Impossível ouvir o nome do cientista Ricardo Galvão e não lembrar do desrespeito com que foi tratado por Bolsonaro e Ricardo Salles, anti-ministro do meio ambiente, no primeiro ano de governo. Mas, certamente, o motivo que traz Galvão às manchetes agora nos ajudará a esquecer esse período obscuro para a ciência e a educação.
O ex-diretor do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foi nomeado presidente do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência federal de estímulo à pesquisa científica e de formação de pesquisadores em diversas áreas do conhecimento, com cerca de 80 mil bolsistas em universidades e institutos do país e no exterior.
A novidade já corria as redes sociais, mas foi anunciada oficialmente hoje, no site do governo, pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, ao qual o órgão é vinculado.
Em dezembro, quando foi anunciada para a pasta, a ministra Luciana Santos declarou que o reajuste das bolsas de pesquisa – congelado há nove anos! – é uma das prioridades do governo Lula e de seu ministério.
Hoje, pela manhã, no programa A Voz do Brasil, declarou: “Há uma determinação do presidente nesta direção. Vamos anunciar o montante e como vai se dar esse aumento o mais breve possível”.
“Voltaremos a ter investimentos em ciência”
Em 2019, Galvão foi exonerado da direção do Inpe (cargo que assumiu em 2016) por Bolsonaro, que o acusava de mentir sobre o aumento do desmatamento na Amazônia, indicado a partir dos dados de monitoramento dos alertas divulgados pelo órgão com total transparência. As detecções por satélite revelavam recordes na derrubada de árvores e Bolsonaro criticou sua divulgação no site do órgão, destacando que ela só “prejudicava o país”.
Visivelmente emocionado, durante a cerimônia de posse, hoje à tarde, Galvão fez críticas à gestão do ex-presidente:
“Há pouco mais de dois meses, derrotamos a truculência que existia em nosso país. Esta cerimônia é a comprovação de que a ciência sobreviveu ao cataclismo de um governo negacionista. Agora, voltaremos a ter investimentos em ciência e isso passa pelo fortalecimento do CNPq”.
E continuou: “O governo Bolsonaro empreendeu verdadeiro desmonte das políticas públicas em diversas áreas. No dia de hoje, viramos essa página triste de nossa história com a convicção de que a ciência voltará a promover grandes avanços para a nossa sociedade”.
Galvão também homenageou os funcionários públicos. “Eu tenho 51 anos de serviço público. Os servidores públicos são acusados de não fazerem nada e de não produzirem nada, mas vocês foram o sustento contra o governo que deixou o país. Sou muito agradecido a todos os servidores”.
Trajetória e prêmios
Formado em Engenharia de Telecomunicações pela UFF – Universidade Federal Fluminense, Ricardo Galvão é professor de física na USP – Universidade de São Paulo. Possui doutorado na área de física de plasmas pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), foi diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e presidente da Sociedade Brasileira de Física.
No ano em que saiu do Inpe, foi escolhido pela revista Nature como um dos 10 cientistas que mais se destacaram por suas realizações. Em 2020, figurou em nova lista, com outros três brasileiros: a da revista masculina GQ e que, nesse ano, mirou nos ativistas socioambientais: as 25 pessoas que podem salvar o mundo.
No ano passado, junto com o climatologista Carlos Nobre, Galvão foi homenageado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência, que oferece um dos mais importantes prêmios internacionais de ciência.
Foto: arquivo pessoal (reprodução/Instagram)
De volta aonde jamais deveria ter saído. O Brasil entrando nos trilhos!