As cenas são chocantes e cruéis, mas é necessário que o mundo saiba sobre a atrocidade que acontece nas Ilhas Faroé, um território autônomo da Dinamarca, localizado no Atlântico Norte entre a Escócia e a Islândia. Divulgadas pela Captain Paul Watson Foundation UK (antes Sea Shepherd Reino Unido), as imagens mostram 83 baleias-piloto mortas. Através da perfuração em seus corpos foi possível descobrir que cinco delas estavam grávidas, pois os fetos estão visíveis. Ao lado do sangue derramado há também leite já que fêmeas estavam amamentando três filhotes. Todos mortos.
“O leite materno derramado no chão é um símbolo de tudo de errado com o grind”, escreveu a Captain Paul Watson em suas redes sociais.
A nova matança – mais de 500 baleias já tinham sido mortas entre maio e junho nas Ilhas Faroé -, faz parte do chamado grindadráp, ou simplesmente grind, o abate legal e promovido pelo governo local, que apesar de críticas e protestos internacionais, alega que a atividade é uma tradição milenar iniciada pelos povos Vikings e promoveria a cultura e o senso de comunidade entre os moradores e também, forneceria alimento (a carne das baleias), estocada durante vários meses.
Os corpos das baleias foram fotografados enfileirados num porto. Os animais foram mortos na praia de Torshavn.
O mais revoltante é que os grinds são realmente promovidos pelas autoridades da ilha. Quando um grupo de baleias é avistado próximo da costa, os pescadores são avisados. Para matá-las, barcos as encurralam e as forçam a ir até uma baía. Lá, quando encalham na água, são esfaqueadas.
As “regras” oficiais determinam que o abate dos animais deveria ser rápido e sem sofrimento. Os envolvidos na prática precisam fazer curso e ter uma licença. Mas a organização internacional, que acompanha essa “atividade” há anos, denuncia irregularidades e a matança desnecessária de um número enorme desses cetáceos.
Imagens de um grind realizado no mês passado
(Foto: divulgação Captain Paul Watson Foundation UK)
Governo determinou limite máximo de baleias mortas
Embora o grind seja legal nas Ilhas Faroé, o abate de quase 1.500 baleias em 2021 provocou revolta e choque mundial. Por isso, no ano passado, o governo anunciou que haveria um limite máximo de 500 desses animais mortos a cada ano (leia mais aqui).
De acordo com a ONG, apesar da justificativa de que essa é uma tradição local, uma pesquisa realizada em 2021 após o massacre de centenas de golfinhos constatou que mais de 50% dos entrevistados, moradores de Faroé, eram a favor do fim da caça.
Já um estudo de 2014 sobre o consumo de baleias nas ilhas descobriu que 47% dos participantes raramente ou nunca comiam carne de baleia.
A organização explica que pode apenas acompanhar a matança de longe, em águas internacionais, e está impedida de realizar qualquer tipo de protesto ou intervenção porque o grind é legal e os manifestantes podem ser presos e deportados, o que já aconteceu antes.
“Nossos registros são a principal razão pela qual o mundo está ciente da matança e, se nos for negado o acesso ao país, as baleias-piloto morreriam despercebidas e sem ninguém tentando impedir. Se pensássemos por um segundo que apenas uma única baleia seria salva se infringir a lei, nossos voluntários certamente o fariam”, ressalta a Captain Paul Watson.
A baleia-piloto (Globicephala macrorhynchus) é uma espécie do grupo dos golfinhos, mas pelo seu grande tamanho, pode chegar a 7,3 metros de comprimento e pesar mais de 3 toneladas, é chamadas popularmente de baleia.
O mar de sangue visto de cima
(Foto: divulgação Captain Paul Watson Foundation UK)
Foto de abertura: divulgação Captain Paul Watson Foundation UK