
O biólogo Mário Moscatelli é conhecido por sua luta incansável contra os abusos que impactam o meio ambiente no Rio de Janeiro e por projetos de proteção como o Maguezal da Lagoa, que, em outubro, completa 33 anos.
Admirado por muitos, seu ativismo também tem rendido dissabores como intimidações por conta de ações em defesa da Lagoa Rodrigo de Freitas ou ameaças de morte – que o levaram a fugir do Brasil -, como aconteceu durante o trabalho realizado nos manguezais em Angra dos Reis.
O caso mais recente é a decisão da Justiça que o condenou a pagar indenização a um shopping da Barra da Tijuca acusado pela polícia ambiental de despejar esgoto na Lagoa da Tijuca e no manguezal, há três anos, em reportagens de emissoras de TV aberta.
Indignado com a prática nada responsável do centro comercial, na época Moscatelli decidiu repercutir a notícia em uma rede social, divulgando as informações divulgadas pela TV e cobrando a suspensão do lançamento de esgoto, além de “maior responsabilidade da empresa que administra o shopping e de seus responsáveis”.
No entanto, três meses depois, “o vazamento foi atribuído pela polícia ambiental a terceiro, excluindo do centro comercial a responsabilidade e eu fui processado por calúnia e difamação pela empresa”.
Após condenação em primeira instância, que aumentou o valor da indenização de 60 mil reais para 160 mil reais, Moscatelli recorreu da sentença e foi condenado em segunda instância.
“A justiça entendeu que extrapolei meu direito de expressão sendo obrigado a pagar 40 mil reais aos reclamantes”. Isto sem contar juros e correção monetárias e impostos, que elevam o valor para além de 70 mil reais.
O biólogo acatou a condenação, “apesar de discordar da mesma por considerar o processo e a punição resultado de algo que, do meu ponto de vista, eu não fiz”. E completa: “Se tivesse feito algo além de reclamar e cobrar, não teria dúvida em pedir desculpas e pagar pelo que fiz. Mas não é o caso, apesar da opinião dos magistrados”.
Como não tem como pagar o montante estabelecido pela Justiça, Moscatelli criou ontem, 4/4, uma página de financiamento coletivo – POR NOSSOS MANGUES E LAGOAS – para pedir apoio aos amigos, moradores e amantes da cidade.
A meta da campanha é de R$ 70 mil e até a última atualização deste texto (17h47), o valor total arrecadado era de RS 13.538. Faltam R$ 56.562 e 19 dias para a campanha terminar.
Os atores Mateus Solano, Malu Mader e Sergio Marone, o jornalista André Trigueiro e o diretor de cinema Estevão Ciavatta são algumas das personalidades que já aderiram ao movimento.
“Não sou caluniador, nem difamador! Presto um serviço ao meio ambiente”
No vídeo produzido para dar suporte ao crowdfunding, Moscatelli conta: “Sou responsável pelo projeto Manguezal da Lagoa que enfrentou grandes resistências, grandes degradadores. Mas, felizmente, depois de três décadas, a gente conseguiu reaver a lagoa como ecossistema e não como depósito de lixo e esgoto. Mas o preço pela defesa do meio ambiente é alto, mas a gente precisa enfrentar”.
A montagem fotográfica que ele divulgou em seu Instagram, no ano passado, mostra o resultado impressionante obtido com as ações de proteção nessa lagoa:
Moscatelli também destaca que “a Lagoa da Tijuca é uma belíssima, mas, das cinco que existem no Rio de Janeiro, é a mais impactada. Isso, por conta de décadas do descaso e da impunidade, que a transformou num verdadeiro monstro socioambiental: cada maré baixa exporta toda a degradação que a lagoa recebe para a praia da Barra” (na foto que ilustra este post, ele está sentado em um sofá encontrado na lagoa).
“Eu não sou caluniador, nem difamador! Presto um serviço ao meio ambiente do estado do Rio de Janeiro há mais de 30 anos, protegendo e recuperando ecossistemas“. E pede, “pra quem acompanha essa minha aventura, essa minha luta em defesa do meio ambiente, apoio para o pagamento da pena que me foi imposta”.
“Se fizer direitinho, o milagre acontece”
As cenas da degradação da Lagoa da Tijuca no vídeo da campanha são muito tristes, de dar um nó no coração. Mas, no final, ele diz uma frase que resume os motivos de sua militância:
“Se fizer direitinho, o milagre acontece”. E prova com uma imagem aproximada da margem da lagoa cheia de peixinhos. Um alento.
Mário Moscatelli é um dos biólogos mais respeitados e reconhecidos no país por seu ativismo. E também um dos mais temidos e visados por quem infringe diariamente as leis e despreza as belezas naturais do Rio de Janeiro, que não só favorecem e são usufruídas por seus moradores, como atraem turistas do mundo inteiro.
Te convido a assistir o vídeo curtinho da campanha, que reproduzo abaixo e, se admirar o trabalho de Moscatelli e puder, participar desta vaquinha online na plataforma Kickante. Além de compartilhar em suas redes sociais. Também entre amigos e familiares que moram no exterior e amam o Rio.
Mais abaixo, a título de ilustração, reproduzo o post que Moscatelli publicou hoje para fazer um apelo para que não se jogue lixo nas margens da lagoa. “Os animais confundem esses resíduos com comida e acabam morrendo”. Estamos em 2022 e ainda é preciso explicar isso.
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Foto: arquivo pessoal