Técnica, manejo adequado e muita paciência. É assim que o veterinário Jorge Salomão Junior define o bem-sucedido resultado do tratamento de restauração do bico de uma arara-canindé (Ara ararauna), que teve sua estrutura muito destruída após uma briga.
“Essa arara está no Instituto Raquel Machado e é muito comum que na época reprodutiva elas briguem. É um bicho bem territorialista e quando pareia fica muito agressivo. Então essa arara brigou no recinto e fraturou o bico. Chegou a quebrar toda a estrutura. E aí foi feito um procedimento para a correção dessa lesão”, explica o veterinário.
Logo após o incidente, um veterinário especialista em odontologia veterinária colocou uma placa com parafusos no suporte ósseo que sustenta o bico e depois uma resina por cima.
“A resina dá mais estabilidade e protege para não ficar acumulando sujeira também, já que a fratura era muito complexa”, diz Salomão. “A arara ficou com essa placa e a resina por oito a dez meses. O bico é formado por queratina, então o processo de cicatrização é lento. Após um tempo, radiografamos o animal e vimos que já havia necessidade de retirar a placa”, explica o veterinário.
O bico após a retirada da placa e em processo de recuperação
A ave ainda está em tratamento, pois ao longo do tempo ainda serão necessários alguns ajustes no bico novo, natural, que cresce.
“Como a queratina cresce lentamente, esporadicamente temos que ir fazendo o desgaste e acerto para deixar o mais próximo possível da configuração fisiológica”, diz.
Resina, parafuso e placa: técnica rara que deu excelente resultado!
A técnica de colocação de resina já é bastante usada em casos como este. O material acrílico (autopolimerizável) é o mesmo usado em consultórios de dentistas com seres humanos. Todavia, a utilização de placa e parafusos é ainda rara.
Graças à restauração, o animal já consegue se alimentar normalmente
Vítima do tráfico de animais silvestres, infelizmente essa arara não poderá mais voltar à vida selvagem, por isso foi encaminhada ao Instituto Raquel Machado, em Porto Feliz, no Mato Grosso do Sul. A organização acolhe e cuida de bichos resgatados e que sofreram maus tratos.
Raio-x mostra a placa colocada no bico, que já foi retirada
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Fotos: Jorge Salomão