Foram 131 dias seguidos de vazão (início em 17/6) até que, na última quinta-feira (26/10), as águas do Rio Negro se estabilizaram em 12,7 metros e permaneceram assim até o dia seguinte. Em 28/10, começaram a subir, paulatinamente.
Em cinco dias, foram registrados 32 centímetros de subida: 5 no primeiro e no segundo, 7 no terceiro e no quarto e, ontem, mais 8 centímetros (acompanhe o Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Amazonas, atualizado pelo Porto de Manaus, responsável pela medição diária.
Repare na Ponte do Rio Negro (Ponte Jornalista Phelippe Daou), que conecta Manaus a Iranduba, no Amazonas: na vazante, nas fotos de abertura: na vazante, era possível ver a maior parte da estrutura inferior das estacas (imagem à esquerda). Hoje, a base já está novamente coberta pela água.
Com a retomada da subida das águas do Negro, ontem, a cota do Rio Negro estava em 13,02 metros. A medição de hoje ainda não foi registrada.
Vale destacar que, segundo o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) – ex-CPRM (Companhia Pesquisa Recursos Minerais) -, a subida das águas do Negro é resultado do processo de recuperação do Rio Solimões, que voltou a subir há cerca de duas semanas, na altura da cidade de Tabatinga, que faz fronteira com o Peru.
No início de outubro, a calha do Solimões, em Tabatinga, ensaiou sua recuperação, mas entrou em recessão rapidamente. Em função disso, o SGB previa que o rio voltaria a encher em novembro. Ele se adiantou um pouquinho.
Em 16/10, o Negro chegou a 13,59 metros, em Manaus, e sete dias depois, bateu novo recorde: ficou abaixo dos 13 metros (chegando a 12,7 metros, como indiquei no início deste texto).
Até então, a maior vazante histórica havia sido registrada em 2010 (foram 133 dias, de 13/6 a 24/10!), quando o rio chegou a 13,63 metros.

Para se ter ideia da dimensão do impacto da seca severa deste ano, quando o Rio Negro está cheio e preenche a orla do Porto de Manaus, chega a atingir entre 27 metros e 29 metros. Veja como ele estava dois dias depois da estabilização (foto acima).
Situação (ainda) crítica
Apesar da boa notícia, a situação dos rios ainda é crítica, ou seja, a subida das águas do Negro não significa o fim da vazante. Jussara Cury, pesquisadora do SGB, explicou em entrevista ao G1:
“Esta fase agora seria de estabilidade dos níveis que estão muito baixos e depende da permanência das subidas nas regiões do Alto Solimões e do Alto Rio Negro e do retorno do período de chuvas na bacia como todo”.
Afinal, esta foi a pior seca da região nos últimos 121 anos!
O nível de todos os rios da Bacia do Amazonas – entre eles, Solimões, Amazonas e Negro – estão muito baixos para a época ao ano e o processo de recuperação ainda deve sofrer influência do El Niño, que não deve se normalizar antes de dezembro.
Esse fenômeno climático eleva as temperaturas do Oceano Pacífico e, devido ao aquecimento anormal das águas, alterando de forma drástica as correntes de ventos e os padrões das chuvas, que estão atrasadas e mais fracas.
Por isso, especialistas apontam que esses rios deverão ter recuperação lenta.
E é bom lembrar que a atual seca histórica acontece dois anos após o Rio Negro registrar sua maior cheia, em 2021: 30,02 metros, em Manaus. Imagine se isso não tivesse acontecido…
Amazonas em estado de emergência
Por fim, é importante destacar que, mesmo com a estabilização e a subida dos rios Solimões e Negro, na última sexta-feira (27/10), mais duas cidades do Amazonas foram consideradas em estado de emergência.
Em 27/9, dos 62 municípios que compõem o Estado, 15 estavam nessa situação, 5 em estado de atenção e 40 em estado de alerta. Na época, somente Apuí e Presidente Figueiredo permaneciam com o status de “normalidade”. Agora, não mais.
Como contamos aqui, em 23/10, a Defesa Civil do Amazonas informou que havia mais de 600 mil pessoas afetadas pelos impactos desta seca histórica. Agora, são cerca de 608 mil, que representam 152 mil famílias.

Foto: Carlos Oliveira e Márcio Melo / Seminf / Fotos Públicas
Leia também:
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Fonte: Boletim do Porto de Manaus, G1, Agência Brasil
Foto: SGB/divulgação