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“Meu quintal é maior que o mundo”

Foto: Almanaque Curioso

Por todo o Brasil, onde quer que vamos ou com quem conversamos sobre a infância, muitas são as lembranças que os adultos têm sobre o espaço de brincar, geralmente um quintal. No quintal tem presença, imaginação, narrativa, relação, criatividade, mas também confiança, aconchego, proteção. Por ter seu contorno limitado e conhecido, permite liberdade na exploração.

Todas essas memórias coletadas nos contam que quintal é lugar de brincar livre, com hora pra nada e tempo pra tudo. Milhões de brincadeiras nascem a partir das narrativas imaginadas pelas crianças.

Quintal é lugar de muitas crianças brincando juntas. Sem limite de idade. Onde o pequeno é café com leite – está junto, vivendo as regras e aprendendo como brincar -, mas se errar não tem problema. Afinal, ele é café com leite. E quando crianças de idades variadas brincam juntas muito aprendizado nasce nessas relações.

Parceiros de brincadeiras

Bruna Hamer, uma das fundadoras do quintal Lá Vou Eu!, localizado em Bauru, interior de São Paulo, diz que, se tem algo que ela adora acompanhar, no dia a dia, são essas relações. Ela conta que tem gente que acha essa mistura estranha porque, em outros contextos da vida coletiva, as crianças são separadas por idade. “Essa relação entre muitas faixas etárias potencializa as experiências com o outro de uma forma tão intensa que transpõe a questão da idade”.

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Os adultos muitas vezes definem esta relação como se o grande fosse cuidar do pequeno e o pequeno aprender com o grande. Mas Bruna conta que vai muito além: “eles realmente são parceiros de brincadeira. O maior é exemplo para o menor, traz referências de estar no mundo. Os pequenos fazem com que o maior esteja em contato diário com “o olhar o mundo pela primeira vez”, e repetir as brincadeiras de que gosta. Os pequenos ainda ajudam na preservação das características da infância nos maiores”.

Bruna ainda cita Lydia Hortélio: “a fórmula de Lydia é Criança + Criança na natureza. Quando essa fórmula acontece não apenas as brincadeiras das crianças são mais profundas, quanto o olhar do adulto que acompanha também muda. Ter a oportunidade de viver as relações no quintal confirma a importância da parceria e da diversidade. É crescer com olhares, repertórios, saberes diferentes. É aprender com o outro. É encontrar muitos pontos de vista de um mesmo mundo.”

É nesse quintal interior das nossas memórias que podemos sentir um movimento surgindo para manter os quintais vivos. Ao redor do Brasil, muitos espaços repletos de natureza estão abrindo as portas para que as crianças os habitem e os tornem vivos.

Meu quintal é maior que o mundo

Carolina Paixão, é co-idealizadora do Almanaque Curioso, e junto com Tina Benavente mantém dois quintais em funcionamento: a Casa Curiosa e o Jardim Curioso, ambos na região de Florianópolis, em Santa Catarina.

Carolina contou pra gente sobre os quintais brincantes. Nos trouxe a reflexão de que não apenas o quintal é um lugar potente de conexão entre criança e natureza, mas também um lugar onde a criança vive sua própria natureza com curiosidade, liberdade, sensibilidade, investigação, exploração, e autoconhecimento. Além de estar num espaço natural, tem a oportunidades de viver a essência da infância.

O quintal é um espaço de relações com o mundo, com o outro, consigo mesmo. É lugar e não lugar. E, como Manoel de Barros bem sábio nos disse: “meu quintal é maior que o mundo”.

Gravamos nossa conversa, então, se você tiver curiosidade e quiser acompanhar, clique aqui.

Foto: Almanaque Curioso

“Meu Quintal saúda seu Quintal!”

Essa é a frase que sempre escutamos ao encontrar com nossa amiga Silmara Crozeta, de Campo Largo, no Paraná. Há 15 anos ela se dedica a manter viva a cultura do quintal na região de Curitiba, no mesmo estado. E transita com essa provocação por contextos escolares formais, espaços coletivos não formais e em seu espaço, que abriga periodicamente eventos quintaleiros. “A partir da experiência adquirida, percebi que o quintal mora dentro de mim e o levo para onde for!!”.

São muitos quintais em sua trajetória, e Silmara percebeu a importância de cada um ter a sua identidade. “Um país que tem, na sua biografia, a agricultura como moldura formativa da história nacional, pode e deve constituir, em seus currículos, temáticas inspiradas nos carreiros e terreiros das roças brasileiras, aprofundando a poesia, o cancioneiro, as crendices, as lendas e os personagens que traduzem e representam nossa cultura ancestral.

O quintal é um local para salvaguardar as infâncias brasileiras. Cada lugar tem sua história e seu modo de oferecer um quintal verdadeiro para as crianças.”

Quintais Brincantes, em setembro

Provocados por esse tema, o programa Ser Criança é Natural (que dá nome a este blog) se reuniu com o Espaço Voador, com O Jardim das Brincadeiras, de Guilherme Blauth (sobre o qual já falamos aqui, no blog), e com o Almanaque Curioso, de Carolina Paixão e Tina Benavente, para organizar o primeiro Quintais Brincantes, um encontro de imersão para reunir pessoas que estão pensando, fazendo e brincando os quintais brasileiros.

O evento acontece de 13 a 15 de setembro, em Atibaia, São Paulo e é um convite para educadores, famílias, brincantes e quem vive a cultura do quintal. Vai ser uma celebração da cultura da infância com muita natureza.

A programação inclui, além de atividades com os organizadores, vivências com Roquinho, Ana Thomás, Louise Tenuta, Libélula livros, Mayra Abbondanza, Theo Baleeiro e Renata Kherlakian. Serão dias inteiros dedicados a vivenciar, compartilhar, brincar muito e encontrar com muita gente inspiradora.

Para saber mais, vá à página do evento, onde você pode fazer sua inscrição.

Fotos: Acervo Almanaque Curioso

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Soraia.
Soraia.
1 ano atrás

MARAVILHOSO O BLOG, MUITO INSPIRADOR.

Adriana Herculano
Adriana Herculano
6 meses atrás

Muito bom, obrigada por partilhar suas memórias.

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