Em 1986, a Europa se viu como o epicentro do maior acidente nuclear de nossa história. Na época, o reator quatro da usina de Chernobyl, da cidade soviética de Pripyat, localizada na atual Ucrânia, explodiu e jogou uma enorme quantidade de material radioativo na atmosfera (400 vezes mais radiação foi emitida ali do que a lançada pela bomba atômica lançada em Hiroshima em 1945). Vários países vizinhos, como a Bielorrúsia, receberam a onda de contaminação.
O número de mortos pela tragédia é controverso. Sabe-se, entretanto, que milhares e milhares de pessoas foram vítimas da radiação, morrendo ao longo dos anos posteriores após o desenvolvimento de vários tipos de doenças.
Todavia, 36 anos após a catástrofe, a região de Chernobyl é habitada por ursos, bisões, lobos, cavalos selvagens, linces e mais de 200 espécies de aves. O local do acidente tornou-se uma das maiores reservas naturais da Europa, onde muitos animais ameaçados de extinção encontram refúgio. Simplesmente inacreditável.
Muitas áreas da antiga usina ainda apresentam diferentes níveis de contaminação radioativa e sabe-se que isso pode provocar mutações genéticas em seres vivos. Entretanto, o que cientistas têm estudo é como algumas espécies demonstraram uma estratégia de evolução para sobreviver no meio daquele ambiente.
Um exemplo disso é o sapo oriental (Hyla orientalis). Desde 2016 pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, estudam a espécie, que em geral apresenta uma cor verde, bastante brilhante, em seu dorso. Todavia, poucos indivíduos também são pretos. Mas no passado, em um número muito, muito menor.
Mas o que se percebeu foi que, após a explosão de Chernobyl, a população de sapos orientais pretos aumentou exponencialmente e hoje eles são a maioria ali, sobretudo, próximo às áreas que têm os mais altos índices de contaminação ainda hoje. A suspeita dos cientistas é que eles utilizaram a melanina para se proteger da radiação e passaram por um rápido processo de evolução para os padrões da natureza (que em geral, levam milhares de anos).
“A coloração escura é conhecida por proteger contra diferentes fontes de radiação, neutralizando os radicais livres e reduzindo os danos no DNA, e, particularmente, a pigmentação da melanina tem sido proposta como um mecanismo tampão contra a radiação ionizante. Nossos resultados sugerem que a exposição a altos níveis de radiação ionizante, provavelmente no momento do acidente, pode ter provocado a coloração mais escura nos sapos de Chernobyl”, dizem os autores do estudo, publicado na revista Evolutionary Applications.
As diferentes tonalidades de cores da mesma espécie de sapo encontradas no norte da Ucrânia
Os pesquisadores acreditam que os sapos pretos adquiriram uma melhor habilidade de sobreviver à radiação e com isso, se reproduziram mais.
Um sapo da espécie Hyla orientalis fora da área de contaminação de Chernobyl
*Com informações do site Phys.org
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Fotos: Germán Orizaola/Pablo Burraco, CC BY-SA