Quando se pensa em extinções de animais, geralmente são os de grande porte que causam mais alarde e geram maior atenção: ursos polares, tigres, onças, elefantes. Mas longe de nossos olhos e do foco da mídia, pequenos seres, essenciais para a nossa sobrevivência, estão desaparecendo a um ritmo assustador. O alerta foi dado por um estudo elaborado por dez cientistas da Austrália, ao afirmar que uma a três espécies de insetos e outros invertebrados não-marinhos estão sendo extintos, a cada semana, no país.
Segundo eles, só em 2024, a estimativa aponta que entre 39 e 148 espécies de animais – vermes, caracóis, aranhas e insetos como besouros, abelhas e borboletas -, entraram em extinção na Austrália.
“Isso [a extinção] impacta todos nós, pois os invertebrados são a base de todos os ambientes saudáveis e de um planeta habitável. Eles fornecem inúmeras funções essenciais das quais as pessoas dependem, como polinizar plantações e decompor matéria orgânica“, diz John Woinarski, professor da Universidade Charles Darwin, e principal autor do estudo, divulgado através de um artigo científico. “À medida que perdemos invertebrados, a saúde de nossas plantações, cursos d’água, florestas e até mesmo parques locais e jardins diminuirá.”
O objetivo do estudo, intitulado “É assim que o mundo acaba; não com um estrondo, mas com um gemido: Estimativa do número e da taxa atual de extinção de invertebrados não-marinhos australianos”, era estimar o número de espécies de invertebrados terrestres (aqueles sem espinha dorsal) extintas desde a chegada dos europeus na Austrália em 1788. O resultado aponta que foram mais de 9 mil.
“Considerando incertezas e lacunas de conhecimento, nossa análise indica que o número real é de pelo menos 1.500 espécies e possivelmente até 60 mil extinções”, revela Woinarski.
Os autores do estudo ressaltam ser urgente que autoridades em todas as esferas apoiam ações de conservação e priorizem programas de monitoramento e proteção aos invertebrados. Eles destacam ainda que muitos desses animais estão desaparecendo antes mesmo de serem descritos, o que chamam de “extinções fantasmas”.
“Apesar de sua incrível importância, há um preconceito de longa data contra os invertebrados, com pouco financiamento disponível para sua pesquisa e conservação”, critica o pesquisador.
“Não precisamos aceitar essas perdas como inevitáveis. Há muito que podemos fazer para evitar extinções, inclusive protegendo habitats importantes e reduzindo ameaças, como o uso de pesticidas”, complementa Jess Marsh, aracnologista da Universidade de Adelaide, e um das co-autoras do artigo.
Para a especialista, o primeiro passo é conscientizar as pessoas da importância dos invertebrados. “Eles são como os alicerces do nosso mundo natural, e infelizmente, muitas espécies estão em alto risco de extinção, e muitas já foram perdidas.”
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*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação da Universidade Charles Darwin
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Foto de abertura: John Tann/Creative Commons/Flickr