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Brincar de fazer comidinha (com a natureza) é ritual sagrado na infância

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Brincar de fazer comidinha é uma prática comum em diferentes infâncias ao redor do mundo, se não todas. É também um dos primeiros caminhos pelos quais a criança entra no mundo da brincadeira simbólica.  E onde há natureza acessível, essas comidinhas acontecem de maneira ainda mais especial.

Nos ambientes naturais, as crianças têm à disposição um repertório infinito de ingredientes. Diferentes tipos de folhas, sementes, gravetos, terra, pedrinhas. Em um dos meus primeiros dias nas escolas da floresta, por exemplo, recebi de boas vindas um pedaço de torta feito com uma lasca de tronco, com cobertura de folhas, lama e sementes. E amei!

Eu, “criança adulta”, também me encanto ao ver as crianças preparando suas comidas com terra ou areia, buscando folhas, gravetos e sementes pelo ambiente para dar um sabor especial e um toque de beleza à decoração do prato. Me encanto também ao brincar de comidinha junto com os pequenos. E quantas coisas aprendo enquanto brincamos! Enquanto escolhemos os melhores ingredientes, conversamos, experimentamos receitas. E o menu de uma boa brincadeira de comidinha costuma ser bastante variado: ensopados, bolos, massas e o que mais a imaginação criar.

Apaixonada por essa brincadeira, quando vou aos parques com crianças, levo uma mochila preparada pra essa brincadeira: com panelas, potinhos, colheres, conchas. Nada da loja de brinquedos! Pego tudo que encontrei na minha cozinha e não uso. Também tento, ao máximo, evitar plástico, ampliando o repertório de materiais que a criança conhece. Levo também uma garrafa com água – fundamental para muitas receitas já que, em alguns parques, não existem tantos pontos à disposição. Com essa mochila, a brincadeira pode acontecer em qualquer canto e não necessariamente no “espaço para crianças”, até porque partimos do pressuposto de que o parque todo é para as crianças. Vez ou outra também coletamos elementos ao longo da semana e guardamos em um saquinho para usarmos na próxima sessão gastronômica. E o resultado, claro, não poderia ser diferente: muitas horas de brincadeira.

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Comer não é apenas nutrir-se com o alimento, mas sim um ritual sagrado. Prepará-lo, decorá-lo, servir, comer junto. E isso acontece também nas brincadeiras que nunca têm data nem horário pra começar ou terminar, nem idade pra acontecer. Inconscientemente, passam de geração em geração

brincar-de-comidinha-ritual-sagrado-na-infancia-xExiste um livro lindo para inspirar estas brincadeiras chamado Cozinhando no Quintal, lançado há dois anos pela educadora Renata Meirelles. Ele é fruto do projeto Território do Brincar criado por ela e seu marido, o documentarista David Reeks, e apoiado pelo Instituto Alana. Nesse livro, estão registros de diferentes comidinhas que Renata encontrou pelo Brasil durante a viagem que os dois fizeram com os filhos ao pesquisar o jeito de brincar das crianças brasileiras. Ele é repleto de imagens de dar água na boca! E mostra que criar, pesquisar e conviver são provas de que brincadeira se põe à mesa, sim!

 

Foto: Renata Stort

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Diana Rodrigues Magalhães Haro
Diana Rodrigues Magalhães Haro
8 anos atrás

Muito interessante vou incrementar as brincadeiras dos meus pequeno

Ítalo
Ítalo
8 anos atrás

Ahh, que texto lindo! Obrigado por compartilha-lo! Apesar de ter tido a oportunidade dessas brincadeiras, não tinha percebido a significado que elas carregam. Fazem muita diferença no nosso desenvolvimento.

Jozelma Araújo de Macedo
Jozelma Araújo de Macedo
8 anos atrás

Como brinquei com as minhas não. tem nada melhor. .e me faz lembrar quando eu era criança. Fazua as minhas panelas de barro. E pegava folhas.

VERA LUCIA GEWEHR
VERA LUCIA GEWEHR
5 anos atrás

Gostei muito da reflexão e também percebo que objetos que não são necessariamente concebidos como brinquedos estimulam muito mais a criatividade das crianças do que os brinquedos prontos
.

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