
A experiência única que estamos a viver – ao longo da pandemia da Covid-19 -, trouxe muitas reflexões e a forte percepção da falta que sentimos do contato com o espaço aberto, o ar livre e a natureza.
Após algum tipo de flexibilização desse difícil isolamento, foi notável a busca das pessoas pelos benefícios dos espaços livres, onde se pode ter algum tipo de convívio social com mais segurança, ressaltando a importância dos parques, praças e outros espaços públicos urbanos.
Para as crianças, os parques e outras áreas naturais protegidas são lugares fundamentais para suas experiências com a natureza. Para muitas famílias, são os espaços mais seguros disponíveis e também a “natureza mais próxima”, são espaços de convivência familiar, de afeto e de pertencimento territorial. São ainda as áreas nas quais as crianças podem viver experiências de aventura, tão desejadas.
Simultaneamente, um consistente conjunto de pesquisas demonstra que o contato íntimo e significativo com a natureza durante a infância é um dos fatores que mais contribuem para que as pessoas apoiem sua conservação na vida adulta, ou seja, assim como as crianças precisam dos parques, estes também precisam das crianças.
Ou seja, é uma relação de enorme ganha-ganha. Mas como essas áreas podem receber mais e melhor os meninos e meninas que tanto precisam e se beneficiam de oportunidades de brincar ao ar livre?
As sugestões abaixo foram pensadas para ajudar as áreas naturais – parques, praças – a atrair e acolher o público infantil, acompanhado de sua família, e proporcionar experiências significativas e divertidas para todos. Afinal, trazer esse público para mais perto pode ter muito impacto num cenário onde o apoio da sociedade à conservação é cada vez mais essencial.
Parques Urbanos

Organize atividades voltadas especialmente para as crianças como saídas para observação de pássaros, atividades nas férias, contação de histórias e/ou passeios noturnos com lanternas.
Árvores de subir
Subir em árvore se tornou proibido em muitos espaços. O argumento é o mesmo – evitar os riscos. Tanto para as crianças quanto para as árvores. E com isso, afastamos umas das outras e tornamos rara uma das experiências mais típicas da infância.

Para muitas crianças, os parques e praças urbanos são os únicos espaços disponíveis para viver experiências como essa. Vamos avaliar como proporcioná-las? Uma sugestão é designar algumas árvores com muitos galhos baixos como “árvores de subir” e oficializar seu uso.
Em relação à segurança das crianças, os especialistas são claros: quanto mais evitamos riscos na vida da criança (riscos, e não perigos), mais elas se distanciam de aprender a percebê-los e de encontrar formas de lidar com eles.
Em novembro escrevi sobre isso, aqui no Conexão Planeta: O risco de dizer “não pode, é perigoso!“.

Parquinhos naturais
Substitua parquinhos tradicionais por parquinhos naturalizados, ricos em elementos como troncos, água, gravetos, areia, palha etc.
As pesquisas mostram que as crianças engajam-se em um brincar mais ativo, criativo e empático em parquinhos naturalizados, em relação aos equipamentos restritivos e monótonos, comuns nos parquinhos tradicionais. E sua manutenção também pode ser bem mais simples e barata.
Ofereça áreas para piqueniques e permita que as famílias as utilizem para festas de aniversário, como acontece no parque do Instituto Butantan, em São Paulo.
As fotos abaixo indicam exemplos:

em São Paulo, que caiu / Foto: Bebel de Barros

Foto: Bebel de Barros

Parques Estaduais e Nacionais
Áreas de acampamento
Há uma demanda não atendida de famílias que desejam acampar numa área natural. Afinal, poucas experiências agregam desafios, aventuras e descobertas como acampar ao ar livre.

Avalie a possibilidade de estruturar uma área de acampamento que atenda famílias com crianças, aproveitando o enorme potencial que o Brasil oferece para a atividade de camping.
Todos os Parques
Invista em ambientes acolhedores e inclusivos
Todas as crianças têm o direito de usufruir dos benefícios que os parques e áreas verdes proporcionam. É fundamental planejar ações que garantam o acesso delas a esses locais, identificando e eliminando as barreiras que impedem sua participação por fatores como gênero, raça, deficiência e classe social.
Preveja ambientes seguros, brinquedos adaptados, rampas de acesso e outras medidas necessárias para que todos possam usufruir dos espaços para brincar.

Faça parcerias estratégicas
Com associações de pais e mães e escolas do seu território. Convide-as para eventos especiais, para participar do Conselho da área natural e envolva-as como mobilizadores da conservação da área.
Participe de campanhas especiais como o Um Dia No Parque, iniciativa organizada pela Coalizão Pró UCs desde 2018, que celebra as Unidades de Conservação ao incentivar a visitação a essas áreas.
Realizada em julho, a campanha conta com atividades diversas em UCs de todo o país. Devido à pandemia este ano o Um Dia no Parque foi em outubro, com parte das atividades online.
Permitido x proibido
Sabemos que a gestão de uma área natural protegida é repleta de desafios, e o ordenamento da visitação é um dos mais complexos.
Tente equilibrar as proibições em relação ao que é permitido fazer. As pessoas precisam se sentir bem-vindas e uma lista muito grande de “nãos” pode atrapalhar a experiência dos visitantes.
Permita que a criança viva riscos benéficos
Devemos proteger as crianças? Devemos cuidar para que não se machuquem?
A resposta é sim. Devemos protegê-las, mas não a ponto de impedir que a brincadeira de livre iniciativa, a exploração dos movimentos e possibilidades do corpo e a superação de desafios aconteçam. A aprendizagem de administrar riscos possibilita inúmeros benefícios.
Entre eles, o de criar a força de vontade necessária para superá-los, de controlar o próprio corpo, de ser um pouco responsável por si mesmo. As áreas naturais são ambientes perfeitos para as crianças experimentarem os riscos benéficos que desejam viver.
Foto (destaque): Bebel de Barros
Parabéns pela reportagem. Nossos parques precisam de um novo olhar, seja enquanto equipamentos como playgrounds, seja em atividades permitidas. Na Europa vi tanto aniversários realizados em parques e museus como trilhas e playgrounds com elementos naturais. Outra coisa, em tempos de filhos únicos , faz todo sentido fazer playgrounds com riscos calculados para as diferentes idades em vez dos nossos clássicos, “proibidos para maiores de 12 anos.
Devido à pandemia, qualquer ação visando à alfabetização das crianças é bem vinda. Além da profissão não ser tão valorizada quanto merecia, aqueles que formam pessoas precisam estar sempre se atualizando para fomentar exemplos de pessoas bem-sucedidas no futuro.