Um dos maiores especialistas em clima e Floresta Amazônica do mundo, o cientista brasileiro Carlos Nobre passou a integrar o grupo Planetary Guardians, ou Guardiões Planetários, na tradução para o português. A iniciativa, lançada em 2023 pelo empresário britânico Richard Branson, é um coletivo de mentes reunidas para encontrar novas soluções, baseadas na ciência, para proteger o planeta.
Nobre – na imagem acima à direita – passou a fazer parte do grupo, oficialmente, durante um evento realizado em São Paulo – ‘Celebrating Brazilian Scientists’ -, no qual a costa-riquenha Christina Figueres, que durante seis anos foi secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas para a Mudança do Clima, também foi anunciada membro do coletivo.
Primeiro brasileiro a fazer parte do Guardiões Planetários, Nobre figura ao lado agora de nomes como o da primatologista Jane Goodall, a oceanógrafa Sylvia Earle, o empresário Paul Polman e o cineasta Robert Redford.
“A Floresta Amazônica é o coração biológico do planeta, com pelo menos 13% da biodiversidade mundial. Aproximadamente 28 milhões de pessoas vivem na Amazônia brasileira, incluindo muitos povos indígenas, afrodescendentes e comunidades ribeirinhas que preservam a floresta tropical há centenas de anos. Investir neles e garantir que possam proteger a floresta é um dos melhores investimentos que podemos fazer para preservar nosso sistema compartilhado de suporte à vida”, afirmou Nobre.
O brasileiro é engenheiro, doutor em Meteorologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e autor de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Nobre fez parte ainda da equipe internacional de cientistas que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2007, junto com o ex-vice-presidente americano Al Gore, por alertarem sobre os riscos do aquecimento global e pela luta pela preservação ambiental.
Nobre se une ao grupo para ressaltar a mensagem de que a Amazônia pode chegar a um ponto de não retorno, ou seja, o desmatamento no bioma está prestes a atingir um determinado limite a partir do qual regiões da floresta tropical podem passar por mudanças irreversíveis, em que suas paisagens podem se tornar semelhantes às do Cerrado, todavia, degradadas, com vegetação rala e esparsa e baixa biodiversidade.
Encontro em São Paulo que homenageou os cientistas brasileiros
Foto: Alexandre Virgilio
Fronteiras planetárias
A premissa para a criação do Guardiões Planetários é que existe apenas um planeta, com sistemas interconectados. E é preciso combater as raízes dos problemas que ele enfrenta, não apenas os sintomas. Para isso, o grupo se baseia no conceito dos “limites planetários”, desenvolvido pelo cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático na Alemanha (ele aparece na primeira foto no alto dessa página, ao centro e tendo Richard Branson à sua esquerda).
O modelo mapeou nove limites que necessitam ser protegidos na Terra – como por exemplo, a mudança no clima, redução de florestas, perda da biodiversidade e alteração dos nutrientes nos cursos de água -, mas infelizmente, seis deles já sofrem sérios impactos devido às atividades humanas.
“A necessidade de ação nunca foi tão urgente. Nosso planeta, o único lar que temos, está em péssimas condições. Apesar disso, há esperança. A genialidade da ciência das Fronteiras Planetárias reside na sua capacidade de soar o alarme e de oferecer um roteiro para permanecer dentro dos limites do nosso planeta. Trabalhando juntos, podemos deixar o planeta melhor para nossos filhos e netos”, acredita Richard Branson, fundador do Virgin Group, Virgin Unite e membro do Conselho Consultivo dos Guardiões Planetários.
Durante o evento no Brasil, foi ressaltado ainda o importante trabalhado realizado pelos indígenas brasileiros Francisco Apurinã, Braulina Baniwa, Sineia Bezerra do Vale e Cristiane Gomes Julião.
Apurinã trabalha com a Universidade de Helsinki (Finlândia) pesquisando mudanças ecológicas sob a perspectiva indígena. Braulina é uma ativista pelos direitos das Mulheres Indígenas e mestranda em Antropologia Social na Universidade de Brasília. Já Julião tem pós-doutorado em Antropologia Social com foco em direitos humanos, povos indígenas e meio ambiente. Sineia é gestora ambiental da Terra Indígena Serra da Lua, autoridade do clima no Brasil e indicada para copresidente do Fórum Internacional de Povos Indígenas para o Clima.
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Foto de abertura: Alexandre Virgilio