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Jacinda Ardner e Tedros Adhanom estão entre as 10 pessoas mais influentes da Ciência na lista da Nature

Não se trata de um prêmio, mas da lista anual da respeitada revista britânica Nature, compilada por seus editores desde 1869, e que dá destaque aos principais acontecimentos da Ciência por meio de histórias inspiradoras e de grandes resultados para o bem-estar da humanidade.

Sempre cercados de colaboradores imprescindíveis para a realização de seu trabalho, os dez eleitos colaboraram em descobertas ou estratégias que contribuíram para resolver questões cruciais que afligiram o planeta.

Não por acaso, sete deles desempenharam papeis importantes no desenvolvimento da ciência relacionado ao combate da covid-19 e a pandemia, que dominou as vidas de todos no mundo e definiu o cenário de 2020.

Não se trata de um ranking, como também frisam os jurados da Nature, o que me deu liberdade para alterar a sequência apresentada pela revista em seu site.

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Este ano, não há nenhum brasileiro, como aconteceu em 2016, com a brasileira Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas da Fiocruz Pernambuco, que descobriu a relação entre a microcefalia e o vírus da zika; e, em 2019, com a indicação de Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe – Instituto de Pesquisas Espaciais, um dos cientistas mais respeitados do mundo quando o tema dados sobre desmatamento por satélite, que acabara de ser exonerado por Bolsonaro.

Agora, vamos aos indicados de 2020!

Tedros Adhanom Ghebreyesus: alertando o mundo

Foto: Reprodução vídeo

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde é um líder da saúde pública e enfrentou todos os desafios que se apresentaram para tentar unir o planeta contra esta doença devastadora. Adhanom foi reconhecido pela revista pela performance assertiva em meio a gravidade da situação e a tantas forças contrárias.

Foi reconhecido por sua diplomacia ao lidar com todos os países, entre eles os EUA de Trump e o Brasil de Bolsonaro. Só pra lembrar, o primeiro acusou a OMS, logo no início da pandemia, de falta de transparência no gerenciamento da pandemia. O segundo o ofendeu sempre que teve uma oportunidade, como costuma fazer com “os inimigos”.

É quase uma unanimidade entre pesquisadores e profissionais de saúde pública por ser acessível, trabalhar arduamente – arragaça as mangas! – e com empatia. Em 2018, o ebola voltou a emergir na República Democrática do Congo e Tedros visitou o país várias vezes, se colocando em grande risco. Durante a pandemia, o país registrou novo surto da doença: a OMS e profissionais de saúde locais se mobilizaram para impedir a propagação, vacinando cerca de 300 mil pessoas em meio ao conflito.

Adhanom é o primeiro diretor-geral da organização oriundo da África. Sua nomeação aconteceu em 2017, logo após um grande surto de ebola. Ele é epidemiologista e também especialista em saúde pública e relações exteriores.

Jacinda Ardern: um exemplo de líder na crise

Foto: Flickr/Wikimedia Commons

Em 8 de junho deste ano, a primeira-ministra da Nova Zelândia anunciou que a pandemia do novo coronavírus estava controlada e que o último paciente em tratamento havia recebido alta. Deu exemplo ao mundo.

Esse cenário foi resultado da adoção rápida de medidas rígidas de isolamento social, logo quando a pandemia foi anunciada pela OMS. Em 15 de março, havia somente 100 casos da doença e nenhum óbito, mas as fronteiras foram fechadas. Com a colaboração dos 4,8 milhões de habitantes, o país teve 1.504 casos confirmados e apenas 22 mortes.

Com um detalhe: no mesmo momento em que o governo anunciou o controle da pandemia, lançou a campanha A Journey of Reflection (Uma Jornada de Reflexão), como noticiamos aqui. A intenção era reconectar os neozelandeses ao mundo, estimulando a uma análise sobre a vida pós-coronavírus e, ainda, valorizando os princípios da cultura Māori.

Em relação à vacina, Jacinda anuncio, neste fim de semana, que todos os moradores da Nova Zelândia – como também os vizinhos de Nações do Pacífico – serão vacinados gratuitamente.

Aqui, no Conexão Planeta, somos fãs dela!

Anthony Fauci: defensor incansável da ciência

Apesar do comportamento irresponsável e negacionista de Trump e das ameaças de morte que sofreu, este famoso médico americano de quase 80 anos foi um importante assessor (e conselheiro) para o presidente americano no combate à pandemia da covid-19.

Sua atuação foi tão positiva e tão bem vista, que Fauci permanecerá como conselheiro de Joe Biden, a partir de janeiro 2021. Para a Nature, o chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, desde 1984, é um autêntico defensor da ciência.

Verena Mohaupt: patrulheira polar

Em uma missão sem precedentes no Oceano Ártico, em 2019 – um ano navegando e encalhando com o navio quebra-gelo de pesquisa Polarstern -, a cientista alemã especialista em logística garantiu a proteção dos pesquisadores contra ursos e o frio extremo. Não é incomum ela andar com um rifle a tiracolo. Veja alguns registros.

Gonzalo Moratorio: o caçador de coronavírus

O virologista uruguaio de 25 anos desenvolveu um teste de diagnóstico barato e eficaz que ajudou seu país a conter o coronavírus de maneira exemplar. Desde que a pandemia começou, morreram menos de 100 pessoas contaminadas.

O jornal El País fez uma linda reportagem sobre ele, na qual conta que, quando ele tinha 13 anos, ao assistir ao filme Epidemia (com Dustin Hoffman e René Russo), Gonzalo manifestou o desejo de trabalhar contra vírus e doenças contagiosas.

Nas horas vagas, ele gostava de “revolver problemas e inventar coisas inúteis”, o que lhe rendeu o apelido de Donatello, cientista da série Tartarugas Ninjas, pelos amigos.

Foi o único latino-americano reconhecido pela Nature.

Adi Utarini: um comandante contra um mosquito

Enquanto o coronavírus Covid-19 se espalhava pelo mundo, Adi mantinha o foco no combate a uma infecção mortal bem diferente: a dengue. E, em agosto, ela e sua equipe relataram uma grande vitória que pode ajudar a encontrar o caminho para derrotar a doença que atinge até 400 milhões de pessoas por ano. E, quem sabe, eliminar outras doenças transmitidas por mosquitos também.

Trata-se de um teste clínico randomizado para prevenir a propagação da dengue usando mosquitos portadores da bactéria Wolbachia. “Foi um alívio muito grande”, declarou a principal cientista do estudo na Indonésia, que é pesquisadora de saúde pública da Universidade Gadjah Mada (GMU) em Yogyakarta, onde o teste foi realizado.

Kathrin Jansen: líder da vacina contra a covid-19

Ela é chefe de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas da Pfizer. Esteve na liderança do desenvolvimento da vacina contra HPV e da vacina penumocócica. Com a pandemia, dedicou-se ao desenvolvimento de uma vacina contra Covid-19. E conseguiu!

“Este é um momento histórico”, declarou Kathrin ao NY Times. “Esta foi uma situação devastadora, uma pandemia, e embarcamos em um caminho e uma meta que ninguém jamais alcançou – chegar a uma vacina dentro de um ano”. Louvável!

Zhang Yongzhen: sequenciou o genoma da covid-19 em 40 horas

Nos últimos anos, o professor Zhang tem se dedicado a sequenciar milhares de vírus até então desconhecidos. Em 3 de janeiro, recebeu uma caixa de metal no Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai, que continha um tubo de ensaio embalado em gelo seco com cotonetes de um paciente que estava sofrendo de uma pneumonia nunca vista e que varria a cidade de Wuhan na China.

Com sua equipe, analisou as amostras usando a mais nova tecnologia de sequenciamento de alto rendimento para RNA. Em dois dias, depois de trabalharem por duas noites seguidas, terminaram de mapear o primeiro genoma completo do vírus que já matou mais de 1,69 milhão de pessoas e adoeceu quase 77 milhoes (dados atualizados do Coronavirus Research Center) da Johns Hopkins University & Medicine).

“Levamos menos de 40 horas, muito, muito rápido”, Zhang disse à revista americana Time, em uma entrevista exclusiva na ocasião. “Então, percebi que esse vírus está intimamente relacionado ao SARS, provavelmente 80%. Então, certamente, é muito perigoso”.

A batalha científica internacional contra o novo coronavírus começou oficialmente em 11 de janeiro, quando o virologista, após dias de hesitação, concordou em publicar seu genoma online, revelando que se tratava de um coronavírus semelhante ao que causou o surto mortal de SARS (síndrome respiratória aguda grave) em 2003. 

Só então é que os pesquisadores puderam estudar o genoma para investigar as proteínas-chave do vírus, produzir testes de diagnóstico e desenvolver vacinas.

Chanda Prescod-Weinstein: uma ativista contra o racismo

2020 foi um ano bastante agitado para Chanda, apesar da pandemia.

“Ela ganhou duas novas bolsas, contratou seu primeiro pesquisador de pós-doutorado e começou a co-dirigir um grupo que está mapeando as próximas duas décadas de pesquisa usando observações astrofísicas para estudar a matéria escura. Também terminou seu primeiro livro, iniciou outro, escreveu uma coluna mensal para a revista New Scientist, publicou dois capítulos em livros no campo da pesquisa educacional e orientou dois estudantes de graduação em suas primeiras publicações em seus programas de doutorado”, conta a Nature. Ufa!

Tudo isso ela fez em seu segundo ano como professora permanente na Universidade de New Hampshire em Durham. Mas ela fez mais e, por isso, figura na lista da Nature.

No início de junho, organizou, na companhia de outros cientistas, a campanha online Strike for Black Lives para exigir que as instituições científicas enfrentassem o racismo na ciência e o racismo anti-negro na sociedade. E, assim, Chanda viu a comunidade cientifica adotar a justiça social como parte de sua responsabilidade.

Num ano em que vimos a luta antirracista crescer, vale muito ler o perfil feito pela Nature.

Li Lanjuan: um arquiteto pelo bloqueio

Graças a esta epidemiologista, de 73 anos, a epidemia de covid-19 não se espalhou mais rapidamente pela China. Foi ela quem ordenou que Wuhuan – que tem uma população de 11 milhões de pessoas – fosse fechada. “Se a infecção continuar a se espalhar, outras províncias também perderão o controle, como Wuhan. A economia e a sociedade chinesas sofrerão seriamente”, disse ela em entrevista à TV estatal chinesa.

Transportes bloqueados dentro e fora da cidade, viagens canceladas e um lockdown que durou 76 dias e foi aplicado de forma agressiva. Muita gente reclamou, claro, mas o plano funcionou. Essencial para que a catástrofe não fosse ainda pior.

De olho, em 2021

Por fim, a revista ainda indica outros nomes para que fiquemos de olho em 2021. Quem sabe muitos deles – a maioria de mulheres! – estarão na próxima lista:
Marion Koopmans, da Erasmus University Medical Center, Rotterdam, Holanda: a virologista faz parte da equipe da Organização Mundial da Saúde que investiga as origens da pandemia do coronavírus;
Zhang Rongqiao, da Administração Espacial Nacional da China: o designer-chefe da missão Tianwen-1 Mars da China trabalhará para a realização da primeira exploração do planeta vermelho por sua nação;
– Karen Miga, da Universidade da Califórnia, Santa Cruz: esta bióloga co-lidera o consórcio Telomere-to-Telomore (T2T), que trabalha para produzir a primeira sequência verdadeiramente completa do genoma humano;
Rochelle Walensky, da Harvard Medical School, Boston, Massachusetts: o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, escolheu esta especialista em doenças infecciosas para administrar os Centros de Controle e Prevenção de Doenças; e
Jane Greaves, da Cardiff University, Reino Unido: esta astrônoma irá acompanhar a observação de sua equipe da fosfina na atmosfera de Vênus, um sinal potencial de vida naquele planeta.

Fotos: Tedros, da OMS (reprodução vídeo) e Jacinda, da Nova Zelândia (Flickr/Wikimedia Commons)

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