Parece até notícia velha, mas não é. Caso você não lembre, no final de agosto foi anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente a suspensão do combate a desmatamentos e queimadas na Amazônia, Pantanal e resto do país pelo Ibama e ICMBio por causa de bloqueios de verbas destes órgãos. Mas em poucas horas, o “mal entendido”, que mais parece ser uma luta de braço entre o ministro Ricardo Salles e o vice-presidente Hamilton Mourão, coordenador do Conselho da Amazônia, foi resolvido.
Ontem (21/10), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) divulgou uma nota determinando o retorno dos brigadistas que atuam no Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) para suas bases (veja documento ao final do texto).
Ainda de acordo com a nota, a determinação “… acontece em virtude da exaustão de recursos. Desde setembro, a autarquia passa por dificuldades quanto à liberação financeira por parte da Secretaria do Tesouro Nacional. Para a manutenção de suas atividades, o Ibama tem recorrido a créditos especiais, fundos e emendas. Mesmo assim, já contabiliza R$ 19 milhões de pagamentos atrasados, o que afeta todas as diretorias e ações do instituto, inclusive, as do Prevfogo”.
Questionado pela imprensa esta manhã sobre a decisão do Ibama em interromper o trabalho dos brigadistas, Mourão afirmou que irá esclarecer a situação com Salles.
O mais bizarro é que o ministro do Meio Ambiente participou ontem, em Brasília, da reunião do Comitê Interministerial sobre Mudanças do Clima, junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, e não mencionou o problema financeiro do Ibama, e nem que o instituto iria divulgar a nota horas mais tarde.
E segundo informou uma reportagem do portal de notícias G1, “de acordo com relatos dos presentes na reunião, entre os temas discutidos estava justamente a repercussão negativa no exterior das queimadas e do desmatamento, além da cobrança de investidores nacionais e estrangeiros”.
Hoje mesmo publicamos, aqui no Conexão Planeta, que a degradação da Amazônia aumentou quase 150% em setembro. E um dos principais fatores para a degradação das florestas é justamente os incêndios florestais.
Vale lembrar ainda que setembro foi o mês com o maior número de queimadas no Pantanal nos últimos 15 anos, um recorde histórico.
E nesse momento crítico, Ricardo Salles decide suspender o trabalho de brigadistas. Infelizmente, parece ser uma nova tática vil para desestabilizar ainda mais, os já sucateados orgãos de proteção ambiental do Brasil.
“A retirada dos brigadistas neste momento é absurda. Na Amazônia o aumento dos incêndios florestais está na casa dos 25% e no Pantanal então, nem se fala, onde mais de 25% do bioma foi afetado. Se o governo desse a justificativa que os incêndios estão sob controle e houvesse uma avaliação técnica, mas retirar porque o governo diz não ter recursos é um absurdo muito grande”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Segundo ele, o problema atual não é a falta de dinheiro, mas de gestão. “Não é um problema de orçamento, mas de execução em primeiro lugar. Inclusive, o governo está sendo processado no Supremo Tribunal Federal porque não usou mais de 1 bilhão de reais do Fundo Amazônia. Então, não falta dinheiro. O que estamos em falta é de governo”, destaca.
Em nota, a Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente afirmou que “É mais um absurdo deste governo que não prioriza recursos para prevenção e combate às queimadas, fiscalização ambiental, ciência e tecnologia, saúde e vacinação contra a Covid-19. Um governo que rasga dinheiro com o fim do Fundo Amazônia e agora diz que não tem recursos”.
*Durante o dia, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o dinheiro será liberado. E na sexta-feira, foi anunciado que o Ministério da Economia teria liberado o dinheiro e o Ibama divulgou nova nota informando que os brigadistas voltariam ao trabalho.
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*Texto atualizado às 17h30 para incluir declaração de Marcio Astrini
Foto: Christiano Antonucci – Secom – MT/Fotos Públicas
Cada dia mais claro que nao é uma tática de sucateamento dos órgãos, mas sim da natureza e das condições ambientais. Nem aí com nada, metendo fogo e desdenhando da nação.