A tendência de lançar produtos diferenciados para conquistar os consumidores de cervejas artesanais já produz conexões interessantes entre nossa biodiversidade e as grandes cervejarias. A Bohemia, por exemplo, lançou mão de três espécies nativas para dar sabor e textura a uma India Pale Ale, uma Belgian Blonde Ale e uma Witbier. Respectivamente batizadas de Jabutipa, Caá-Yari e Bela Rosa, as cervejas emprestam o sucesso culinário da jabuticaba (Myrciaria cauliflora), da erva-mate (Ilex paraguaiensis) e do frutinho da aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius), mais conhecido pelos chefs como pimenta-rosa ou poivre-rose.
Segundo o fabricante, na cerveja Jabutipa, um dos frutos mais famosos da Mata Atlântica do Sudeste faz o contraponto adocicado ao amargor do lúpulo extra, característico da India Pale Ale. É uma bebida “intensa, encorpada e geniosa”, recomendada para acompanhar mariscos, carne vermelha, queijos fortes (tipo gorgonzola e cheddar) e receitas picantes, como as mexicanas.
No caso da Caá-Yari, o caminho é inverso: a erva-mate nativa da Mata Mista de Araucária dos estados do Sul deixa as cuias de chimarrão para dar um toque de amargor à Belgian Blod Ale, tradicionalmente leve e adocicada. O resultado é equilibrado, mas com teor alcoólico um pouco mais elevado, que vai bem com mexilhões fritos e pratos condimentados.
Já a Bela Rosa é a opção mais suave e aromatizada, bem ao estilo da aroeira-vermelha, uma árvore de porte médio (até 10 metros de altura), da família do cajueiro, comum em toda a Mata Atlântica e também nas matas de galeria interioranas. A cerveja Bela Rosa leva cascas de laranja e coentro, mas é a pimenta-rosa que garante o diferencial de sabor e deixa a cerveja refrescante, boa para ser consumida com peixes, frutos do mar, aves, saladas e queijos (brie e camembert). Esta Witbier com um toque de Brasil ficou em segundo lugar na preferência do público, no Mondial de La Bière de 2014.
Apesar de seu sabor apimentado e da fama juntos aos gastrônomos, a pimenta-rosa não é realmente uma pimenta. Foi e ainda é muito usada como árvore ornamental em muitas cidades brasileiras, favorecendo diversos tipos de insetos por ser altamente melífera. As flores minúsculas e brancas são visitadas por vespas, borboletas e abelhas, incluindo a pequenina jataí (Tetragonisca angustula), uma de nossas menores abelhinhas nativas sem ferrão. O mel da jataí é reputado como medicinal, além de ser cortejado como “tempero secreto” pelos mesmos chefs apreciadores da pimenta-rosa.
O sabor da biodiversidade brasileira: cervejas artesanais feitas com três espécies nativas
Fotos: Liana John (flores de aroeira-vermelha) e arquivo Bohemia (cervejas Jabutipa, Caá-Yari e Bela Rosa)
Moro na rua do Pinguim, aqui em Ribeirão. Se tomei cinco chopes lá em mais de 20 anos, é muito. Mas depois dessa sugestão sua sobre o matinho, vou experimentar.
Quando vem da Porta-voz da Natureza, temos obrigação de ouvir!