Por Priscila Pacheco*
Um estudo publicado na quarta-feira (09/10) concluiu que furacões tão intensos quanto o Helene, que causou a morte de mais de 230 pessoas nos Estados Unidos, são hoje cerca de 2,5 vezes mais prováveis na região devido às mudanças climáticas.
As temperaturas elevadas do oceano, que alimentaram os furacões, tornaram-se de 200 a 500 vezes mais prováveis. O estudo também indica que, devido ao desequilíbrio do clima, a velocidade dos ventos do Helene na costa da Flórida foi aproximadamente 11% mais intensa, enquanto as chuvas aumentaram ao menos 10%.
“Como resultado do aquecimento causado pelo [uso] de combustíveis fósseis, o furacão despejou cerca de 10% mais chuva, criando cenas apocalípticas no sudeste dos EUA. Se a humanidade continuar queimando combustíveis fósseis, os Estados Unidos enfrentarão furacões ainda mais destrutivos”, afirma Ben Clarke, coautor do estudo e pesquisador no Imperial College London, na Inglaterra.
A pesquisa, realizada pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, na sigla em inglês), combinou três métodos distintos para a atribuição de eventos climáticos extremos e uma análise de vulnerabilidade e exposição.
O Helene começou a se formar no Mar do Caribe por volta de 22 de setembro. Ao atravessar o Golfo do México, onde a temperatura da superfície do mar está cerca de 2°C acima da média, transformou-se em furacão no dia 25. Em poucas horas, passou da categoria 2 (com ventos de 154 a 177 km/h) para a categoria 4 (com ventos de 209 a 251 km/h). No dia seguinte, atingiu a costa da Flórida com ventos de 225 km/h. A força de Helene gerou uma maré de tempestade recorde de até 4,5 metros, inundando áreas costeiras. O furacão seguiu por terra, provocando chuvas torrenciais que inundaram a Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Tennessee e Virgínia.
“Helene é um lembrete trágico de que não são apenas as áreas costeiras que são vulneráveis aos impactos de ciclones tropicais e furacões. Tempestades mais úmidas e mais fortes representam uma ameaça crescente em regiões mais distantes da costa”, alerta Gabriel Vecchi, coautor do estudo e professor na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. “É essencial que a sociedade não apenas se adapte, mas também reconheça que o aquecimento futuro e os impactos climáticos dependerão das decisões que tomarmos agora. Se reduzirmos significativamente as emissões de gases de efeito estufa, facilitaremos para as gerações futuras”, completa.
O furacão Helene danificou centenas de estradas, complicando a atuação dos serviços de emergência. Além de interromper o fornecimento de água, deixou mais de dois milhões de usuários sem energia elétrica. No domingo (06/10), a Agência Federal de Gestão de Emergências dos Estados Unidos (FEMA, na sigla em inglês) divulgou que mais de 10% da interrupção de energia ainda precisava ser resolvida, e quase 20% das redes de celular permaneciam inativas. A agência também informou que a assistência federal para os sobreviventes já havia ultrapassado US$ 137 milhões.
Em maio, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) alertou que havia uma chance de 85% de a temporada de furacões no Atlântico, de 1º de junho a 30 de novembro, ser acima da média. De oito a 13 tempestades poderiam se transformar em furacões, quando a velocidade dos ventos é de pelo menos 119 km/h. Até agora, nove já foram registrados: Beryl, Debby, Ernesto, Francine, Helene, Isaac, Kirk, Leslie e Milton.
Este último foi a segunda tormenta de categoria 5 (a maior na escala Saffir-Simpson, que mede a força de furacões) da temporada. Ele segue ativo e deve atingir a Flórida entre o fim da noite de hoje e o início da manhã de quinta-feira (10/10). Segundo a NOAA, o Milton tem o potencial de ser um dos furacões mais destrutivos já registrados no centro-oeste da Flórida, e na segunda-feira levou às lágrimas um apresentador do tempo de uma TV do sul do estado que mostrava imagens de satélite de sua trajetória.
*Texto publicado originalmente em 09/10/24 no site do Observatório do Clima
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Fotos de abertura: Observatório Europeu Copernicus