No dia 8 de dezembro do ano passado, Maggie Keenan, de 90 anos, foi a primeira pessoa da Inglaterra a receber a vacina contra o coronavírus. Um ano após os primeiros casos do novo coronavírus terem aparecido na China e desencadeado a maior pandemia da história moderna da humanidade, a aposentada se tornou a primeira pessoa do Reino Unido e da Europa Ocidental a receber a vacina contra a COVID-19.
Quase três meses depois, mais de 20 milhões de britânicos tomaram pelo menos uma dose do imunizante, o equivalente a um em cada três adultos. Quase 800 mil já receberam as duas doses.
Atualmente a campanha está na segunda parte da fase inicial, depois que todos os primeiros grupos prioritários – aqueles com 80 anos ou mais, residentes de lares de idosos e profissionais de saúde -, foram vacinados em meados de fevereiro.
Agora o público alvo são aqueles com mais de 60 anos e que apresentam comorbidades, doenças como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos.
Todavia, o governo do Reino Unido anunciou na semana passada que, depois de ouvir a opinião de especialistas, as próximas fases da campanha de vacinação darão prioridade a faixas etárias e não profissões. Havia um debate de que, profissionais como professores ou policiais deveriam ser vacinados logo, mas as estatísticas mostram que o principal fator para casos graves e mortalidade da COVID-19 é realmente a idade mais avançada.
De acordo com o Comitê de Vacinação e Imunização do Reino Unido, priorizar profissões deixaria grupos mais vulneráveis esperando mais tempo pela segunda dose.
A previsão é que até o final de abril, os britânicos com mais de 50 anos sejam vacinados e até o fim de julho, os três próximos grupos: 40 a 49 anos, 30 a 39 anos e finalmente, 18 a 29 anos, totalizando 21 milhões de pessoas.
Uma análise realizada pelo Centro para a Prevenção e o Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) demonstra também que a idade é o principal fator de risco para a COVID-19.
Como o gráfico abaixo evidencia, pessoas acima dos 85 anos têm quase 8 mil vezes mais chance de morrerem caso sejam contaminadas pelo coronavírus. O interessante é que praticamente todos os grupos correm o mesmo risco de contágio (entre 18 e 29 ele é um pouco maior), mas acima dos 50, as hospitalizações e óbitos aumentam muito mais.
Tabela mostra as chances de hospitalização e mortes causadas
pela COVID-19 entre as diferentes faixas etárias
Vacinação no Brasil
Infelizmente, o Brasil enfrenta agora o pior momento da pandemia desde o ano passado. Por várias semanas o número de mortes diárias tem passado de 1 mil pessoas e já são mais de 22 mil vítimas da COVID-19. Enquanto isso, a campanha de vacinação caminha a passos muito lentos. Somente pouco mais de 2% da população do país recebeu a primeira dose da vacina porque há escassez do produto, já que o governo federal não fez um planejamento antecipado, assim como outros países, para a compra de imunizantes de diferentes laboratórios.
Além disso, especialistas da área de saúde criticam também a falta de uma diretriz clara nos grupos prioritários que devem receber a vacina.
De acordo com o Plano Nacional de Operacionalização divulgado pelo Ministério da Saúde, que soma mais de 77,2 milhões de brasileiros, as faixas etárias citadas são entre 60 e 80 anos ou mais. Nele aparecem ainda profissionais como os abaixo, independente de suas idades:
- Forças de segurança e salvamento;
- Forças Armadas;
- Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros;
- Trabalhadores de transporte metroviário e ferroviário;
- Trabalhadores de transporte aéreo;
- Trabalhadores de transporte aquaviário;
- Caminhoneiros;
- Trabalhadores portuários;
- Trabalhadores industriais
A dúvida nessa lista prioritária é se um brasileiro com 58 anos, por exemplo, não deveria ser vacinado antes que um caminhoneiro de 25 ou um militar de 30. Quem teria mais chance de morrer caso fosse infectado pelo coronavírus?
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*Atualização em 03/03/21
O presidente Jair Bolsonaro vetou a emenda à Medida Provisória da Vacina que garantia aos profissionais da educação prioridade no Plano Nacional de Imunização.
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Foto: Prefeitura de Caruaru/Fotos Públicas