República Democrática do Congo declara novo surto de Ebola, em plena pandemia de coronavírus e de maior surto de sarampo do mundo

“Isto é um lembrete de que a COVID-19 não é a única ameaça à saúde que enfrentamos hoje”, ressaltou ontem, 1/6, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao anunciar que o governo da República Democrática do Congo (RDC) confirmou que o país passa por um novo surto de Ebola.

“Apesar de muito da nossa atenção estar na pandemia, a OMS continua a monitorar e responder a muitas outras emergências de saúde”, completou Ghebreyesus.

Os casos mais recentes são seis, com 4 óbitos, e estão concentrados em Mbandaka, província de Équateur, na região oeste do país, que fica no centro da África. Trata-se de um centro comercial por onde circulam 1,5 milhão de pessoas. Fica próximo ao rio Congo e mantém transporte regular para a capital Kinshasa, onde vivem cerca de 10 milhões de pessoas.

Somente de 2017 para cá, o país já sofreu três surtos. Foi em Mbandaka que o vírus surgiu pela nona vez, em 2018, matando 33 pessoas.

No leste do país, de acordo com a OMS, outro surto da doença está em fase final. O surto atual, portanto, é o 11o. na República Democrática do Congo, desde 1976, quando o vírus foi descoberto.

Emergência de saúde pública de interesse internacional

Entre 3 e 9 de fevereiro deste ano, três novos casos foram confirmados na cidade de Beni, na província de Kivu do Norte, na RDC. Mais de 2 mil casos estão em observação.

Em 12/2, a OMS decidiu manter o Ebola como uma “emergência de saúde pública de interesse internacional” porque seu comitê de monitoramento dizia que “existem surtos sérios e contínuos na República Democrática do Congo”, o epicentro da doença, e por isso “o país continua precisando de apoio” para combater as infecções.

Até 10/2, a situação do vírus Ebola na RDC estava assim: 3.431 casos suspeitos, sendo 3.308 confirmados e 123 prováveis, Morreram 2.253 pessoas (taxa de mortalidade em 66%).

Desafios num cenário de doenças

A situação é muito complexa e desafiadora porque, além da pandemia do coronavírus que, até ontem, de acordo com dados da OMS, contaminou 3.048 pessoas e matou 71 -, o país também passa pelo maior surto de sarampo do mundo que, desde 2019, já registrou 369.520 infectados e 6.779 óbitos.

“A OMS trabalhou nos últimos dois anos com as autoridades de saúde, o Centro de Controle de Doenças (CDC, em inglês) da África e outros parceiros para fortalecer a capacidade nacional de responder a surtos de Ebola“, contou a médica Matshidiso Moeti, diretora regional da organização para o continente africano.

“Para reforçar a liderança local, a OMS planeja enviar uma equipe para apoiar o aumento da resposta. Dada a proximidade deste novo surto a rotas de transporte movimentadas e países vizinhos vulneráveis, devemos agir rapidamente”.

Em seu Twitter, Moeti escreveu “O novo surto de ebola representa um desafio, mas estamos prontos para enfrentá-lo”.

A questão é que as expectativas não são muito auspiciosas, de acordo com projeções da OMS: são aguardados novos outros surtos de Ebola na RDC, pois o vírus vive em muitos animais em diversas partes do país, tornando sua erradicação praticamente impossível.

Entre 2013 e 2016, em países como Guiné, Libéria e Serra Leoa, no oeste africano, 11.300 pessoas foram vítimas fatais da doença. Em 2015, a OMS declarou o fim da epidemia de Ebola em Serra Leoa.

A República Democrática do Congo (ex-República do Zaire) também é designada como RDC, RD CongoCongo, RDCongo-Quinxassa ou CongoKinshasa para se diferenciar da vizinha República do Congo (perto da qual fica a região onde ocorre o surto de Ebola, agora) ou Congo-Brazzaville ou Congo.

Fotos: Martine Perret/ONU e S. Oka/OMS (hospital)

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.