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Tecnologia de ponta e dedicação integral: a luta para salvar onças vítimas do fogo no Pantanal

Tecnologia de ponta e dedicação integral: a luta para salvar onças vítimas do fogo no Pantanal

As onças Miranda e Antã foram resgatadas com um intervalo de cinco dias nos municípios de Miranda e Corumbá, ambos no Pantanal Sul, mas cada uma apresentava condições completamente diferentes. A primeira, uma jovem fêmea, estava escondida dentro de uma manilha em uma fazenda próxima à cidade que tem o mesmo nome que ela, há mais de 270 km de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, como contei neste outro texto.

Amuada, com dor e desidratada, a onça não reagiu à aproximação da equipe do Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal (Gretap). Foi sedada e depois de receber os primeiros socorros ali mesmo no meio do mato, foi transportada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres em Campo Grande (CRAS), em mais de três horas de viagem.

É uma sobrevivente. Conseguiu correr mais que as chamas, fugiu do incêndio e se mostrou frágil diante de quem poderia cuidar dela. Em meio a catástrofe do fogo no Pantanal, um comportamento animal, instintivo ou intencional, me chama a atenção. Eles se mostram, principalmente os de grande porte, como onças, tamanduás, antas… Parece que o bicho sabe que se ficar próximo a uma estrada, ou na margem do rio vai passar alguém e resgatá-lo. E quando chega o socorro eles já estão com tanta dor por causa das queimaduras, ou exaustos pela fuga, que pouco reagem.

Miranda, ficou assim, aguardando o socorro. No hospital veterinário, no CRAS, ela já dá sinais de recuperação. As patas queimadas estão cicatrizando.

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O tratamento é delicado e exige muito dos profissionais. Uma onça pintada não é um bicho de estimação, e fazer curativos não é tarefa fácil. É necessário primeiro anestesiar o animal e depois realizar os procedimentos. Essa sedação tem acontecido a cada quatro ou cinco dias.

“Miranda está evoluindo muito bem. Fizemos o último curativo nas patas e os parâmetros estão bons, ela está quase recuperada. Estamos usando ozonioterapia, laser e pomada para queimaduras“, revela Aline Duarte, coordenadora do CRAS. A onça já ganhou peso, e se continuar evoluindo tão bem, pode ganhar a liberdade e voltar para o Pantanal em breve.

Tecnologia de ponta e dedicação integral: a luta para salvar onças vítimas do fogo no Pantanal
Miranda, logo após o atendimento inicial
Foto: divulgação Ibama

Técnicas modernas e longas horas de dedicação

Nos últimos anos, a ozonioterapia, técnica que ativa o metabolismo celular, induz a síntese de enzimas antioxidantes e impede a morte das células, tem sido muito utilizada no tratamento de queimaduras de patas de onças-pintadas, como foi o caso, por exemplo, do macho Ousado, uma das vítimas dos incêndios no Pantanal em 2020 e que foi devolvido à vida livre após se recuperar plenamente.

“A ozonioterapia estimula a regeneração do tecido de granulação da pele porque o ozônio modifica a estrutura da célula aumentando a permeabilidade. Com isso as hemácias chegam mais rápido aos capilares, que é onde ocorre a troca de substâncias entre o sangue e os tecidos, algo essencial para a cicatrização. Então a função do ozônio é aumentar essa troca, em que chegariam 1 milhão de hemácias, mas com a ozonioterapia esse volume pode aumentar em até dez vezes, acelerando o tempo de cicatrização”, explica Paula Helena Santa Rita, médica veterinária e coordenadora de campo do Gretap. “Ela é importante para a recuperação porque fortalece a área da lesão com o colágeno produzido pelo organismo e promove a cicatrização, age no nível celular e regenera a integridade do tecido da pele.” 

O tratamento de animais queimados nos incêndios é individualizado, pois cada qual chega em um estado de saúde diferente e a escolha das técnicas para cuidar ds feridas depende do grau das lesões e da condição geral do indivíduo.

Tratamentos mais modernos estimulam a regeneração e a cicatrização mais rápida da pele
Foto: Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul

Miranda também recebeu nas patas a aplicação de laser de baixa intensidade, um procedimento complementar para estimular a biomodulação das células. O feixe de luz com energia bioestimulante ajuda na vascularização do tecido, estimula a produção de colágeno, cicatrização e ainda, reduz o inchaço e a dor, prevenindo infecções. A onça está cada dia mais forte e as feridas nas patas já apresentam um bom estado de cicatrização.

O macho Antã foi achado poucos dias depois de Miranda. Foi avistado por pescadores e estava nas margens do rio Corumbá, no Pantana sul. As equipes de resgate do Gretap e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul foram ao local e conseguiram sedá-lo. O estado de saúde dele é mais grave porque ficou mais tempo exposto ao fogo e à fumaça dos incêndios.

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Veterinários da UFMS e do CRAS fazendo exames iniciais em Antã
Foto: Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul

Antã estava muito magro, com lesão pulmonar e patas queimadas. Foi batizado com esse nome que, em tupi-guarani, significa forte, ágil. Uma alusão ao que ele deve ter sido antes do fogo chegar. O bicho tinha perdido muito peso, estava com 70 kg, quando na média para a idade e tamanho, deveria pesar pelo menos 90 kg.

Também levado para o hospital veterinário do CRAS em Campo Grande, Antã também está sendo tratado com ozonioterapia e laser nas patas, contudo, em razão do quadro pulmonar mais delicado, está tomando antibióticos.

“O Antã agora está com o estado de saúde mais delicado, chegou com lesões no pulmão, está magro e não ganhou muito peso, estamos intensificando o tratamento com ele. A cada sedação para curativos coletamos sangue para saber se os medicamentos estão sendo efetivos”, conta Aline.

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O primeiro passo no tratamento das onças é sempre a sedação, para que os profissionais
possam trabalhar de forma segura
Foto: Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul

Luta para salvar o maior felino das Américas

A determinação e a força desses animais para sobreviver aos efeitos do fogo e a dedicação dos profissionais que cuidam dessas onças e de outros bichos mostram uma outra face dessa tragédia ambiental: o esforço, os gastos e a busca por tecnologia de ponta em cicatrização e regeneração de tecidos.

Você pode estar se perguntando: por que tanto empenho para salvar uma ou duas onças?

Na verdade, cada indivíduo desses guarda em seu material genético a esperança de uma espécie. A onça-pintada (Panthera onca) está ameaçada de extinção. E esse animal esplêndido está no topo da cadeia alimentar. Sua alimentação inclui mais de 80 espécies diferentes.

Por ser o maior carnívoro da nossa fauna, a onça ajuda a manter o equilíbrio das populações de algumas espécies que fazem parte da sua dieta. Sem contar que ela precisa de grandes áreas preservadas para se locomover e viver. Então sua presença é um indicativo ambiental de que aquela região está conservada.

Quando a gente salva uma onça, está salvando a sua descendência e garantindo a sua existência. Em liberdade na natureza, ela vive em média 15 anos e pode gerar de 8 a 10 filhotes ao longo da vida. Para nós brasileiros, que somos os guardiões desta espécie – já que mais da metade das onças-pintadas que existem no planeta vivem nos biomas brasileiros -, Miranda e Antã são símbolos da resistência e da luta para proteger esses que são os maiores felinos das Américas e garantir sua permanência no Pantanal.

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Foto de abertura: Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul

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