Apesar de os olhos de milhões de pessoas estarem na Ucrânia neste momento, estamos longe de viver num mundo pacífico. Acontece que alguns conflitos são tão distantes e em países que não fazem parte das nações ricas do Hemisfério Norte, que acabam sendo menosprezados pela grande mídia. É o que acontece no Iêmen, uma das nações mais pobres do Oriente Médio, mesmo antes da guerra que já dura sete anos por lá. A Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) considera a situação lá a pior crise humanitária global.
Localizado na extremidade sul da Península Arábica, o Iêmen faz fronteira com a Arábia Saudita e Omã. Com cerca de 29 milhões de habitantes, atualmente 90% de sua população, ou seja, 24 milhões de pessoas, vive em condições extremas de pobreza por causa da guerra que começou em 2015.
Consequência da chamada Primavera Árabe, movimento que começou no final de 2010 em vários países da região, a guerra civil devastadora tem em sua raiz um conflito religioso. De um lado estão as forças do governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, no poder, apoiadas por uma coalizão sunita liderada pela Arábia Saudita. Do outro, está a milícia rebelde huti, de xiitas, respaldada pelo Irã (entenda melhor aqui). E no meio dessa guerra de interesses, já que o Iêmen fica no meio de uma das mais importantes rotas de petróleo do mundo, está a população paupérrima e completamente abandonada do país.
Nesses últimos sete anos, estima-se que 100 mil pessoas já tenham sido mortas – em janeiro de 2022, um civil foi ferido ou perdeu a vida a cada hora. Quatro milhões foram obrigadas a abandonar suas casas e um em cada três iemenitas precisam de ajuda para sobreviver pois não tem nenhum tipo de renda.
Recentemente, a atriz, diretora e ativista americana Angelina Jolie fez uma viagem de três dias pelo Iêmen. Conhecida por seu engajamento em causas humanitárias, nos últimos 20 anos já participou de dezenas de missões promovidas pela ONU em zonas de guerra e campos de refugiados.
Angelina se encontrou com várias famílias locais. Em comum, todas perderam suas casas e pessoas queridas. Não têm mais dinheiro para alimentar os filhos. As crianças não vão à escola ou têm acesso a qualquer tipo de serviço de saúde.
“O nível de sofrimento humano aqui é inimaginável. A cada dia que o conflito brutal do Iêmen continua, mais e mais vidas inocentes são perdidas e mais pessoas continuarão a sofrer. Vivemos em um mundo onde o sofrimento e o horror dominam as manchetes, mas onde essas manchetes podem resultar em demonstrações avassaladoras de compaixão e solidariedade internacional. Espero que essa compaixão e solidariedade sejam estendidas ao povo do Iêmen, que precisa urgentemente de uma solução rápida e pacífica para este conflito – e para outras pessoas deslocadas, quem e onde quer que estejam no mundo”, destacou a atriz. “Precisamos urgentemente encontrar soluções que permitam que os conflitos sejam resolvidos e que as pessoas deslocadas possam voltar para casa com dignidade e segurança.”
Na próxima quarta-feira (16/03) será realizada uma conferência que terá como foco a situação no Iêmen. A esperança é que os dois grupos responsáveis pelo conflito se comprometam com o fim dele e que o país receba mais ajuda internacional.
Se você quer ajudar o trabalho da Acnur no Iêmen, pode fazer doações através deste link.
Em 2003, Angelina criou a Fundação Maddox Jolie-Pitt no Camboja, dedicada à erradicação da pobreza rural extrema e à conservação da natureza. Ela visitou o país pela primeira vez três anos antes, durante a gravação do filme “Tomb Raider”, em que ela interpretou a personagem Lara Croft.
A ativista, que além da causa aos refugiados, advoga em diversas outras frentes, é mãe de seis filhos. Três deles são adotados: Maddox nasceu no Cambodia, Zahara Marley na Etiópia e Pax Thien no Vietnã.
*Com informações do site da Acnur e Council on Foreign Relations
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Fotos: © UNHCR/Marwan Tahtah
Meritório o trabalho dela. No momento o mundo não está respirando por conta da guerra Rússia/Ucrânia, morrendo um pouco, a cada vez que uma vida se perde, torcendo para que a paz prevaleça. Injustificável que negociações aconteçam sem uma trégua para o cessar fogo, não dá para entender isso. O coração das pessoas que acessam as noticias de tanta desgraça, já não suporta mais tanto sofrimento. Temos fome, temos frio e temos sede, também, de equilíbrio, acolhimento e refúgio. Desculpe , Angelina, uma guerra de cada vez por favor.