PUBLICIDADE

Incêndios no Pantanal ficam 40% mais devastadores devido às mudanças do clima, aponta rede internacional de cientistas

Incêndios no Pantanal ficam 40% mais devastadores devido às mudanças do clima, aponta rede internacional de cientistas

Para identificar até que ponto as mudanças climáticas alteraram a probabilidade e a intensidade das condições do clima que alimentaram os incêndios florestais do Pantanal – e, também, como essas condições serão afetadas com mais aquecimento –, 18 pesquisadores de diversas universidades e agências meteorológicas do Brasil, Estados Unidos, Portugal, Holanda, Suécia, Países Baixos e Reino Unido, integrantes da World Weather Attribution (WWA) (rede internacional de cientistas do clima), se uniram. E acabam de lançar (8/8) o estudo Hot, dry and windy conditions that drove devastating Pantanal wildfires 40% more intense due to climate change.

De acordo com o documento, os incêndios no bioma ficaram 40% mais intensos e as condições climáticas – tempo quente, seco e acompanhado de ventos vigorosos -, causadas pelo aquecimento global, aumentaram a probabilidade de queimadas em quatro a cinco vezes.

De acordo com o brasileiro Filippe Lemos Maia Santos, pesquisador da Universidade de Évora, em Portugal, declarou, em nota divulgada pela WWA, “os incêndios deste ano no Pantanal têm o potencial de se tornarem os piores de todos. Espera-se condições ainda mais quentes ao longo deste mês e dos próximos meses, e há uma ameaça considerável de que os incêndios possam queimar mais de três milhões de hectares“. 

Isso representaria cerca de 30% do bioma, que tem extensão aproximada de 15 milhões de hectares. Vale lembrar que, em 2020, 3,9 milhões de hectares foram queimados no Pantanal, matando cerca de 17 milhões de vertebrados (como contamos aqui). Mas ainda estamos no meio do ano!!! E, apesar da felicidade que trouxe a chuva – que começou a cair ontem, com força, no bioma -, estamos apenas no início da temporada oficial de seca e temos, pelo menos, mais dois meses pela frente.

PUBLICIDADE

“Infelizmente, incêndios massivos estão se tornando uma nova normalidade no Pantanal. A área do pântano submersa por águas de inundação está diminuindo à medida que as temperaturas aumentam, tornando a vegetação muito mais seca e inflamável“, explica.

O risco de que os incêndios se intensifiquem cada vez mais resulta do aumento das temperaturas e da diminuição das chuvas e da umidade relativa do ar

Para se ter ideia da dimensão desse cenário, quando ainda não existiam alterações climáticas, condições similares a essas eram raríssimas, em especial no mês de junho. Podiam ocorrer a cada 160 anos, mas, agora, podem ser registradas a cada 35 anos, e a redução desse período também pode se intensificar. 

Além da ação humana direta na região (no início de julho, o Ministério Público do MS anunciou que 11 fazendeiros serão investigados por incêndios em Corumbá), que provocou a maior parte dos incêndios, as alterações climáticas estão intensificando os incêndios no Pantanal, como em muitas regiões do mundo.

O clima quente, seco e marcado por ventos fortes aumenta o risco de fogo tanto de início quanto de propagação

Um exemplo é o que aconteceu em 23 de julho, quando começou a segunda onda de incêndios no Pantanal. Ela foi desencadeada por um caminhão que atolou em uma estrada de areia. O motorista forçou o motor do veículo, que entrou em combustão e logo pegou fogo. As chamas saíram do controle e se espalharam pela vegetação seca, provocando grande incêndio na região da Nhecolândia, em Corumbá (MS). Devido à forte estiagem e aos ventos intensos, o fogo se espalhou rapidamente pelas áreas privadas de fazendas no bioma.

Incêndios no Pantanal ficam 40% mais devastadores devido às mudanças do clima, aponta rede internacional de cientistas
Brigadistas da PrevFogo em ação no Pantanal
Foto: Ibama/divulgação

Fósseis e desmatamento

Se continuarmos no ritmo em que estamos – principalmente em relação aos combustíveis fósseis – e chegarmos a 2°C acima dos níveis pré-industriais, a pesquisa aponta que tais condições, no Pantanal, podem se intensificar mais 17%, ocorrendo com frequência dobrada. Por isso, a substituição dos fósseis por fontes renováveis de energia e a redução drástica do desmatamento (chegando a zero, como o governo brasileiro almeja, até 2030) são imprescindíveis para diminuir o risco constante de incêndios.

Clair Barnes, pesquisadora do Imperial College London e coautora do estudo, explica que “à medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, o pântano esquenta, seca e se transforma em um barril de pólvora”

E ela alerta: “Isso significa que pequenos incêndios podem rapidamente se transformar em devastadores, independentemente de como se iniciaram”.

O Pantanal e o fogo

Pantanal é a maior área úmida tropical do planeta e um dos hotspots de biodiversidade do mundo. Lar de espécies ameaçadas como onças-pintadas, tamanduás-bandeiras, antas e lobos-guarás, abriga enorme variedade de espécies únicas (endêmicas), fornecendo serviços ecossistêmicos imprescindíveis para a região e para quem mora nela, garantindo os meios de subsistência de fazendeiros, agricultores e pescadores.

O pico da temporada de incêndios geralmente começa no final de julho e início de agosto e ocorre entre os meses de agosto e setembro, coincidindo com o período da seca. Mas, este ano, o fogo começou a devastar o bioma em maio (primeira onda), logo após longo período de estiagem (que deveria ser de chuvas), e não parou mais. 

Em junho, registrou a marca excepcional de 440 mil hectares queimados, cerca de 8% do Pantanal brasileiro. Essa área é quase 60% maior que o máximo registrado anteriormente – que foi de 257 mil hectares – e excede, em muito, a média mensal de cerca de 8.300 hectares. 

Esta semana, o LASA – Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgou dados assustadores: este ano, os incêndios no Pantanal já consumiram 1,3 milhão de hectares. E, em apenas 24 horas, o fogo devorou mais de 100 mil hectares, em Corumbá (MS).

E as sequelas são muitas. Além da vegetação nativa destruída, as comunidades indígenas e tradicionais são as mais afetadas: com suas terras são destruídas, as pessoas precisam se deslocar. A fauna também é sensivelmente atingida já que, com seu habitat devastado, falta comida e água. Brigadistas e outros voluntários têm feito de tudo para atender os sobreviventes.

E o turismo e a agricultura, atividades econômicas importantes na região, também estão ameaçados (lembrando que parte dos incêndios são provocados por fazendeiros irresponsáveis). 
_____________

Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular.

Foto (destaque): Gustavo Figueiroa/Instituto SOS Pantanal

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor
PUBLICIDADE
Receba notícias por e-mail

Digite seu endereço eletrônico abaixo para receber notificações das novas publicações do Conexão Planeta.

  • PUBLICIDADE

    Mais lidas

    PUBLICIDADE