Primeiro, foi a foto que me chamou a atenção. Poucas vezes vi um peixe tão lindo e colorido. Simplesmente deslumbrante! Mas curiosa, fui ler mais sobre a novidade. E quando descobri que a Academia de Ciências da Califórnia estava envolvida na história sobre uma nova espécie, o nome de Luiz Rocha veio imediatamente à minha cabeça. O cientista e mergulhador brasileiro trabalha neste instituto dos Estados Unidos, dedica sua carreira a explorar e proteger recifes de corais nos oceanos pelo mundo e tem um grande projeto nas Maldivas.
Rapidamente enviei uma mensagem ao Luiz e ele me confirmou: sim, está entre os autores do artigo científico em que a nova espécie é descrita na publicação internacional ZooKeys. Na verdade, ele foi o primeiro a fotografar nas Maldivas o pequeno peixinho, que parece um arco-íris, com cores vibrantes de rosa, lilás e azul.
Luiz explica que na verdade o que se descobriu é que o Cirrhilabrus finifenmaa é uma espécie diferente daquela que se acreditava ser no passado. “Na realidade nesse caso não houve descoberta, era uma espécie que todos achavam que era outra. O que descobrimos foi que ela é diferente”, diz. “A original, a Cirrhilabrus rubrisquamis, das ilhas Chagos, foi descrita com base apenas em juvenis, e quando vimos fotos de adultos tivemos certeza que era diferente”.
Além de suas cores lindíssimas, o peixe Rose-Veiled Fairy Wrasse, é a primeira espécie descrita por um pesquisador local, o biólogo Ahmed Najeeb, do Instituto de Pesquisas Marinhas das Maldivas. “Sempre foram cientistas estrangeiros que descreveram espécies encontradas nas Maldivas sem muito envolvimento de cientistas locais, mesmo aquelas que são endêmicos das Maldivas. Desta vez é diferente e fazer parte de algo pela primeira vez foi realmente emocionante, especialmente ter a oportunidade de trabalhar ao lado dos melhores ictiólogos em uma espécie tão elegante e bonita”, celebrou ele.
As belíssimas cores do peixinho encontrado nas Ilhas Maldivas
(Foto: Yi-Kai Tea/Academia de Ciências da Califórnia)
O nome científico escolhido para batizar a nova espécie homenageia a flor nacional do país. Na língua nativa diveí, finifenmaa significa rosa.
Apesar de o peixe ainda ser visto em abundância nas águas das Maldivas e por isso não considerado ameaçado de extinção, Luiz alerta sobre seu futuro. “É preocupante quando um peixe já está sendo comercializado [em lojas de colecionadores] antes mesmo de ter um nome científico”.
Luiz Rocha é curador de Ictiologia (estudo dos peixes) da Academia de Ciências da Califórnia, em São Francisco. No site da instituição é apresentado como um “Herói da Ciência”. Não é difícil entender o porquê. Ele tem no currículo mais de 6 mil horas de mergulho e mais de 70 expedições científicas realizadas nos últimos anos. Já explorou as águas da Ilha de Páscoa, Micronésia, Polinésia, Mar Vermelho, Trindade e Fernando de Noronha.
Nascido em João Pessoa, onde surgiu seu amor pelo mar, é especialista em expedições em águas superprofundas, que podem chegar até 150 metros. Um de seus atuais projetos é justamente nas Maldivas, onde será o primeiro pesquisador a realizar um mergulho profundo nos corais da região. Sua expectativa é descobrir novas espécies e assim, promover sua preservação.
O biólogo Ahmed Najeeb, à esquerda, e o brasileiro Luiz Rocha, à direita,
em trabalho de campo nas Maldivas
(Foto: Claudia Rocha/Academia de Ciências da Califórnia)
Foto de abertura: ©Yi-Kai Tea/Academia de Ciências da Califórnia