“Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”, diz um ditado brasileiro. Mas os jogadores de sete seleções de futebol da Europa tiveram suas vozes caladas pela Federação Internacional de Futebol, a FIFA, que proibiu que seus capitães usassem a braçadeira “One Love”, com mensagem de apoio à comunidade LGBTQ+ e contra a discriminação no país sede da Copa do Mundo, o Catar, onde a homossexualidade é ilegal. Pois bem, com ou sem braçadeira, os atletas da Alemanha mantiveram seu protesto.
Nesta quarta, 23/11, antes do início da partida contra o Japão, os alemães colocaram a mão na frente da boca na hora da foto oficial. Mostraram que foram silenciados pela FIFA e pelo governo do Catar.
Em suas páginas nas redes sociais, que agora também tem não o brasão do time, mas o símbolo de paz e amor, a seleção da Alemanha compartilhou a foto com o texto abaixo:
“Queríamos usar nossa braçadeira de capitão para defender os valores que pregamos na seleção alemã: diversidade e respeito mútuo. Juntamente com outras nações, queríamos que nossa voz fosse ouvida. Não se tratava de fazer uma declaração política – os direitos humanos não são negociáveis. Isso deveria ser dado como certo, mas ainda não é o caso. Por isso esta mensagem é tão importante para nós. Negar-nos a braçadeira é o mesmo que nos negar a voz. Mantemos nossa posição”.
A campanha “One Love” foi criada na Holanda e abraçada por outros times europeus. As braçadeiras, que possuem um arco-íris, simbolizam um movimento pela inclusão, contra a discriminação e de apoio à comunidade LGBTQ+. Defende que o futebol é para todos. Elas seriam usadas pelos capitães da Inglaterra, País de Gales, Holanda, Alemanha, Suíça, Bélgica e Dinamarca.
Todavia, a FIFA afirmou que, caso vestissem a braçadeira, os jogadores seriam penalizados, com um cartão amarelo, mesmo antes do início da partida.
Em seu primeiro jogo, os ingleses se manifestaram então se ajoelhando antes da partida. Já tinham feito isso antes. É a sua maneira de se manifestar contra a discriminação e o racismo.
O governo da Alemanha também divulgou uma nota apoiando a decisão de sua seleção.
“Nossa equipe representa nosso país e nossa diversidade e nós, como governo, somos da opinião de que o esporte pode escolher de maneira autônoma seus próprios meios para fazer campanha por valores como diversidade e tolerância”, disse um porta-voz em uma coletiva de imprensa em Berlim.
Anteriormente a FIFA já tinha proibido a Dinamarca de usar uma camisa de treino com uma mensagem sobre os direitos humanos na Copa. A entidade alegou que o foco do evento é o futebol e não mensagens políticas (leia mais aqui).
A escolha do Catar como sede da Copa do Mundo sempre gerou críticas. Houve denúncias de corrupção durante o processo de escolha da FIFA, organizações de direitos humanos afirmam que 6.500 imigrantes morreram durante a construção dos estádios e outras estruturas para o evento e além disso, o país pune com prisão pessoas que têm relacionamentos homoafetivos.
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