O processo de certificação em bem-estar animal do projeto Voa Jacutinga do Parque das Aves, de Foz do Iguaçu, foi iniciado pela Associação Latino-Americana de Zoológicos e Aquários (ALPZA) em 2019, mas interrompido devido à pandemia.
Agora, finalmente, em 18 de outubro, foi anunciada a certificação do parque durante assembleia da instituição.
“Estamos muito felizes, pois essa certificação vem coroar nossos esforços de conservação de uma espécie muito emblemática da Mata Atlântica, a jacutinga (Aburria jacutinga), que vem sofrendo com o desmatamento e a caça e, por estes motivos, já desapareceu em algumas áreas de ocorrência iniciais”, conta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
Seu status é de espécie em perigo de extinção (EM): está presente na Lista Vermelha Global da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) e na Lista Nacional Brasileira, devido à perda e fragmentação de seu ambiente de ocorrência natural, à caça indiscrimada e à degradação da floresta.
Vale destacar que um dos motivos que desencadeiam tal perda é a superexploração de palmito-juçara (Euterpe edulis). Por isso, regionalmente, a jacutinga já é considerada extinta em algumas áreas.
“Felizmente, ela ainda ocorre no Parque Nacional do Iguaçu, localizado nas imediações do Parque das Aves, onde consegue se reproduzir de maneira segura, pois a área é protegida, e pode ser avistada pelos visitantes das Cataratas do Iguaçu com relativa frequência”, comenta Paloma.
Fora do Brasil, a jacutinga vive no Paraguai e Argentina.
O projeto
O projeto Voa Jacutinga, criado em 2000, segue padrões técnicos de excelência baseados no One Plan Approach, “uma abordagem integrada do planejamento da conservação de espécies com estratégias de manejo e ações que levam em consideração todas as populações da espécie”, explica Paloma.
Integra métodos ex situ (sob cuidados humanos) e in situ (no ambiente de ocorrência natural) a fim de aprimorar o status populacional da jacutinga.
Ao longo de 23 anos, quase uma centena de filhotes nasceu sob cuidados humanos.
“Aqui no Parque das Aves, trabalhamos a reprodução estratégica dos indivíduos de jacutinga, que são criados de forma natural pelos pais. Além disso, esses indivíduos crescem em ambientes dinâmicos e enriquecidos, que remetem ao seu habitat natural, favorecendo a oportunidade de desenvolverem comportamentos da espécie”, acrescenta Paloma, que completa:
“Tudo isso para que, quando sejam destinados à translocação – que é a reintrodução no ambiente de ocorrência natural -, esses indivíduos já estejam mais acostumados com as condições que vão encontrar nesse ambiente”.
O processo de certificação
O processo de avaliação do Parque das Aves foi bastante rigoroso, realizado por dois auditores, que avaliaram 111 itens em um dia de visita relacionados a nutrição, ambiente, saúde, comportamento, estado mental, registro de animais, saúde e segurança, instalações físicas e equipe.
Roberta Manacero, chefe das divisões de manejo e bem-estar animal da instituição explica:
“O processo de auditoria para certificação em bem-estar animal da AZAB avaliou itens chave do nosso trabalho com os animais que vivem no Parque das Aves, registrando cada um como ‘Aceitável’, ‘Questionável’ ou ‘Inaceitável’”.
A certificação
Se, no passado, zoológicos e aquários tinham, como objetivo principal, o entretenimento, na última década, essas instituições estão cada vez mais se transformando em centros de proteção ambiental, que atuam com conservação, educação ambiental, pesquisa e lazer, visando dar oportunidade ao público de ter contato com animais que dificilmente conheceriam de outra forma.
“A certificação em bem-estar animal da ALPZA garante que as instituições zoológicas certificadas proporcionem os mais altos padrões possíveis no cuidado aos animais”, explica Paloma Bosso.
A ALPZA certifica projetos de conservação desde 2010 por iniciativa de seu Comitê de Conservação. Seu objetivo é criar oportunidades para a revisão do desempenho das práticas de preservação adotadas por membros da associação, além de aumentar a visibilidade desses esforços.
Para a instituição, projeto de conservação é um conjunto de iniciativas que se mantêm ao longo do tempo e buscam a sobrevivência, em longo prazo, de populações e espécies nos respectivos habitats naturais. Para ser classificado dessa forma, o projeto inscrito deve atender a 16 itens e outros subitens. Só assim recebe a certificação.
Entre os requisitos exigidos pela ALPZA – e atendidos pelo Parque das Aves – estão oferecer:
- ambiente estimulante para os animais;
- ambiente de apoio para animais, funcionários e público;
- oportunidades educacionais de aprendizado sobre conservação, priorizar o bem-estar animal e seus hábitos naturais;
- colaboradores capacitados para prestar os melhores cuidados possíveis aos animais que abrigam;
- diversidade e quantidade de animais que nunca ultrapasse a capacidade que garanta elevado padrão de cuidado.
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Foto (destaque): Parque das Aves/divulgação