
Os dois filhos adolescentes da médica pediatra Marina Dantas, que aparece na foto acima, estão em casa, desde que as escolas de Salvador decidiram suspender as aulas por causa da pandemia do coronavírus. Seu marido também está em casa, fazendo home office. Mas a profissional de saúde continua com sua rotina normal: de segunda a sexta-feira trabalha em um pronto atendimento pediátrico.
Entretanto, apesar do dia corrido, Marina conseguiu disponibilizar tempo extra para ajudar ao próximo. “Peguei todos os funcionários do prédio individualmente e fiz uma pequena palestra com eles, dando recomendações de higiene para evitar a transmissão do coronavírus“, contou ao Conexão Planeta.
E não é só. “Também me disponibilizei a esclarecer dúvidas nos grupos de WhatsApp da escola dos meus filhos e de amigos sobre o vírus”, diz.
Marina é uma das muitas médicas e profissionais de saúde do Brasil que se uniu a uma enorme e linda rede de solidariedade, gratuita, que nos bastidores da pandemia, está levando informações com credibilidade para as pessoas.
No Facebook, vários médicos têm feito o mesmo. Tem postado o aviso abaixo e se colocado à disposição para ajudar.
É o caso do endocrinologista do Rio de Janeiro, Eduardo Micmacher, que soube da iniciativa pelas redes sociais e assim como diversos colegas de profissão, decidiu participar.
“Acho que na atual situação da pandemia aqui no Brasil, a quantidade de informação é enorme, causando confusão inclusive entre os profissionais de saúde. Imaginei que dessa maneira poderia difundir orientações seguras e evitar que as pessoas de um modo geral procurassem assistência médica nas emergências e postos de saúde sem necessidade, superlotando os serviços”, diz.

Mensagem do Facebook publicada por muitos médicos
Assim como as autoridades e os demais especialistas dessa área, Micmacher salienta a importância de manter as pessoas dentro de suas casas. “Ao fornecer orientações precisas, é mais fácil evitar que elas se exponham desnecessariamente, além de permitir que aqueles que realmente necessitem tenham acesso mais fácil e rápido. Vale lembrar que, além do COVID-19, os demais problemas de saúde seguem existindo e continua havendo a necessidade de assistência e orientação aos pacientes”, destaca.

Eduardo Micmacher alerta sobre a necessidade das pessoas
permanecerem em casa
Esses profissionais de saúde também têm tido sua rotina alterada. O endocrinologista carioca, por exemplo, conta que, com as recomendações de isolamento, optou por manter seu consultório fechado, mas mantendo orientação remota aos pacientes.
Micmacher também é professor universitário e trabalha como clínico geral três dias da semana no serviço público. “Tenho passado mais tempo em casa do que antes, mas atendendo à demanda daqueles que têm dúvidas sobre as melhores maneiras de combater à pandemia”.
Rotina de muito trabalho e tensão
Outro endocrinologista, João Guimarães Ferreira, que mora e trabalha em Resende, no Rio de Janeiro, também viu nas ferramentas digitais uma maneira de poder ajudar seus pacientes e amigos, mas sem tirá-los de casa.
“Tenho respondido a questionamentos e visto exames por WhatsApp e por e-mail, sem qualquer remuneração, visto que o melhor é que os pacientes fiquem em casa”, ressalta.
Ferreira, que atua na emergência tanto de hospitais públicos como privados, revela que neste momento, recebe uma gama enorme de perguntas.
O médico também tem dividido seu tempo no atendimento a pacientes de um presídio e se oferecido para fazer compras a idosos de seu bairro.

João Ferreira, no canto da esquerda,
pronto para um novo atendimento
Obrigação social
Diante da atual pandemia do coronavírus e tantas incertezas e dúvidas, os profissionais de saúde têm um papel essencial na nossa sociedade: ser uma fonte confiável e segura de informação.
“Temos uma função social importante de orientação. Existe muita informação equivocada e fake news, que geram pânico e contribuem para a desinformação”, afirma Marina.
Para ela, os profissionais de saúde com maior acesso a informações e capacidade de compreensão têm obrigação social de orientar a população com menos acesso e que têm dificuldade de compreender o que está ocorrendo e o que deve ser feito. “As pessoas de baixa renda estão no meio do fogo cruzado sem muitas informações”, alerta.
Apesar de estarem sendo vistos como “super-heróis”, os médicos admitem que vivem uma rotina de muita angústia e ansiedade.
“Nós estamos muito tensos com nossos próprios problemas. Risco de adoecer, perda financeira, preocupações com a família”, confessa Ferreira. “Apesar disso, temos que manter o equilíbrio e procurar tranquilizar as pessoas. Algumas são rebeldes e precisam de puxão de orelha, outras estão muito ansiosas ou deprimidas mesmo. Está no início, vai piorar muito ainda, mas já existe uma tensão muito grande”.
Assim como o resto da população, esses guerreiros da saúde também precisam “desligar” para manter sua sanidade mental. “Estabeleci horário para olhar noticiário, grupo de WhatsApp e mídias sociais, senão a gente pira”, revela a pediatra de Salvador.
Em tempos tão difíceis e incertos, não há como não se sentir grato ao esforço desmedido de milhares de médicos/as, enfermeiros/as e outros profissionais de saúde que têm feito de tudo – trabalhado horas extras, deixando suas famílias de lado -, para poder ajudar não apenas seus pacientes, mas amigos, vizinhos e conhecidos.
Fica aqui o nosso louvor a todos os Eduardos, Joãos e Marinas do nosso Brasil e do mundo todo! Que nas próximas semanas eles tenham muita força e saúde para enfrentar o que ainda está por vir!
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Fotos: arquivo pessoal