Há boas e más notícias vindas da Caatinga baiana, onde em 11 de junho, oito ararinhas-azuis foram soltas num Refúgio de Vida Silvestre criado especificamente para a sua reintrodução, em Curaçá. Extinta na natureza no começo dos anos 2000, a espécie endêmica do Brasil, a Cyanopsitta spixii, voltou a voar livremente na região graças a um projeto com parceiros internacionais.
Mas vamos começar pelas notícias tristes. Como contei antes, nesta outra reportagem no final de agosto, uma das ararinhas reintroduzidas desapareceu. Ela se desgarrou do grupo, algo que pode acontecer, e não foi mais avistada. O sinal do seu transmissor também não foi mais detectado. E no dia 6 de setembro, outra ave sumiu. Três dias depois, a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), instituição alemã, parceira do governo brasileiro responsável pela gestão do programa junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) informou nas suas redes sociais que essa última ararinha tinha sido vítima de um predador “aviário”.
Ou seja, das oito soltas há quatro meses, ficaram somente seis.
“As reintroduções são extremamente desafiadoras para qualquer espécie, especialmente para uma que já foi extinta na natureza. Embora as perdas possam ocorrer inevitavelmente, o planejamento e a execução cuidadosos e meticulosos podem ajudar a reduzi-los ou limitá-los. De fato, as próprias perdas também apresentam oportunidades para aprendizado contínuo e avaliação de técnicas e estratégias”, explica a ACTP.
Todavia, apesar dos percalços, há não apenas uma, mas duas novas boas notícias. A primeira delas é que algumas ararinhas-azuis foram avistadas acasalando. É cedo ainda para se garantir que elas conseguirão se reproduzir na vida selvagem, mas o comportamento já demonstra que elas estão se adaptando bem ao novo lar.
Além disso, a ACTP anunciou que está programada uma nova data para a reintrodução de mais 12 ararinhas-azuis na reserva de Curaçá. A ideia é que seja por volta de 10 de dezembro, mas o dia exato só será confirmado mais adiante.
“Este acréscimo à população selvagem é importante e continuará anualmente por muitos anos até que a população selvagem floresça. Permitirá a melhor chance possível de sucesso para a ararinha-azul, seu habitat e todas as espécies que o compartilham com elas”, diz a instituição alemã.
Atualmente há no refúgio de vida silvestre da Bahia 13 casais reprodutivos, dois casais não reprodutivos, 12 ararinhas sendo preparadas para a soltura e três filhotes nascidos já aqui no Brasil, em 2021 (contei sobre o nascimento do primeiro deles nesta outra reportagem).
Enquanto isso, na sede da ACTP, na Alemanha, existem 157 ararinhas-azuis. Apenas no ano passado, nasceram lá 53 filhotes. A expectativa é que 20 indivíduos sejam trazidos ao Brasil ainda este ano.
As ararinhas soltas em Curaçá
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Fotos: reprodução Facebook ACTP