Sebito-de-noronha e cocoruta. Estas duas espécies de aves só existem na ilha de Fernando de Noronha, no Brasil, e em nenhum outro lugar do mundo.
Falamos sobre o sebito (Vireo gracilirostris) nesta outra reportagem no ano passado – ele aparece na imagem logo mais acima. Ele tem cerca de 15 cm de comprimento e um tom verde-acinzentado nas partes superiores e marrom-claro, quase esbranquiçado, no ventre. Já o cocoruta (Elaenia ridleyana) é um pouco maior, cerca de 2 cm, com o pescoço branco e laterais e peito em tom acinzentado. A barriga é de coloração amarelada.
Apesar de serem vistos com frequência em Noronha, pesquisadores conhecem pouco sobre seus modos de vida, como informações sobre reprodução, alimentação e natalidade – tanto o sebito como o cocoruta são considerados ameaçados de extinção. De acordo com a Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), existem cerca de 1 mil indivíduos de ambas as espécies.
Para entender mais sobre seus hábitos e traçar melhores estratégias de conservação, a equipe do Projeto Aves de Noronha está mobilizando moradores e turistas que visitam a ilha para participar de um censo desses pássaros.
“Apesar de os avistamentos dessas duas espécies endêmicas da ilha serem frequentes, até o
momento não existem muitas informações sobre elas. Pouco se sabe sobre o período e o sucesso
reprodutivo dessas aves que estão em risco de extinção”, diz Cecília Licarião, coordenadora do projeto.
Para ajudar no trabalho dos biólogos, quem avistar alguma das duas espécies e seus ninhos deve enviar dados como localização, data e fotos por mensagem para o perfil do Aves de Noronha no Instagram ou via WhatsApp (81) 98204-9965.
“O envolvimento da população local e dos turistas, chamado de ciência cidadã, tem o objetivo de
contribuir com informações preciosas para a pesquisa”, avalia Cecília. “Sabemos que essas aves
fazem muitos ninhos nos quintais das casas. Nada melhor que os proprietários desses endereços
compartilharem conosco as informações. A circulação dos turistas também ajuda nesse processo de
coleta de dados”.
Os pesquisadores explicam que muitas aves já possuem tags e anilhas e assim podem ser identificadas para se saber como se locomovem, em quais espécies de árvores preferem fazer seus ninhos ou quantos anos vivem, por exemplo. “Dados como esse podem ajudar a atualizar o status de conservação das espécies e levantar novas necessidades de atuação para protegê-las”, ressalta a bióloga.
Até este momento, o censo de 2023 já registrou 28 ninhos e 18 deles estão em atividade.
O arquipélago de Fernando de Noronha abriga a maior diversidade de aves marinhas do país. São quase 90 espécies de aves que usam a ilha para descanso, alimentação e reprodução. Desse total, 17 são residentes, ou seja, moram no local e podem ser observadas durante o ano todo.
Imagem de um cocoruta
(Foto: Marco Cruz, CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons)
O Aves de Noronha é uma iniciativa do Instituto Espaço Silvestre e recebe apoio técnico e financeiro da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O projeto tem como objetivo preservar a maior diversidade de espécies de aves marinhas do Brasil, além de estimular a economia local, a ciência, a comunicação e o engajamento social.
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Foto de abertura: Heideger Nascimento/Projeto Aves de Noronha