As mantas estão entre os maiores peixes dos oceanos. Encontradas em águas mornas de regiões tropicais e subtropicais, em pequenas populações, elas têm o corpo em forma de losango e podem chegar a ter até oito metros de envergadura e pesar mais de duas toneladas. São classificadas como ameaçadas de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Mas uma excelente notícia acaba de chegar da costa do Equador. Cientistas identificaram o que se considera agora a maior população de mantas oceânicas do mundo. Estima-se que sejam mais de 22 mil indivíduos, ou seja, dez vezes maior do que qualquer outro grupo registrado até hoje.
“Está claro que algo diferente está acontecendo aqui”, diz Joshua Stewart, professor assistente do Instituto de Mamíferos Marinhos da Oregon State University. “Esta é uma rara história de otimismo oceânico. Em outras regiões, normalmente temos estimativas populacionais de 1 mil a 2 mil animais, o que torna essa espécie muito sensível. Nesta área, estimamos que a população seja de mais de 22 mil mantas, o que é inédito”.
A descoberta foi relatada em um artigo científico, publicado no Journal Marine Ecology Progress Series.
Mantas são animais difíceis de serem estudados. Vivem no mar aberto, em águas profundas e seu comportamento ainda é pouco conhecido. Todavia, no fim da década de 90, pesquisadores do Proyecto Mantas Ecuador da Fundación Megafauna Marina del Ecuador, em parceria com outras organizações, observaram que entre os meses de agosto e setembro indivíduos da espécie se agregavam próximo à Isla de la Plata, um local de fácil acesso.
A partir daí, os cientistas começaram a monitorar as mantas e fazer sua identificação.
“Cada raia manta tem um padrão único de manchas em sua barriga, semelhante a uma impressão digital humana, que permite aos pesquisadores identificar animais individuais e rastrear seus movimentos e localizações ao longo do tempo. Fotos de raias individuais também podem ser usadas para documentar lesões, evidências de acasalamento e maturidade”, explica Kanina Harty, autora principal do artigo.
Com fotos documentadas entre 2005 e 2018, inclusive com aquelas feitas por mergulhadores, os chamados cidadãos cientistas, fez-se então a estimativa dos 22 mil indivíduos.
“Isso é significativamente maior do que o que vimos nas populações de raias manta oceânicas em outros lugares”, afirma Guy Stevens, diretor executivo da Manta Trust. “Esta é de longe a maior população que conhecemos”.
Manchas nas barrigas pelas quais as mantas podem ser identificadas
(Foto: Michel Guerrero)
A suspeita é que a região de Isla de La Plata seja farta em alimentos. As mantas se deslocam também para a costa do Peru e chegaram até a serem avistadas em Galápagos.
Outros dois países que concentram grandes populações de raias são as Maldivas e a Indonésia. Entre as principais ameaças estão a pesca acidental. Mas pelo menos no Equador, elas parecem estar protegidas e prosperando.
Mapa mostra a região da superpopulação de raias mantas
*Com informações e entrevistas dos sites da Oregon State University e Manta Trust
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Foto de abertura: Fundacion Megafauna Marina del Ecuador/Michel Guerrero