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Alvo de ofensas racistas, indignado, jogador brasileiro cobra punição e recebe apoio de Vini Jr.; Palmeiras, Conmebol, Fifa, CBF e Lula se pronunciam

Alvo de ofensas racistas, jogador brasileiro cobra punição, emocionado, e recebe apoio de Viny Jr; Palmeiras, Conmebol e Fifa se pronunciam

Dez meses após os ataques racistas sofridos pelo jogador brasileiro Vini Jr., durante jogo na Espanha – que mobilizaram o governo federal e a ministra Aniele Franco, de Igualdade Racial – novo caso de racismo acontece no futebol, durante a Libertadores no Paraguai. Desta vez a vítima foi Luighi Hanri, de 17 anos em jogo do Palmeiras (seu time) contra o Cedro Porteño, no Paraguai, na quinta-feira (6).

O caso tem reverberado em notícias pelo mundo e sanções contra o autor do ato e o time para o qual torce, certamente graças à indignação emocionada e à cobrança do jovem atleta.

“Não, não! É sério isso? Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando? O que fizeram comigo é crime!” Assim reagiu Luighi, atacante do Palmeiras, às perguntas dos jornalistas durante coletiva de imprensa logo após a violência.

O time paulista vencia o paraguaio por 3 a 0. Ao sair de campo, para ser substituído, Luighi foi atacado por torcedor do time adversário, que fez gestos imitando macaco e outro que cuspiu no atleta, através do alambrado. Na entrevista, os jornalistas ignoraram o racismo sofrido por ele, focando apenas no jogo. 

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“Vocês não iam perguntar sobre isso, né?”, continuou, aos prantos. “E o que a Conmebol vai fazer o que? A CBF vai fazer o que?”. Em seguida, abandonou a entrevista. 

indignação de Luighi desencadeou medidas do Palmeiras, do Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). 

Assim que soube do ataque sofrido por Luighi, o jogador Vini Jr. – que lidera comitê contra o racismo na Fifa (Federação Internacional de Futebol), apoiou o jovem atleta e criticou a Conmebol: “Parabéns pelo posicionamento, mano. É triste, mas fique forte. Vamos juntos nessa luta. Até quando, Conmebol? Vocês nunca fazem nada! NUNCA!!!!!”.

O presidente Lula também se manifestou, condenando os ataques racistas sofridos por Luighi. “O futebol significa trabalho coletivo, superação e respeito. Racismo significa o fracasso da humanidade. Basta de ódio disfarçado de rivalidade. O mundo não pode mais tolerar esse tipo de violência que fere a dignidade e a esperança da nossa juventude”.

Pelas redes sociais, Lula cobrou “responsabilização exemplar” e pediu ação das entidades Fifa, CBF e Conmebol.

Apoio do Palmeiras e da Conmebol

No mesmo dia, em nota oficial, o clube manifestou apoio ao jogador e declarou que iria buscar a punição aos responsáveis pelo ato. “É inadmissível que, mais uma vez, um clube brasileiro tenha de lamentar um ato criminoso de racismo ocorrido em jogos válidos por competições da Conmebol”. 

Também em nota, a Conmebol, disse rejeitar “todo ato de racismo ou discriminação” e que iria implementar medidas disciplinares apropriadas”.

Em coletiva no dia seguinte (8), a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, disse que pediria a exclusão do Cerro Porteño da competição e que tomaria todas as medidas para que os responsáveis pela humilhação fossem punidos.

E o clube ainda publicou vídeo nas redes sociais com mais declarações de Luighi: “Não sei o que falar. No momento ali subiu um ódio na cabeça, até porque tinha muitos policiais do lado e isso que me deixou mais bravo, por eles não terem feito nada. Até fui lá neles. Mas fica o aprendizado. Na hora ali a gente fica bravo, perde a cabeça, mas tem pessoas assim desse tipo no mundo. Até quando a gente vai viver isso?”. 

E o jogador acrescentou: “O recado que eu mandaria é para as pessoas que fazem esse tipo de racismo, que parem. Porque você não está no corpo da pessoa que sofreu racismo. Às vezes, você fala, mas não sente que a pessoa transmite. É uma dor que eu peço para que poucas pessoas sofram, nenhuma na verdade. Mas muitas pessoas assim no mundo e até quando vão existir pessoas assim? E até quando o futebol vai admitir isso?”.

No Paraguai, racismo não é crime

João Paulo Sampaio, coordenador das categorias de base do clube, contou, também na sexta, que, logo após o episodio, Luighi foi acolhido pela equipe “para que se acalmasse”. Falaram com a polícia e com o terceiro árbitro, mas o time do Cerro queria que o jogo prosseguisse, o que deu a entender “que aquilo era normal” no país. 

No Paraguai, racismo não é crime como no Brasil, mas apenas uma provocação. A lei de 27/11, de 2024, destaca a prevenção e nenhuma sanção dura. Por isso, o caso na

“Foi devido à fala de Luighi, à sua emoção, que o caso reverberou no mundo todo [exceto no Paraguai]. Não pode ser comum”, disse João. “O autor da ofensa já foi identificado, vamos ver, mas no país não é crime, então a gente tem que esperar”. 

Sanções da Conmbol ao Cedro, criticadas pela CBF

Hoje (9), dois dias após a violência, a Conmebol anunciou punições contra o Cerro Porteñodevido aos atos racistas contra os jogadores Luighi e Figueiredo, do Palmeiras.

Não aceitou o pedido de exclusão da competição, feito pelo Palmeiras, mas multou o clube paraguaio em 50 mil dólares (R$ R$ 288,4 mil), multa que deve ser paga em até 30 dias da data da notificação ao clube.

A entidade também determinou que o Cedro Porteño jogará sem a presença dos torcedores, nas próximas partidas. E o clube ainda terá que elaborar e publicar – nas redes sociais – campanha para conscientização contra o racismo. Todos os jogadores do time deverão participar e ela só poderá ser veiculada após aprovação da Conmebol.

No entanto, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não ficou satisfeita com as medidas. Em nota divulgada nas redes sociais, declarou que a decisão “não combate com o rigor necessário a discriminação racial ocorrida, mas, lamentavelmente, incentiva a prática de novos atos criminosos ante a ineficácia das penalidades aplicadas”. A seguir, leia o texto na íntegra:

“A Confederação Brasileira de Futebol, embora ainda não tenha sido notificada sobre a denúncia que ofereceu em face do Club Cerro Porteño (Paraguai), em razão dos crimes cometidos pelos seus torcedores contra os atletas Luighi e Figueiredo da Sociedade Esportiva Palmeiras, vem registrar sua inteira indignação com a decisão da Comissão Disciplinar da Conmebol em razão da sua completa inefetividade.

A decisão não combate com o rigor necessário a discriminação racial ocorrida, mas, lamentavelmente, incentiva a prática de novos atos criminosos ante a ineficácia das penalidades aplicadas – sobretudo a um clube reincidente -, porque só atinge a equipe sub-20 do Clube denunciado que está muito provavelmente apenas a um jogo de encerrar sua participação na competição, tornando a já insignificante penalidade, sem serventia.

O racismo no esporte, além de ser uma afronta à dignidade humana, compromete os valores de respeito, inclusão e igualdade que devem nortear as competições esportivas”.

“Respeito, inclusão e união”, destaca o presidente da Fifa 

“É de partir o coração ver um jovem jogador ser levado às lágrimas por um comportamento tão vergonhoso!”, declarou hoje (9), Gianni Infantino, presidente da da Fifa (Federação Internacional do Futebol), nas redes sociais, solidário com o atleta.

Ao reforçar o compromisso da entidade contra ações racistas, ele prometeu implementar medidas mais rigorosas. “O compromisso vai além das palavras”, disse, reafirmando a necessidade de medidas rigorosas para combater o racismo e reforçar sanções para acabar de vez com o problema no mundo. A seguir, o texto na íntegra.

“Estou profundamente indignado com o abuso racista sofrido pelo jogador Luighi, do time sub-20 do Palmeiras, no Paraguai. 

É de partir o coração ver um jovem jogador ser levado às lágrimas por um comportamento tão vergonhoso. O futebol deve ser um espaço de respeito, inclusão e união e tudo começa com os jovens e a base.

A Fifa se mantém firme na luta contra o racismo. Nosso compromisso vai além das palavras – continuamos a implementar medidas rigorosas, reforçar as sanções e expandir os programas educacionais para erradicar a discriminação.

Luighi, nós o apoiamos e temos o compromisso de lutar por um futebol em que todos sejam tratados com o respeito que merecem”.

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Com informações do Globo Esporte (aqui, aqui e aqui); da CNN, Agência Brasil e UOL

Foto: Conmebol / divulgação ((digitalizamos as marcas)

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