“Vem morrer aqui, porque Bororo sabe chorar seus mortos”
A frase é resultado de uma longa e comovente amizade desenvolvida entre o marechal Cândido Rondon e o chefe Bororo Oarine Okuneu, apelidado Cadete. Em muitas ocasiões, Cadete aconselhou o antológico indigenista a morrer entre “os seus”, os Bororo.
Rondon era bisneto de índios Bororo e Terena, por parte de mãe. Por ironia, o velho índio morreu antes de Rondon, no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1958, com 87 anos. Ele nasceu em Santo Antonio de Leverger, em 5 de maio de 1865.
A fotografia nos proporciona momentos interessantes quando colocamos não apenas conhecimento técnico, mas também transferimos para dentro da caixinha mágica, nossas emoções! Enquanto aguardamos aquele momento em silêncio, olhos atentos e num instante, click… E o instante é capturado na caixinha do tempo!
Os Bororo Orientais ou, como se auto denominam, Bóe, creem que as penas das araras representam a morada das almas. A beleza suprema representada pelas plumas e penas de diversos pássaros encontram-se na maior parte dos objetos de uso cotidiano do universo Bororo. O nome da etnia significa “pátio da aldeia, aquele que é restrito às crianças e mulheres”.
Neste ensaio, em dado momento, parei de fotografar e fiquei pensando que tinha algo errado comigo, fotografava freneticamente e, mesmo assim, não me sentia feliz. Não entendia o que acontecia. Era como se não fizesse parte do que tinha ido buscar.
Foi quando cerrei os olhos e tentando ver de perto uma pena de Arara que tinha caído no patio e eu carregava comigo. Como estava sem óculos (uso óculos para leitura), não enxerguei os detalhes da pena e a imagem ficou embaçada. Mas, ao olhar atentamente, as cores e as formas acrescentadas às luzes e sombras me deram a direção do que eu devia fotografar e de que maneira. Lembrei dos espíritos que caminham para outra dimensão como se fossem as penas de um gavião flutuando na direção do nada.
Daí, surgiu este ensaio, no qual o caminho está nas cores, nas formas, no espírito livre dos Boé!