Poucas pessoas viram tantas mudanças no mundo quanto o naturalista britânico David Attenborough. Nascido em 1926, posso dizer que, praticamente ao longo do último século, ele presenciou, de perto, os impactos da presença humana no meio ambiente. Com seu trabalho de apresentador de documentários e programas sobre a vida selvagem e seus habitats viajou por todos os continentes. Hoje, aos 95 anos, ele é uma das voz mais respeitadas quando o assunto é conservação e crise climática (ao entrar no Instagram, em setembro, ganhou 1 milhão de seguidores em apenas 4 horas – atualmente já são 58 milhões!).
A poucos dias do início da Conferência das Nações Unidas para o Clima, a COP-26, que acontecerá em Glasgow, na Escócia, e a qual Attenborough participará, ele falou sobre o que espera dos líderes globais que estarão lá reunidos, em uma entrevista ao jornalista David Shukman da rede britânica BBC.
Um dos pontos a serem discutidos é a responsabilidade das nações mais ricas em ajudarem financeiramente as mais vulneráveis a enfrentarem os efeitos das alterações no clima do planeta, que já são visíveis em vários lugares, através de secas históricas, ondas de calor extremo, tempestades catastróficas, enchentes e inundações.
O principal argumento dos que defendem essa medida é que as grandes economias, que foram as primeiras a poluir o planeta em busca de “desenvolvimento, deveriam apresentar metas maiores de redução das emissões de carbono. O que estaria na mesa de debate é uma contribuição de US$ 100 bilhões (R$ 560 bilhões) por ano dos mais abastados para aqueles que não têm recursos para se adaptar aos extremos climáticos.
“É provável que partes inteiras da África fiquem inviáveis — as pessoas simplesmente terão que se mudar por causa do avanço dos desertos e do aumento do calor, e para onde irão?”, questiona Attenborough. “Dizemos: ‘Oh, não tem nada a ver conosco’ e cruzamos os braços? Nós causamos isso — nosso tipo de industrialização é um dos principais fatores na produção dessa mudança no clima. Portanto, temos uma responsabilidade moral. Mesmo se não tivéssemos causado isso, teríamos a responsabilidade moral de fazer algo sobre milhares de homens, mulheres e crianças que perderam tudo, tudo. Podemos apenas dizer adeus e dizer que isso não é da nossa conta?”
Para o naturalista, as discussões já foram longe de mais. Aos 95 anos, sabe bem que tempo é algo precioso demais.
“O que os cientistas do clima vêm dizendo há 20 anos, e que o temos relatado, você e eu, é a realidade: não estávamos fazendo alarmes falsos… Mas a cada mês que passa, torna-se cada vez mais incontestável que as mudanças no planeta pelas quais somos responsáveis estão tendo esses efeitos devastadores. Se não agirmos agora, será tarde demais. Temos que fazer isso agora”, alerta. “Cada dia que passa é um dia perdido”.
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Foto: reprodução Facebook David Attenborough