Até bem pouco tempo, uma subespécie específica da saíra-de-cabeça-azul só tinha sido observada uma única vez, em 1929, pelo naturalista alemão José Blaser, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Pouquíssimo se conhecia sobre a ave, já que havia apenas este indivíduo, coletado há quase 100 anos, e que pertence ao Field Museum of Natural History, de Chicago. O pássaro é considerado uma subespécie, a Stilpnia cyanicollis albotibialis.
Mas o novo encontro com a subespécie da saíra-de-cabeça-azul aconteceu absolutamente por acaso. No final do ano passado, em dezembro de 2020, o naturalista Estevão Santos e o biólogo Marcelo Kuhlmann realizaram uma expedição à Chapada dos Veadeiros para estudar a interação entre aves e a flora local durante um dos períodos mais propícios para esse tipo de observação, no início da época chuvosa. “Nessa época há vários tipos de frutos nas matas do Cerrado e árvores abarrotadas com eles que se tornam um chamariz para as aves e facilita a observação das espécies”, conta Santos.
Quando chegaram a uma propriedade, o dono da Fazenda Volta da Serra falou sobre uma trilha muito grande na área, dentro de uma mata de quase 500 hectares, e integralmente preservada. “Decidimos então explorar a mata e nas primeiras duas horas de caminhada nos deparamos com a saíra-de-cabeça-azul, na beira do rio São Miguel, comendo os frutos de uma pixirica (Miconia minutiflora), espécie de árvore muito comum no Cerrado. “Foi um encontro casual e fortuito”, diz o naturalista.
A redescoberta dessa subespécie de ave tão misteriosa para a ciência rendeu um artigo científico assinado por Santos e Kuhlmann no Bulletin of the British Ornithologists’ Club (BBOC). O naturalista explica que ela é considerada tão rara porque ficou muito tempo desaparecida e tem uma área de ocorrência muito restrita, sendo registrada até os dias de hoje apenas na Chapada dos Veadeiros.
“Ela é endêmica do Brasil e até agora só foi encontrada nesse local”, afirma Santos. Ele ressalta, entretanto, que a ave é uma subespécie da Stipnia cyanicollis, que tem ampla distribuição na Amazônia e nos Andes e é subdividida em sete subespécies.
A saíra comendo os frutos da pixirica
Tanto macho como fêmea possuem a mesma cor da plumagem das penas, de um azul extremamente vibrante na cabeça e o corpo preto com detalhes amarelados e alguns esverdeados na asa.
Como a mata onde a saíra-de-cabeça-azul foi avistada é muito grande, os pesquisadores suspeitam que podem haver mais indivíduos. “Pretendemos agora retornar àquela área nesse mesmo período de chuvas, talvez quando esse mesmo fruto que a vimos consumindo esteja frutificando, porque aí teremos chance de relocalizar novamente a ave e se há outros indivíduos na área”, revela o naturalista.
Ele ressalta ainda que é muito importante que moradores da região e observadores de ave também fiquem atentos e se mobilizem para tentar observar a subespécie naquela área e assim, obter mais informações sobre ela.
A redescoberta da subespécie após quase um século
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Fotos: Marcelo Kuhlmann
eu vi uma saira assim só que aonde essa é amarela a que eu vi é vermelha
tem uma cidade aqui no interio de pernambuco que acho que tem essa especie de passaro saira BELO JARDIM-PE