Esta semana, Raoni Metuktire (ou Ropni Metyktire), cacique do povo Kayapó, que vive no Mato Grosso, volta a ser notícia no mundo. Uma ótima notícia! Ele foi agraciado com o título de Membro Honorário concedido a cada quatro anos pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) – originalmente IUCN – International Union for Conservation of Nature –, a maior organização mundial sobre o tema.
O reconhecimento foi divulgado pelo presidente francês Emmanuel Macron, esta semana, durante o Congresso Mundial da União (uma espécie de cúpula da biodiversidade), realizado em Marselha, na França, até o dia 11.
Linda e justa homenagem já que o título reconhece pessoas que “desenvolvem serviços excepcionais em defesa da conservação do meio ambiente e dos recursos naturais” em qualquer parte do planeta.
Raoni é o primeiro indígena e o segundo brasileiro a receber essa homenagem: em 2012, a IUCN reconheceu Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente.
Conservação, direitos indígenas e clima
O cacique foi indicado ao prêmio, em setembro de 2019, pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), membro do Comitê Brasileiro da UICN. A intenção da organização era “ampliar o conhecimento sobre a grande contribuição da liderança para o equilíbrio climático global”.
Fabio Vaz, coordenador-geral do ISPN, explica: “Indicamos Raoni como representante da importância dos povos indígenas e das comunidades tradicionais para a conservação da natureza“. E destaca que tal relevância foi reiterada em estudo publicado recentemente pela FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
“Achamos que a contribuição histórica do cacique Raoni nas lutas pela conservação da natureza e na defesa dos direitos indígenas foi, e continua sendo, fundamental para o campo socioambientalista”, acrescenta Vaz.
Mensagem de Raoni
Em resposta, o cacique Kayapó gravou mensagem em vídeo, divulgada pelo ISCN, pedindo o fim da guerra contra os indígenas e do desmatamento. Você pode assisti-lo no final deste post, mas também reproduzo sua fala na íntegra, a seguir:
“Hoje eu quero mandar uma mensagem para vocês. Eu sempre falei isso. Desde jovem eu venho falando isso para todo mundo. Não quero que a guerra volte entre nós. Eu só quero que convivamos em paz! Já estou cansando, estou muito velho”.
“Nossos antepassados surgiram aqui primeiro. Vocês vieram depois. Tiraram todas as riquezas dos nossos antepassados. Essas riquezas não eram de vocês. Eu não gosto de coisa ruim, de verdade! E o que é ruim? Ameaça. Vocês, brancos, se matam. Desmatam a floresta. Isso é ruim! Pra vocês, é bom!”
“Antigamente, nós indígenas vivíamos no mato. Quando eu era rapaz, vivia no mato. Éramos nômades. Agora, vivemos num só lugar. Por isso que eu digo: Me ouçam! Parem com isso (se referindo à destruição das florestas), para que possamos conviver em paz! Esse é meu trabalho. Muito obrigado!”.
Jane Goodall, também homenageada
Na cerimônia de abertura do Congresso, em 3/9, Macron já havia saudado o cacique Kayapó na companhia do ator Harrison Ford, vice-presidente do Conselho da organização Conservation International (CI) e do fotógrafo Sebastião Salgado.
Também revelou outras três personalidades reconhecidas com o mesmo título, este ano: o ornitólogo de Fiji, Richard John Watling, o ambientalista libanês Assad Serhal, e a cientista britânica Jane Goodall, sobre a qual falamos, aqui no Conexão Planeta, com certa frequência, por sua posição humanista e inspiradora, e pelo trabalho revolucionário que desenvolveu na relação dos humanos com primatas.
Agora, assista ao apelo de Raoni. E espalhe.
Foto: Instituto Raoni/Divulgação
Com informações do ISPN e IUCN
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