâneo dos bebês é, em primeiro lugar, respeitá-los. Tudo isso é, sem dúvida, uma oportunidade de aprendermos com eles sobre o pulsar da vida, sobre a percepção do vivo.
Domesticar, jamais
Imagine-se observando uma plantinha. Ela vai crescendo, se desenvolvendo. Se você interferir nesse crescimento, colocando-a em vaso pequeno, fazendo podas, etc, ela vai seguir sua orientação, dentro de seu gradiente de possibilidades adaptativas, claro.
O mesmo podemos dizer que acontece dos bebês. Mas, na experiência humana, existe uma capacidade gigantesca de adaptação aos mais variados contextos. No entanto, se desde o começo da vida de uma criança damos informações demais, impomos restrições demais, limitações de todo tipo, ela crescerá sem nunca conhecer seu próprio movimento, sua natureza mais essencial, seu jeito de estar no mundo.
Isso vai se apagando conforme a criança cresce, uma riqueza enorme de possibilidades se perde e essa perda se torna habitual, vamos entendendo, como normal, essa domesticação das nossas possibilidades e potencialidades mais essenciais.
Transformar o mundo
Essa reflexão, aparentemente simples, não nos diz algo sobre a conformação do nosso mundo, hoje? As pessoas estão se sentindo impotentes e submissas a um sistema que não lhes proporciona saúde, alegria e paz.
Respeitar a natureza espontânea dos bebês pode ser entendido também como uma forma de transformar o mundo!
Foto: Renata Stort/Ser Criança é Natural
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