Há poucos dias escrevi sobre a descrição de uma nova espécie de bicho-preguiça na Mata Atlântica, encontrada nos estados do Rio de Janeiro e no Espírito Santo: a preguiça-de-coleira-do-sudeste (Bradypus crinitus).
Já havia uma suspeita muito antiga de que indivíduos classificados como sendo a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), na verdade, poderiam pertencer a uma diferente espécie. Então, uma revisão taxonômica desses bichos-preguiça, do subgênero Bradypus (Scaeopus), confirmou essa hipótese.
E desde então, a espécie que só ocorre na Bahia e no Sergipe passa a ser chamada de preguiça-de-coleira-do-nordeste.
Todavia, apesar das boas novas, uma análise liderada por Paloma Marques Santos, pesquisadora do Instituto Tamanduá e do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), alerta que medidas de proteção precisam ser tomadas para que essas duas espécies consigam prosperar nos ambientes onde vivem.
“As preguiças-de-coleira são altamente dependentes de florestas e irão precisar mais ainda desse habitat no futuro que se aproxima. Com as mudanças climáticas, as florestas podem ter um importante papel para diminuir os efeitos negativos desses eventos”, explica.
Segundo Paloma, anteriormente já havia sido constatada a importância desses ecossistemas para a espécie. Ela cita um estudo publicado em 2019, que identificava que essas preguiças necessitam de uma área com alta cobertura florestal para viver e como em áreas com poucas florestas elas não eram observadas.
Junto com outros pesquisadores, a bióloga analisou como o aumento de florestas de forma natural, ou seja, sem a interferência humana, podem atuar na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas de modo a manter áreas adequadas para ambas as populações – a preguiça de coleira do norte e a preguiça-de-coleira do sul.
“O estudo encontrou que as preguiças-de-coleira-do-norte estão em uma área altamente adequada, e que permanecerão assim no futuro, mesmo com as mudanças climáticas. Tais populações poderão ganhar mais 40 mil km² de áreas adequadas, se caso houver aumento de florestas”, diz.
Entretanto, o cenário para as preguiças-de-coleira-do-sudeste é bem preocupante. Só entre 2019 e 2020, o índice de desmatamento em áreas de Mata Atlântica no Espírito Santo chegou a 400%.
“Suas populações podem enfrentar uma grande redução de áreas adequadas. Estima-se que mais de 7 mil km² delas poderão se perder, caso nenhuma medida de regeneração florestal for tomada”, ressalta.
Antes da recente descrição da preguiça-de-coleira-do-sudeste, a então única espécie existente já era classificada como vulnerável à extinção. Mas após a revisão taxonômica, a recomendação dos especialistas foi de que uma nova análise sobre o estado de conservação de ambas fosse realizada, já que pela separação geográfica, as áreas de ocorrência são menores e isso pode significar que o risco é ainda maior.
Num artigo científico divulgado na publicação internacional Journal of Mammalogy, em que a análise é mais detalhada, os autores destacam que apesar de já existirem algumas reservas de proteção onde ocorrem as duas espécies, elas estão localizadas apenas numa pequena parte de áreas adequadas atuais e futuras. Eles afirmam que se faz necessária uma ação de restauração em larga escala para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e atingir, ao menos, uma área mínima de floresta para preservar, sobretudo, o habitat da preguiça-de-coleira-do-sudeste.
“É preciso que medidas de conservação visando o aumento de florestas sejam urgentemente implementadas e isso precisa ser feito agora”, alerta.
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Fotos: divulgação Instituto Tamanduá