A cada dia, as quadrilhas especializadas em contrabando de madeira da Amazônia ficam mais ousadas.
No final de dezembro de 2020, a Polícia Federal do Amazonas confiscou mais de 40 mil toras de madeira nativa extraída desse bioma e a operação foi considerada a maior da história do país. O volume passava de 200 mil m3 de madeira, localizada na divisa entre Pará e Amazonas.
Essa operação da PF foi chefiada pelo delegado Alexandre Saraiva, criticado por Ricardo Salles, ministro do meio ambiente, na ocasião. Indignado, Saraiva chegou a declarar que nunca tinha visto um ministro defender criminosos e registrou notícia-crime contra o ministro no STF.
Saraiva foi afastado da superintendência da PF em seguida, com um detalhe: a investigação revelou irregularidades inquestionáveis.
Ontem, 25 de maio, esse recorde foi quebrado. O Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amazonas apreendeu, em Humaitá – município que fica a 590 quilômetros de Manaus – cerca de 600 mil m3 de madeira ilegal. É, portanto, a maior apreensão já realizada no estado e, por enquanto, este ano.
A ação integra a Operação Tamoiotatá, que teve início em novembro de 2020 e é formada por equipes de fiscalização coordenadas pelo Ipaam – Instituto de Protecao Ambiental do Amazonas. A área prioritária de atuação tem sido o sul do estado, que concentra a maior parte dos crimes ambientais relacionados a desmatamento.
De acordo com informação da Polícia Ambiental, a carga ultrapassava a quantidade de madeira informada nos documentos fornecidos à fiscalização.
Além disso, estava num porto localizado na zona industrial de Humaitá, que não tem alvará de funcionamento. O site G1 informou que os proprietários do estabelecimento devem responder por crime ambiental.
A Polícia Ambiental do Amazonas informou, também, que a madeira apreendida será entregue à Defesa Civil, para ser utilizada em ações de combate aos impactos das cheias na região.
Exportação ficou mais fácil
Esse tipo de crime cresceu desde que Bolsonaro assumiu a presidência. Mas piorou barbaramente a partir de fevereiro de 2020, quando o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim (atualmente afastado do cargo por ordem da justiça), atendeu a indústria madeireira e diminuiu a “burocracia” necessária para a exportação de madeira nativa no Brasil.
Em março do ano passado, madeireiros agradeceram ao Ibama, publicamente, pela medida.
Com a “flexibilização” dos documentos exigidos, bastava que os produtos florestais fossem acompanhados do Documento de Origem Florestal (DOF), por meio do Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor).
Desde 2011, para exportar madeira nativa do Brasil era preciso apresentar uma autorização específica, que incluía inspeções por amostragem e outros controles para a comercialização externa que o DOF não exige.
Na semana passada, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, tornou-se alvo de operação da Polícia Federal autorizada pelo STF. E o presidente do Ibama foi afastado.
Esta semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou que o Ibama volte a exigir a documentação completa para exportação.
Foto (destaque): Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amazonas/Divulgação