Estudo inédito investiga existência de nova espécie de raia gigante na costa brasileira

Conhecida popularmente como “jamanta ou raia-manta”, a espécie Manta birostris é realmente um gigante marinho. É um dos maiores peixes dos oceanos. Encontrada em águas mornas de regiões tropicais e subtropicais de todos os oceanos, ela tem o corpo em forma de losango e pode chegar a ter até oito metros de envergadura e pesar mais de duas toneladas.

No costa brasileira, estas raias gigantes são normalmente avistadas durante o inverno, entre maio e agosto, especialmente no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, Parcel Dom Pedro e Ilha da Queimada Grande, no litoral de São Paulo.

Entretanto, no litoral do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e no arquipélago de Fernando de Noronha, as raias observadas apresentam a cara branca e o dorso negro com manchas arredondadas, diferentemente da Manta birostris. Os biólogos acreditam que os indíviduos observados nestes outros estados são menores do que as jamantas, atingindo, no máximo, quatro metros de envergadura, talvez por serem mais jovens.

A suspeita dos cientistas brasileiros é que, ainda que pertençam à mesma espécie já descrita (Manta birostris), a coloração diferente destas últimas pode resultar na redescrição das características da espécie, tal qual como ela é conhecida atualmente.

Por isso, pesquisadores do Projeto Mantas do Brasil começaram um estudo inédito para mapear a presença das raias gigantes e tentar achar evidências da existência de uma possível nova espécie do gênero em águas brasileiras.

“Nosso trabalho consistirá na ampliação de equipe e de esforços por meio de parcerias nas regiões de interesse, visando coletas e análises do material genético da população com características distintas daquelas já descritas em estudos científicos e, com isso, determinaremos a qual espécie pertencem”, explica o biólogo Leo Francini, coordenador de pesquisas do projeto.

Há apenas duas espécies do gênero Manta conhecidas no mundo inteiro: a M. birostris e a M. alfredi. Biólogos mexicanos estão investigando a existência de uma terceira. “Uma das hipóteses com que trabalhamos é que animais dessa possível nova espécie, que está sendo estudada no Golfo do México, esteja presente também em águas brasileiras”, explica Ana Paula Coelho, mergulhadora e coordenadora geral do Projeto Mantas do Brasil. “Lá já foi comprovado que a jamanta e a raia daquela região são geneticamente diferentes”.

A vida da raia gigante

Inofensiva ao homem, a jamanta é um animal dócil e curioso. Nada lenta e pacificamente, ao lado de mergulhadores. A reprodução da espécie acontece, em geral, a cada dois anos. Na gestação, que dura em média 12 meses, dá à luz somente a um filhote. A expectativa de vida deste gigante marinho gira em torno de 20 anos.

São justamente as manchas e pintas encontradas no ventre de cada animal que o tornam único, como impressões digitais, servindo para diferenciar um indivíduo do outro.

Extremamente dócil, a Manta birostris pode pesar mais de 2 toneladas e
ter até 8 metros de envergadura

Em 2015, o Projeto Mantal do Brasil fez o registro de 23 raias gigantes no litoral brasileiro. Uma delas tinha 6,5 metros da ponta de uma asa à outra (tamanho equivalente a dois carros populares), a maior até então vista por aqui.

Desde 2013, é proibida a pesca, embarcação ou comercialização da espécie no Brasil, assim como em outras partes do mundo. A Manta birostri é classificada como vulnerável na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção da International Union for Conservation of Nature (IUCN). O declínio da jamanta nos oceanos se deve à sua lenta capacidade reprodutiva, sobrepesca e captura acidental por espinhéis e redes de emalhe (colocadas verticalmente no fundo do mar).

* O Projeto Mantas do Brasil faz parte das 20 novas iniciativas selecionadas pela Fundação Grupo Boticário, que começaram a ser apoiadas no segundo semestre de 2016

Fotos: Projeto Mantas do Brasil (abre) e Renato Magalhães/Fundação Grupo Boticário

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.