Jambú na comida ou na bebida elimina até cálculos de vesícula

As receitas culinárias mais conhecidas, feitas com jambú (Acmella oleracea), são paraenses: tacacá (caldo de mandioca brava, goma de tapioca, jambu e camarões) e pato no tucupi (molho de mandioca brava e jambu cozido). Em muitas casas de ribeirinhos amazônidas, o óleo de jambú é tempero de cozinha e mesa. As versões gastronômicas mais urbanas incluem pizzas, refogados e até cachaça de jambú, devidamente engarrafada e etiquetada como produto artesanal da Amazônia, como a vendida no mercado de Porto Velho (RO).

Em todos esses pratos e bebidas, a marca registrada da planta é fazer os lábios tremerem e causar dormência na língua ou certa ardência, embora um pouco diferente da pimenta. Como alimento, o jambú é rico em cálcio, fósforo, ferro, vitaminas B1, B2, B3 e C.

Mas as folhas e os talos dessa erva de muitos nomes comuns têm outras serventias, sobretudo entre os adeptos dos fitoterápicos. Mascar jambú ou tomar o “lambedor” (infusão de jambú com chicória), por exemplo, minimiza vários problemas de boca e garganta, incluindo dor de dente. Chás e macerados ainda servem como poderosos diuréticos e ajudam a dissolver cálculos da vesícula biliar, conforme uso popular secundado pelo doutor em Química Orgânica e tecnologista sênior da Fundação Oswaldo Cruz, Benjamin Gilbert. A única contraindicação de consumo é para mulheres grávidas, pois o jambú provoca contrações do útero e pode ser considerado abortivo.

Entre os bioquímicos, vários pesquisadores trabalham para aperfeiçoar os processos de extração de componentes bioativos da espécie, com destaque para o espilantol, cuja fama se espalhou quando este composto passou a ser a base dos produtos antienvelhecimento da linha Chronos da Natura. Segundo divulgação feita pela empresa de cosméticos, o espilantol reduz microtensões da pele do rosto, contribuindo para eliminar rugas e suavizar linhas de expressão.

Na região de origem – Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela – o agrião-do-pará, agrião-do-norte, agrião-do-brasil, jambuaçu ou abecedária cresce em várzeas, até os 30 centímetros de altura, formando uma folhagem densa bem verde. As flores são amarelas e se autopolinizam (são hermafroditas). Como no caso do manjericão e da alface, existe uma variedade de folhas arroxeadas. E as inflorescências dessa variedade têm um pouco de rosa no centro.

Quando o espilantol começou a ser utilizado em maior escala pela indústria cosmética, surgiram plantios comerciais em outras regiões do Brasil, como Rio de Janeiro, no município de Trajano de Moraes, e São Paulo, em Pratânia, Ribeirão Preto, Botucatu e Jaboticabal. A planta é produtiva e pode ser cultivada em sistema de hidroponia, segundo informa o pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental. Na Bahia também se planta jambú, mas para uso religioso (candomblé) em banhos de ervas, com os nomes comuns de oripepé, pimenta-d’água ou pingo-de-ouro. Existem ainda cultivos em outros países, como Madagascar, Índia e China, entre outros.

Em resumo, trata-se de uma verdadeira espécie-curinga da biodiversidade brasileira, que merece ser melhor conhecida e mais apreciada entre nós!

Fotos: Phyzome/CCWikimedia (inflorescência de jambu)
           Izabel Cristina da Silva (cachaça de jambu, Porto Velho – RO)

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.