Hoje, 4/12, é o dia do Brasil ganhar o Prêmio Fóssil do Dia na COP28, em Dubai! O motivo? Sua adesão à OPEP+, grupo que reúne os maiores exportadores mundiais de petróleo e mais dez países (entre estes, agora, o Brasil).
O antiprêmio é concedido diariamente (a partir do 3º dia) nas Conferências do Clima da ONU como uma forma de criticar e expor os países que fizeram o ‘melhor de si’ para bloquear o progresso nas negociações ou tomaram decisões que podem favorecer a crise climática.
Os primeiros a receberem o Fóssil do Dia este ano, em 3/12, foram o Japão, a Nova Zelândia e os Estados Unidos.
Para a Climate Action Network (CAN), organização que promove o prêmio irônico desde 1999 (na COP5, em Bonn/Alemanha), o país deve ter confundido produção de petróleo com liderança climática.
Quem representou o Brasil na cerimônia de entregue do prêmio foi Paulo Galvão, integrante da Engajamundo, organização jovem que integra a rede mundial da CAN. Ele recebeu o troféu das mãos do ativista Kevin Buckland, vestido de esqueleto (foto acima).
O troféu do Prêmio Fóssil do Dia traz o crânio de um tiranossauro em metal, com o logotipo do prêmio inspirado no do filme Jurassic Park – Parque dos Dinossauros (1993), de Steven Spielberg.
Antes do Brasil, a África do Sul foi agraciada com a menção honrosa do dia (foto acima), devido à “recente decisão de expandir operações em minas de carvão, violando compromissos de reduzir emissões de gases”. E o apresentador alertou: “É hora de voltar ao caminho certo antes de terminar no topo do pódio do Fóssil do Dia”.
Tiro no pé
“A empolgação na COP do ano passado, em Sharm el-Sheikh, no Egito, era palpável, com o Brasil de Lula prometendo ser um sopro de ar fresco na condição de campeão do clima”, lembra o Observatório do Clima.
Mas, no primeiro dia conferência em Dubai, nos Emirados Árabes, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, considerou apropriado anunciar a adesão à OPEP+, e que serão leiloados 603 novos blocos de petróleo, em 13 de dezembro, apenas um dia depois do término da COP28.
Que tiro no pé! Afinal, a corrida do Brasil pelo petróleo – ao contrário do que anuncia o presidente Lula quando fala de clima e cobra os países ricos – mina os esforços dos negociadores brasileiros, que estão tentando quebrar impasses antigos e agir com senso de urgência.
De acordo com reportagem publicada no site da Agência Pública, ontem, as emissões esperadas de uma das novas fronteiras de petróleo que o Brasil deseja abrir, a Margem Equatorial (que inclui blocos na foz do Rio Amazonas), simplesmente vão neutralizar os cortes de emissões alcançados com o desmatamento zero até 2030.
Terão os esforços empreendidos pela ministra do meio ambiente, Marina Silva, sido realizados mirando tal objetivo? Por parte dela, certamente não, já por parte do governo… Afinal, ao contrário do que declaram as empresas de petróleo, é impossível compensar a destruição de um ecossistema com uma boa ação.
“Brasil, não queremos um tour pelos campos de petróleo quando estivermos em Belém em 2025”, alerta o Observatório do Clima em recado para o governo brasileiro. “E, se você apenas quer se juntar a um clube, podemos sugerir que siga o exemplo do seu vizinho mais próximo, a Colômbia, assinando o Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis em vez da OPEP+ (explico sobre ele mais adiante).
“Ao reduzir o desmatamento em 22% em apenas 11 meses no cargo, o presidente Lula deu uma das contribuições mais significativas para mitigar o aquecimento global em 2023”, destaca Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima. “Porém, com um grande poder vem uma grande responsabilidade. Não se pode liderar o Sul Global contra a crise climática investindo no produto que a causa”.
O tratado “de Petro”
No segundo dia de COP 28, o presidente Lula confirmou a entrada do Brasil na OPEP+ e declarou: “Acho importante participar porque a gente pode convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis”.
Duas horas depois, o presidente Gustavo Petro anunciou que a Colômbia se uniu a uma iniciativa global que reúne países em defesa da eliminação de fontes fósseis de energia, as principais causadoras da crise climática (contamos aqui).
A Colômbia é o décimo país do grupo e o primeiro país latino-americano que deseja a efetividade desse tratado que, como sugere o nome, se baseia no Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
“Alguns podem perguntar: por que o presidente deste país [a Colômbia] iria querer cometer suicídio com uma economia que depende de combustíveis fósseis? Estando aqui, tentamos impedir um suicídio, a morte de tudo o que está vivo, de tudo o que existe. Isto não é suicídio econômico. Estamos evitando o ‘omnicídio’do mundo, do planeta Terra. Não há outra fórmula, não há outro caminho. Todo o resto é uma ilusão”, declarou Petro.
“Parece fácil, mas vemos como ao redor de petróleo e gás há um poderosíssimo interesse econômico, o mais poderoso do capitalismo, para estender, aí sim de maneira suicida, os anos mais que podem acumular de capital. Assinar o tratado não significa que ficaremos sem petróleo, carvão e gás; já existem combustíveis em exploração e há muitos contratos em vigor. O que não queremos é que eles se expandam ainda mais”. E finalizou:
“É preciso escolher entre o capital fóssil e a vida humana. Não tenho dúvida nenhuma: estou do lado da vida”, afirmou ele na ocasião.
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Foto: Climate Action Network/divulgação